Cooptech 2019: inovação e plataformas cooperativas em foco

Você já deve saber que a primeira edição do Cooptech foi um sucesso, não é mesmo? Realizado pelo Coonecta em 28 de novembro de 2019, o Cooptech é o primeiro evento brasileiro sobre inovação no cooperativismo e plataformas cooperativas.

Com o Cooptech o Coonecta dá um passo muito importante na construção do ecossistema de inovação no cooperativismo.

Além de apresentar ao público o conceito de plataformas cooperativas, o Cooptech trouxe diversas palestras de elevada qualidade. O público conheceu cases de sucesso em inovação de todo o País e de diversos ramos do cooperativismo. Insights da missão a Nova York também foram tema de uma das apresentações.

Caso você não tenha tido a oportunidade de comparecer ao evento – ou tenha ido e queira relembrar -, agora vamos apresentar os principais destaques do Cooptech 2019.

Vamos nessa?

Alternativa à Gig Economy

A palestra de abertura do Cooptech foi de Gustavo Mendes, Co-Founder do Coonecta. Para ele, o cooperativismo, por meio da inovação e da diversidade, tem potencial para se tornar uma alternativa à gig economy.

Antes de continuar, é importante entendermos o que é gig economy. Empresas como Uber, iFood, Rappi, dentre outras, atuam a partir desse modelo. O conceito que pauta esta modalidade de negócios pode ser resumido como freelance economy. Ou seja, que proporciona trabalhos temporários, sem vínculos, e que podem ser realizados de forma intermitente.

Embora tenha trazido um sem número de possibilidades, a gig economy tem um lado bastante prejudicial. Afinal, em boa parte dos casos essas empresas tornam precárias as relações de trabalho.

Assim, o cooperativismo surge como um meio de potencializar os aspectos positivos da gig economy. Ou seja, a geração descentralizada de oportunidades e de geração e distribuição de renda. Tudo isso sem tornar árdua a vida dos trabalhadores.

Para demonstrar isso, em sua apresentação no Cooptech ele fez um paralelo entre o surgimento do movimento cooperativista, durante a revolução industrial, e a atualidade, a revolução digital.

Não haveria momento melhor, portanto, para o cooperativismo se renovar e se posicionar como alternativa à gig economy. Mais do que isso, como uma modalidade de negócio que proporcione na prática o que as maiores empresas do mundo pregam. Em resumo, sensação de pertencimento, engajamento e impacto social. Elementos que as grandes corporações nem sempre conseguem criar internamente, mas que fazem parte da essência do cooperativismo desde sempre. Mendes defende que é chegada a hora de as cooperativas assumirem o protagonismo dessa mudança.

Ecossistema cooperativo

Assumir o protagonismo desse movimento exige, na visão dele, a criação de um forte e vibrante ecossistema de inovação cooperativa. Ou seja, com stakeholders conectados e integrados.

O desafio, entretanto, é que não existem modelos prontos para montar esse ambiente propício ao cooperativismo. É preciso abrir canais para a comunicação tanto entre cooperativas quanto com as empresas do modelo tradicional.

O cooperativismo tem como desafio criar um ecossistema próprio, movido a pessoas e, principalmente, propósito.

Gustavo Mendes, cofundador da Coonecta, na abertura do Cooptech 2019
Gustavo Mendes, cofundador da Coonecta, na abertura do Cooptech 2019

Esta é uma das frentes do Coonecta, que ficou ainda mais clara com a presença de empresas e parceiros diversos no Cooptech. Como exemplo, contamos com a participação da líder do Hub de Inovação da 3M, do especialista em inovação Marcelo Nakagawa, de representantes do Sescoop e da OCB, do Mário de Conto, da Escoop, dentre muitos outros.

Além disso, Mendes trouxe insights da missão imersiva em cooperativismo de plataforma que o Coonecta realizou em novembro. Composta por 24 pessoas, a missão foi a Nova York com a intenção de conhecer a operação e as estratégias de inovação de cooperativas e empresas baseadas em plataformas cooperativas.

Saiba tudo o que rolou na missão do Coonecta a Nova York

Transformação digital e processos estruturados de inovação

Empresas cooperativas nem sempre contam com ambientes favoráveis à inovação. Há desafios à inovação inerentes ao cooperativismo. Logo, antes de mergulhar em cases e conceitos, foi preciso colocar as pessoas presentes no Cooptech 2019 no mesmo patamar de conhecimento.

