O que é uma plataforma cooperativa?

Há algum tempo temos falado sobre cooperativismo de plataforma aqui na Coonecta. O assunto já foi tema de posts sobre democratização de serviços e novos modelos de negócios. Além disso, fizemos um webinar sobre plataforma cooperativa e ama missão a Nova York totalmente voltada ao tema.

Como você pode ver, o tema cooperativismo de plataforma é bastante recorrente. E nossa intenção é ampliar ainda mais essa abordagem. Afinal, acreditamos que muito ainda precisa ser falado e entendido sobre plataforma cooperativa. Este tema representa, sem dúvida, um universo de possibilidades não apenas para o cooperativismo, mas para a sociedade como um todo.

Isso porque as plataformas cooperativas se apresentam como uma alternativa às empresas da gig economy. Ou seja, a empresas como Uber, Spotify, Airbnb, iFood, Netflix, dentre outras. Qual o problema com essas empresas? A tendência a, primeiro, criar dependência para muitas pessoas e, depois, concentrar riqueza e poder de decisão. Por fim, ter políticas de captura e uso de dados pouco transparentes.

Com isso, essas empresas provocam graves distorções no mercado de trabalho. Uma plataforma cooperativa, por sua vez, evita isso. É o que vamos ver ao longo deste texto.

Se você quer saber mais sobre como o formato de plataforma cooperativa é uma alternativa a modelos de negócio potencialmente prejudiciais, confira tudo o que rolou no Cooptech 2019.

Antes de mostrar como funcionam, vamos ver como surgiram e o que são as plataformas cooperativas.

O que é uma plataforma cooperativa

Uma plataforma cooperativa é uma empresa que tem como inspiração a chamada economia compartilhada. Este conceito surgiu por volta de 2010 e tem evoluído desde então. De forma bastante simplificada, economia compartilhada é o uso da tecnologia para facilitar o acesso a bens e serviços.

Economia compartilhada

Pense, por exemplo, que você precisa pendurar um quadro na parede, mas não tem uma furadeira. Você poderia comprar uma, mas talvez não tivesse nenhum outro uso para ela nos próximos meses ou anos. Por que não, então, alugar? A resposta varia muito. Vamos nos limitar a dois exemplos: “a empresa que aluga fica longe” e “eu não sei usar uma furadeira”

Para o primeiro caso, a economia compartilhada conecta pessoas comuns. Assim, você poderia alugar de alguém que mora a uma quadra e que, em algum momento, também precisou pendurar um quadro e agora tem um equipamento ocioso em casa.

O segundo leva a uma evolução do conceito. Afinal, é possível compartilhar não apenas bens, mas conhecimento na forma de serviço. Mais especificamente, o advento da sharing economy (o termo original) permite contratar uma pessoa que tenha uma furadeira e a saiba usar.

É aí que a economia compartilhada fica mais sofisticada. Afinal, estamos agora falando do atendimento a demandas específicas. Voltando ao exemplo da furadeira, o que a pessoa precisava não era de uma furadeira, mas de um furo. Assim como é possível afirmar que poucas pessoas precisam de um carro. A demanda é por deslocamento.

Você pode argumentar que profissionais que realizam serviços gerais e taxistas existem há muito tempo, certo? Isso é verdade. No entanto, você precisaria conseguir o contato de um profissional específico, fazer um telefonema, contar com a disponibilidade dele e, por fim, correr o risco de ser mal atendido.

Com a economia do compartilhamento, você lança a demanda no sistema e ele retorna com as possibilidades. Você escolhe o profissional de acordo com sua necessidade e já sabe, de antemão, qual é a avaliação dos clientes anteriores. Esta comodidade faz toda a diferença.

E agora podemos voltar a falar sobre plataforma cooperativa.

Como surgiu o conceito de plataforma cooperativa

O termo plataforma cooperativa foi cunhado pelo professor Trebor Scholz, autor do livro “Cooperativismo de Plataforma – Contestando a economia do compartilhamento corporativa”. A edição brasileira foi traduzida para o português pelo advogado Rafael Zanatta. Este, um estudioso da LGPD, a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais.

Uma plataforma cooperativa é uma instituição cooperativa e tecnológica. Assim, atua como uma plataforma de serviços online. Em resumo, as plataformas cooperativas surfam exatamente a mesma onda que as empresas da gig economy.

Entretanto, orientadas pelos princípios cooperativistas. E isso também faz toda a diferença. É importante notar, ainda, que não é simplesmente uma derivação do cooperativismo devido ao advento de novas tecnologias.

O cooperativismo de plataforma representa o desenvolvimento de alternativas mais justas de negócios de economia compartilhada. Basicamente, uma plataforma cooperativa tem mais espaço para diversificação e promove melhor distribuição de benefícios.

Scholz traz alguns questionamentos. Por exemplo, a lógica de encaminhar para uma empresa do Vale do Silício os lucros de uma locação feita no Brasil por meio da plataforma de software Airbnb.