Esta foi a missão de Marcelo Nakagawa, professor de empreendedorismo e inovação do INSPER e coordenador do Programa de Inovação da FAPESP. Ele estabeleceu parâmetros sobre o que é inovação e seus respectivos processos.

Assim, procurou desmistificar a inovação, mostrando modelos e ferramentas auxiliares. Além disso, falou sobre a importância de criar uma cultura interna propícia ao surgimento e aproveitamento de ideias.

Com isso, Nakagawa trouxe conceitos que permitem identificar pontos-chave para criação e otimização da cultura de inovação. Trouxe também elementos para iniciar o movimento de transformação dentro das cooperativas, com processos estruturados e aprimoramento contínuo.

Ao mesmo tempo em que despiu a inovação de místicas, ele fez um alerta. Para ele, dentro de alguns anos a inovação irá se tornar commodity tal qual a qualidade. Longe de ser um problema, ele entende que tal amadurecimento vai exigir que as empresas definam metodologias simples e ágeis para inovar. Tudo para que o mindset inovador seja rapidamente disseminado e gere valor palpável às organizações.

A lição que fica de sua apresentação no Cooptech 2019 é que a flexibilidade para se adaptar a processos ágeis de gestão é tão ou mais importante do que a inovação em si.

Inovação disruptiva

Para Nakagawa, engana-se quem pensa que a inovação disruptiva sacode o mercado do dia para a noite. Ele contou, em sua palestra no Cooptech 2019, que este tipo de inovação surge, em geral, de maneira discreta. Justamente por isso que as empresas já estabelecidas no mercado nem sempre se dão conta de seu potencial num primeiro momento.

O cruel é que, afirma ele, se as empresas não pegam a disrupção no início, dificilmente conseguem pegar depois. Tal efeito é consequência do que ele chama de mudança de era causada pela quarta revolução industrial. Agora, explica, vivemos uma era marcada por tecnologias exponenciais.

Mas este primeiro impacto também já está passando para Nakagawa. Agora, afirma, o desafio é proporcionar interações tão naturais com humanos que estes sequer percebam a existência de tecnologia por trás. Desta forma, prevê, deve ser intensificado o conceito de desmaterialização, em que os negócios deixam de se basear em ativos fixos físicos.

Marcelo Nakagawa em palestra no Cooptech 2019
Marcelo Nakagawa em palestra no Cooptech 2019

Não à toa, portanto, que um dos maiores trunfos das startups de sucesso é remover da vida das pessoas pequenos problemas com os quais elas muitas vezes já estavam até acostumadas. Em outras palavras, as empresas mais inovadoras têm partido do ponto de vista do cliente para se desenvolverem.

Elas empoderam ainda mais o cliente ao estabelecer a chamada “reputation coin”. Ou seja, dando aos clientes o poder da avaliação sobre a prestação do serviço. É um dos pilares da Uber e do Airbnb, por exemplo.

Ecossistemas de plataforma

Embora os exemplos citados façam intenso uso de tecnologia, este não é o ponto central de nenhum desses negócios. Eles giram em torno da premissa de plataforma. Em suma, dependem da criação de um ecossistema em torno das empresas.

Para exemplificar, Nakagawa citou a forma como Google, Alibaba e Amazon integram outras plataformas. Com isso, a entrega de valor para os clientes extrapola a ideia ou conceito inicial que determinou o surgimento dessas empresas.

Antes de as empresas questionarem como podem criar ecossistemas em torno delas, no entanto, precisam ter claro o conceito de inovação. E nesse sentido Nakagawa expôs quatro possibilidades em sua apresentação no Cooptech 2019.

  1. Inovação em conversa de boteco: qualquer novidade
  2. Na estratégia da empresa: a empresa precisa ter uma definição clara e é a alta direção que vai avaliar
  3. Na captação de recursos: a definição específica varia de acordo com o financiador
  4. Jurídica: caracterização da Lei do Bem nos projetos da empresa

Da mesma maneira, é preciso que as empresas tenham bastante claras as métricas em torno dos resultados esperados.

Para testar a capacidade de uma cooperativa de inovar, Nakagawa criou o Inovômetro. Ou seja, uma espécie de termômetro para avaliar o entendimento das pessoas e da organização sobre o que é inovação.

“Inovômetro” de Marcelo Nakagawa

A aplicação do seguinte questionário ajuda no entendimento sobre os processos de inovação. Além disso, orienta o envolvimento dos chamados 4 Ps para a gestão da inovação: Processos, Propósito, Pessoas e Políticas.

Confira o Inovômetro:

  1. Todos na empresa sabem definir inovação?
  2. A visão da empresa está alinhada com a inovação?
  3. As lideranças da organização estão preparadas para estimular o ambiente de inovação?
  4. Os objetivos da organização são desafiadores e ambiciosos para perseguir, ao mesmo tempo em que há uma tolerância ao erro daqueles que assumiram os riscos?
  5. A empresa reconhece resultados inovadores de maneira significativa?
  6. Sua empresa cultiva histórias que estimulam os funcionários a aprender e praticar inovação?
  7. A inovação é mensurada e avaliada sistematicamente?
  8. A empresa tem plataformas tecnológicas?
  9. Todos os departamentos da empresa estão sempre em contato com clientes, identificando oportunidades, analisando tendências de mercado e propondo novos projetos?
  10. Atividades são realizadas na organização para permitir o intercâmbio de conhecimento e colaboração entre as áreas, funcionários, unidades, clientes, fornecedores, parceiros etc.?

Inovação acessível

Nakagawa critica a associação da inovação a futurismos exagerados. Para ele, é questionável a eficácia de eventos que mostram inovações fora da realidade das empresas. “Muitas vezes você vai em evento de inovação e sai horrorizado vendo carro voador, taxi que vira drone e coisas do tipo”, explica.

Por isso, ele defende a “inovação arroz com feijão”. Ou seja, aquela que pode ser absorvida pelas empresas.

Como dicas para incorporar a inovação ele lista:

  1. Estudar
  2. Falar com outros heads de inovação. Em palestra está todo mundo feliz e tudo deu certo. Ao falar com as pessoas você vê os perrengues
  3. Conhecer os espaços de inovação, como coworkings e aceleradoras
  4. Identificar os facilitadores. Ou seja, quem da diretoria vai comprar a briga pela inovação
  5. Fazer imersão com a diretoria: leve os diretores para conhecer os espaços de inovação que você pesquisou
  6. Defina a estratégia
  7. Faça o lançamento da iniciativa
  8. Mostre os resultados, por menores que sejam

Outras dicas que Nakagawa deu ao público do Cooptech 2019 foram para não acreditar em milagreiros. De acordo com ele, inovação dá trabalho, tem riscos e exige mudança de comportamento. Ou seja, precisa mexer com as pessoas.

Além disso, para ele não é possível aplicar os mesmos métodos de inovação para todas as empresas, indiscriminadamente. Assim, é arriscado contratar consultorias que não fazem questão de entender a cultura já instalada na empresa.

ROI em foco

Por fim, para engajar e manter o apoio por parte da diretoria, a inovação precisa pensar em ROI (Retorno sobre o investimento). “Não adianta fazer algo de impacto mas que não traz resultado”, afirma.

Mesmo que o resultado seja pequeno no começo, ele acredita que é imprescindível que seja positivo. “A partir do momento em que entrega ROI, começa a fazer sentido e ser incorporada pela companhia”, explica.

Como recomendações para iniciar um movimento de inovação em qualquer empresa ele recomenda às pessoas ler os artigos “Corporate Venturing no Brasil: como fazer conexões entre grandes empresas e startups” e “The Fourth Industrial Revolution”.

Além disso, recomenda o filme “Fábrica de Loucuras”. A história se passa nos anos 1980, quando uma empresa japonesa referência mundial em qualidade se instala nos EUA. Ao tentar implementar sua cultura, as coisas dão muito errado porque o modelo mental era diferente e as pessoas não estavam preparadas para aquilo.

Cooperativismo de plataforma no Brasil

Como democratizar o acesso proporcionado pelo advento tecnológico sem deixar de lado os aspectos sociais mais elementares ao cooperativismo? Ou seja, como explorar as possibilidades da economia do compartilhamento sem aviltar a classe trabalhadora?

Uma das respostas mais quentes do momento é: por meio de plataformas cooperativas. E essa possibilidade foi tema do Cooptech 2019.