Pensando no funcionamento de uma plataforma cooperativa, esse modelo de negócios de compartilhamento pode ser aprimorado. Tudo para trazer benefícios àqueles que, de fato, estão prestando o serviço. Por meio dessa lógica, os motoristas seriam os verdadeiros donos da Uber e não os acionistas e fundos de investimento. Logo, os lucros seriam distribuídos de maneira mais justa e haveria uma política mais transparente para uso dos dados.

Possibilidades para plataforma cooperativa

De maneira geral, todas as frentes já atualmente exploradas pelas empresas da gig economy podem ser atacadas na forma de plataforma cooperativa. A Internet of Ownership (uma plataforma cooperativa) propõe três grandes grupos para atuação de plataformas cooperativas:

  1. Categorias mais específicas ou com atuação regional de startups maiores
  2. Trabalhadores que procuram evitar intermediários na exploração de aluguéis ou mão de obra
  3. Locação de bens de propriedade coletiva

Dessa maneira, a Internet of Ownership traz 15 ideias para plataformas cooperativas:

Transporte compartilhado

  1. Corridas compartilhadas, similar a Uber
  2. Mobilidade on demand, como locação de veículos

Trabalho sob demanda

  1. Apps de tarefas para trabalhadores autônomos, como tradutores, designers etc.
  2. Delivery de comida, similar ao iFood
  3. Dog walking
  4. Freelancer sob demanda
  5. Freelancers para desenvolvimento de softwares e sites

Música e artes

  1. Patrocínio direto, para apoio a músicos e artistas
  2. Casas de show
  3. Streaming, similar ao Spotify

Clubes de membros

  1. Coworking e clubes para membros, como a WeWork

Educação

  1. Cursos online, similares a Udemy e Coursera
  2. Aulas de música
  3. Aulas de programação

Mídia digital

  1. Redação de posts para redes sociais

Como vimos, existem muitas possibilidades. E há um Diretório que tem como objetivo listar todas as iniciativas do tipo que existem no planeta. Já há mais de 250 iniciativas de plataforma cooperativa no mundo. Elas estão espalhadas em 26 países, incluindo o Brasil.

Plataformas cooperativas no Brasil

A vertente de plataforma cooperativa ainda é pouco explorada no Brasil. Entretanto, Scholz acredita que quanto mais precária é a relação de trabalho de um país, maior é o interesse pela implantação das cooperativas de plataformas.

Dessa maneira, há muitas oportunidades principalmente nas áreas de educação, saúde e transportes no País. Entretanto, ainda há barreiras culturais à disseminação do modelo, que demanda distribuição do poder decisório.

Além disso, faltam instrumentos na legislação brasileira para apoiar o desenvolvimento de uma plataforma cooperativa. A Lei Geral das Cooperativas, por exemplo, impõe desafios, incluindo a participação democrática e o processo de tomada de decisões no contexto digital.

Ainda assim, há iniciativas de plataforma cooperativa no Brasil. Exemplo é a VouBem, de Maringá. Criado pela CooperDinâmica, a VouBem nasceu da insatisfação dos motoristas com as taxas cobradas pela Uber.

Outra iniciativa de cooperativa de plataforma é o Cataki, que se denomina como um app de reciclagem. A proposta do Cataki é aproximar geradores e catadores de resíduos, aumentando reciclagem e renda.

Consórcio para o cooperativismo de plataforma

Sediada em Nova York, a The New School conta com um instituto para fomentar a criação de cooperativas de plataforma. Lançado em maio de 2019, o ICDE (Instituto para a Economia Cooperativa Digital, na sigla em inglês) tem como função ser um braço de pesquisa do Consórcio de Plataformas Cooperativas.

Dessa maneira, o grupo apoia o modelo de plataforma cooperativa por meio de pesquisas, capacitações, consultoria legal, mapeamento de melhores práticas, suporte técnico e financiamento.

O Consórcio é uma iniciativa de Trebor Scholz e se configura como uma rede internacional que apoia a economia da plataforma cooperativa. A iniciativa já recebeu financiamento de 1 milhão de dólares do Google.

Conclusão sobre plataforma cooperativa

Vimos que uma plataforma cooperativa pode ser um meio para gerar emprego e riqueza para a sociedade. Este modelo de negócios promove o uso da tecnologia da mesma maneira que as iniciativas da gig economy. No entanto, com políticas de uso de dados e distribuição de lucros mais justas, evita distorções geradas por plataformas capitalistas.

Para saber mais sobre plataforma cooperativa, fique ligado no blog da Coonecta. Este é um dos temas mais tratados por aqui e em nossos eventos!

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Gustavo Mendes
Gustavo Mendes
Cofundador da Coonecta, especialista em curadoria de conteúdo para educação corporativa e marketing de conteúdo, palestrante e mentor em: inovação, cooperativismo de plataforma, cooptechs e empreendedorismo cooperativo