Este foi o tema do painel de debates Cooperativismo de plataforma no Brasil: insights, estado da arte e desafios à evolução. Participaram do bate papo Gustavo Mendes, Rafael Zanatta, especialista em tecnologia e tradutor do livro Cooperativismo De Plataforma, de Trebor Scholz, e Mario de Conto, Diretor Geral da Escoop (Faculdade de Tecnologia do Cooperativismo).

O debate tinha como meta abordar:

  • O que é cooperativismo de plataforma e as limitações do modelo jurídico de cooperativa no Brasil.
  • Deveres e garantias previstos no Marco Civil da Internet;
  • Os desafios de tratamento de dados de acordo com a nova Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais.
Da esquerda para a direita: Gustavo Mendes, Rafael Zanatta e Mario de Conto

Experiências em plataformas cooperativas

Além disso, trouxe experiências concretas de empreendimentos em tecnologia que assumem uma visão cooperativa. Em especial, os três debatedores, que participaram da Missão Coonecta a Nova York, trouxeram os insights lá coletados sobre plataformas cooperativas.

Dentre eles, como destacado por Zanatta, a iniciativa da prefeitura de Nova York para democratizar e tornar transparente a gestão dos dados disponibilizados nessas plataformas. “Querem que a inovação e o uso dos dados sejam mais democráticos para escapar da experiência trágica do Mark Zuckerberg, que atualmente dita os rumos do uso de dados”, diz.

Dentre os artifícios para criar esta frente está a Cornell Tech. Criada a partir de mais de US$ 800 mi em doações, tem como missão se tornar um polo de inovação e, com isso, fazer frente ao Vale do Silício.

De acordo com Zanatta, as plataformas cooperativas surgem como alternativa às plataformas capitalistas. A própria natureza destas, diz, leva à concentração de mercado e o mecanismo de saída é difícil para as demais empresas, especialmente as menores. “As plataformas estão orientadas para o efeito Winner takes it all. A ideia é criar monopólio”, analisa.

Em contrapartida, dentre os princípios do cooperativismo de plataforma estão processos decisórios democráticos e a propriedade compartilhada. 

De Conto, por sua vez, explicou que as cooperativas de plataforma se organizam entre as baseadas localmente e as baseadas na internet.

Em comum, elas apresentam capacidade de ter ganhos de escala em sua operação, com acesso a financiamento e governança digital.

Processos digitais como motores de inovação

Em sua apresentação no Cooptech 2019, o Head de Inovação da Lecom Tecnologia, Diego Mesquita, falou sobre a influência positiva dos processos ágeis para a obtenção de resultados a partir da inovação.

Para ele, é preciso que as cooperativas criem a consciência de que a transformação digital precisa ser concebida a partir das vantagens competitivas que cria para a empresa. “A tecnologia não gera diferencial se não houver consciência da cultura e do ecossistema”, afirma.

Nesse sentido, ele explica que é preciso saber como e para quem inovar. Dessa maneira, não há como dissociar inovação, eficiência operacional e Experiência do Usuário.

Inovação simples

“Se você quer inovar, não precisa fazer algo muito grande. Olhe a experiência do cliente e melhore ela em alguns pontos. As coisas que têm mudado o mundo são, em geral, simples”, assegura. Ou seja, para inserir a inovação no DNA da cooperativa é preciso, antes de tudo, entender as atividades realizadas. A partir daí, bastaria colocar o cliente no centro de tudo para agregar valor às entregas.

Entretanto, ele entende que isso pode ser complicado devido à estrutura hierárquica engessada do modelo tradicional. O principal motivo é que tal configuração leva a falta de flexibilidade para o cliente. Afinal, uma estrutura assim funciona como um trilho pelo qual a organização passa, mas não considera as relações dos clientes com ela.

Da mesma maneira que a estrutura engessa as relações, cria obstáculos à inovação. Logo, como primeiro passo à inovação em cooperativas ele sugere pensar em uma etapa de transição. Nela, o cliente passa a ser o centro da tomada de decisão e é preciso idealizar a entrega contínua de valor.

Esse processo gera, ainda, conhecimento antecipado do futuro, na visão de Mesquita. Isso porque proporciona às empresas errar e aprender de forma rápida e barata. Ao fim da transição, aposta ele, a inovação passa a ser um processo incorporado à cooperativa.

Mais 360º: o programa de inovação do Conglomerado Bancoob

O lançamento de um espaço físico para inovação, o Lab 360º, foi o gatilho para o lançamento do programa de inovação interna do Conglomerado Bancoob.

Como não faria sentido ter um espaço dedicado a laboratório sem conteúdo, o banco lançou o Mais 360º. “Aproveitamos o hype gerado pelo novo espaço para impulsionar o programa”, explicou Rodrigo Guimarães, Gerente de Gestão da Inovação do Conglomerado Bancoob em sua palestra no Cooptech 2019.

Dessa forma, 155 ideias foram enviadas na primeira edição, sendo que 30% dos colaboradores foram diretamente impactados. “A jornada, inspirada no ciclo de vida de uma startup, gerou vários aprendizados e importantes lições sobre a inovação no cooperativismo”, explica Guimarães.

Envolvimento da alta liderança

Possivelmente, um dos grandes ensinamentos diz respeito ao processo político da inovação dentro de uma cooperativa. Conforme contou Guimarães, o presidente do banco foi o principal patrocinador do programa de inovação.

Ele participou pessoalmente de alguns momentos, desde o lançamento do programa até o reconhecimento dos colaboradores que contribuíram. “Percebemos que o papel do presidente é fundamental. Não precisamos convencer a alta administração do que tinha que ser feito”, diz.

Para ativação dos demais líderes, no entanto, o programa lançou mão de recursos de gamificação. Dentre eles, as Bancoob coins. Ou seja, moedas virtuais que os gestores receberam para investir em novas ideias apresentadas pelo colaboradores. Uma das formas de ganhar mais crédito para investimento era por meio da liberação de funcionários da equipe para participação em squads.

Para gerar engajamento, os gestores que melhor investiram suas Bancoob Coins foram premiados. Assim, aqueles que obtiveram melhores retornos sobre os investimentos também vão para a viagem internacional para aprender sobre inovação.

Processo de inovação

As squads era formadas por pessoas de vários níveis hierárquicos. Além disso, para criar equipes realmente competitivas era preciso contar com habilidades diversas. Logo, o envolvimento foi transversal entre departamentos.

“Tivemos uma squad em que o líder não conseguiu se encaixar no modelo de gestão compartilhada e o time foi desfeito”, lembra Guimarães.

As ideias eram validadas ao longo do programa. Para tanto, havia uma etapa inusitada. Os proponentes apresentavam suas ideias para crianças. A intenção era tornar as apresentações tão claras que até mesmo crianças conseguissem entender. Em alusão ao Shark Tank, a etapa final, esta foi batizada de Baby Shark.

Primeira iniciativa de plataforma brasileira

O marco regulatório do sistema elétrico diz que a geração compartilhada de energia pode ser feita por dois modelos, um deles pela constituição de uma cooperativa. Isso explica porque Vitor Romero, CEO da Cleanclic, procurou o Sicoob-ES para desenvolver sua ideia.

A primeira plataforma cooperativa do Brasil agora gera eletricidade para 100% das agências do Sicoob. Além disso, a iniciativa acabou por dar origem à Ciclos, cooperativa criada para acelerar negócios de impacto que possam agregar valor ao Sicoob.

MVP da Cleanclic

O MVP (Mínimo Produto Viável) da iniciativa foi a construção de uma usina no telhado de uma das agências da rede bancária. Esta primeira instalação destinava de maneira gratuita a energia para três cooperativas da região. Afinal, a proposta era apenas testar o modelo e ver se a distribuidora realmente entregaria o crédito que gerava na rede para os associados.

O sucesso do primeiro teste levou à ampliação do negócio, com a criação do complexo de geração compartilhada Ibiraçu. Trata-se do maior complexo de geração compartilhada do Brasil.

De acordo com o que Romero apresentou no Cooptech 2019, a plataforma Cleanclic permite ao associado ter controle da sua cota de energia elétrica. Dessa maneira, ele não fica refém das revisões tarifárias impostas pelo governo. “A Ciclos trouxe novas possibilidades para a economia de compartilhamento com a proposta de conectar pessoas e multiplicar valor”, comemora.

Agora, a Cleanclic oferta energia em dois modelos:

  • Prossumidor: indivíduo ou associado que compra a participação no empreendimento que está sendo construído
  • Assinante: não tem participação nenhuma no empreendimento, mas consome e tem desconto na fatura de energia

Conforme explica Romero, o Prossumidor obtém redução de até 80% na sua fatura de luz e adquire um ativo. Já o assinante tem desconto entre 8 a 12%, mas não é proprietário de nenhuma instalação.

Desafio da inovação no cooperativismo

Como cada cooperativa tem desafios específicos de inovação, o Cooptech 2019 trouxe amostras de como a inovação acontece em algumas delas. Esta foi a finalidade do painel que apresentou os cases da Sicredi Pioneira, da Credicitrus e da Unimed BH.

Em comum, os palestrantes mostraram como conseguiram destravar o modelo de gestão das cooperativas, ganhando agilidade sem comprometer a participação democrática. Além disso, mostraram, no Cooptech 2019, como é possível desenvolver estratégias para se aproximar do ecossistema de inovação e das startups. Ou seja, como promover a inovação sem perder o DNA Cooperativista.

Sicredi Pioneira

Em 2017 foi criada a gerência de estratégia e inovação da Sicredi Pioneira. Assim, uma pessoa passava a se dedicar integralmente a pensar inovação na cooperativa. Este profissional se relacionava com as áreas de projetos, BI, fábrica de software e desenvolvimento para acelerar a execução.

Conforme conta Erick Akamine, Strategy and Innovation Manager da Sicredi Pioneira, uma das dores da cooperativa àquele momento era com o onboarding de novos colaboradores. Em teoria, para se adequar à cultura interna, seria preciso ler cerca de cinco mil páginas de documentos.

Foi aí que o time de inovação teve a ideia de criar a Goog, uma base de informações da cooperativa. A partir do lançamento dessa ferramenta os novos funcionários não precisavam mais fazer tantas leituras. A base de conhecimento do Goog permite a busca por informações específicas.

Além da tecnologia envolvida, o projeto também conta com uma equipe de conteudistas para traduzir as informações e tornar as informações mais acessíveis. Agora, Sicredi Pioneira compartilha o sistema e o Goog, um SaaS (Software como Serviço), pode ser usado por qualquer empresa ou cooperativa  interessada.

Para a integração desses novos colaboradores foi criado um jogo de Escape. Para tanto, foram usadas vagas de estacionamento de diretores.

Comunicação efetiva da estratégia cooperativa

Além do onboarding, a comunicação da estratégia para os colaboradores não era eficiente. Mais uma vez, contou Akamine durante o Cooptech 2019, o time de inovação entrou em ação e criou um joguinho para envolver os colaboradores na estratégia.

A criação envolveu pesquisa junto aos colaboradores para entender quais séries mais assistiam. Com a preferência por Game of Thrones, a cooperativa criou um jogo inspirado na série para explicar a estratégia da empresa.

Como resultado, Akamine conta que 94% das pessoas absorveram os pilares da estratégia e a experiência gerou muito engajamento.

Unimed BH

O centro de inovação da Unimed BH foi criado em 2014, envolvendo universidade corporativa, pesquisa, desenvolvimento, inovação e consultoria. O Coordenador de Inovação da cooperativa, Rafael Garcia Paolinelli Moraes, conta que inovação é elemento da cultura organizacional da empresa. Assim, explicou no Cooptech 2019, tem como objetivo gerar impactos positivos e aprendizados.

A declaração de inovação da cooperativa diz que a intenção é favorecer e incentivar a experimentação para criar e aprimorar soluções para o negócio. A finalidade é gerar impacto positivo e sustentabilidade, valorizando tentativas, erros e aprendizados que fazem parte do processo.

“Para uma empresa de saúde, colocar a palavra “erros” na declaração de inovação foi bem complicado”, lembra Moraes. No entanto, a diretoria aceitou quando entendeu que a proposta não é errar em qualquer coisa, mas num ambiente controlado de experimentação.

A partir da criação do centro, surgiu o Movimento Juntos Inovamos, que se apoia em três pilares:

  1. Inspiração: realização de eventos, como meetups
  2. Atração: criação de um espaço (Kriptown) e adoção de uma metodologia (Mosaico Criativo)
  3. Sustentação: geração de ideias por meio de plataforma colaborativa, desenvolvimento de trilha de educação e criação do Prêmio #JuntosInovamos

Estruturação do programa

Em conjunto com a Inseed investimentos, a Unimed BH estruturou a iniciativa do Link One. A proposta é se conectar a startups para promover inovação aberta no setor da saúde. “Não era o momento de investir em startup porque precisaria de dinheiro. Então trouxemos um fundo”, explicou Moraes no Cooptech 2019.

O modelo é bom para a Unimed BH porque a startup vem validada pelo fundo, diz Moraes. Além disso, para a Startup é bom porque tem o fundo por trás. Para o ecossistema é bom porque entrega valor.

Hoje, o Ecossistema da Unimd-BH é composto por oito startups já contratadas. E toda fazem parte da comunidade San Pedro Valley.

As startups são:

  • NetLex: jurídico
  • Simply: financeiro
  • Sambatech: educação
  • Take: chatbot
  • Opinion box: marketing
  • Arkmeds: hospital
  • Tracksale: experiência do cliente
  • Kunumi: inteligência artificial

O programa é estruturado a partir das seguintes etapas: Inscrição e prospecção; Seleção; Conexão; Go/No Go; Demoday.

Experiências e aprendizados

A primeira edição do Link One contou com 667 empreendedores e 233 startups oriundas de quatro países e 12 Estados do Brasil. Desse total, 68% das startups está em estágio comercial e 32% em validação do protótipo final.

Além disso, Moraes afirma que houve impacto na cultura organizacional, com mudança de mindset das pessoas que participaram do processo. “Provou que as startups podem acelerar os desafios e gerou sentimento de pertencimento entre os colaboradores”, afirma.

A primeira edição endereçou três desafios internos relacionados a eficiência e sustentabilidade: gestão de negócios, jurídico digital e gestão de talentos. A segunda edição vai trabalhar temas voltados a experiência do cliente e eficiência assistencial: experiência do paciente, regulação em saúde e orientação de percurso assistencial.

Credicitrus

Seguindo a cartilha da inovação, o Gerente de Inovação e Transformação Digital  da Credicitrus, Tiago Sartori, foi atrás de conhecimento para iniciar sua jornada. “Estudei, conversei com os heads, pessoas que entendem. Fui a ambientes propícios para conversar com pessoas que fazem inovação”, lembra.

Hoje, a cooperativa tem uma cadeira dentro do Inovabra, dentro do Supera, da USP, e em São Carlos. E agora uma dentro do Vale do Silício. “Meu gestor disse que eu precisava pensar em inovação e me desligar um pouco de tudo o que fosse relacionado ao dia a dia da cooperativa”, explica.

Dessa maneira, ele fez conexões com o Coonecta, a Deloitte, o Google e a Salesforce, dentre outras empresas que respiram inovação. A aposta da Credicitrus é que 2020 será o ano da Agrotech. “Por isso, queríamos estar no Vale do Silício pensando no nosso cooperado, para assumirmos o protagonismo”, diz. O interesse na Costa Oesta dos Estados Unidos vai além. “Fomos ver como a Califórnia consegue ter produção agrícola mesmo num deserto”, revela.

Para tanto, a aproximação com o Coonecta, organizador do Cooptech 2019, é estratégica. “O Coonecta vai nos aproximar de missões internacionais. Queremos estar preparados para as novas ondas que virão”, explica Sartori.

A incubadora de projetos internos da 3M

Como sabemos, a 3M não é uma cooperativa. No entanto, inovar exige buscar conhecimentos e experiências transversais. Logo, a experiência da multinacional norte americana contribui muito com as iniciativas das cooperativas.

Afinal, mesmo uma companhia conhecida internacionalmente por sua capacidade de inovar enfrenta desafios. Dentre eles, assegurar que a experimentação da inovação não interfira negativamente na operação corrente.

Foi sobre isso que falou Renata Decourt Perina, PMO & Innovation Hub Leader da 3M no Cooptech 2019. Ela disse que há dois anos, a companhia criou uma estrutura independente para desenvolver projetos internos. Tudo para manter a operação experimental do núcleo de inovação apartada do negócio.

Operações independentes

O objetivo era evitar influências mutuamente prejudiciais, pois nem as métricas de curto prazo do core podem ser impactadas nem o saudável pivotar das iniciativas pode ser dificultado. “Como a 3M é listada na bolsa, ao desassociar a operação da incubadora da empresa conseguimos trabalhar melhor os ciclos de inovação, sem preocupação com o imediatismo”, explica a líder do Hub, que fica na cidade de Sumaré (SP).

Assim, é por meio do Innovation Hub que a 3M tem desenvolvido soluções que dão suporte às áreas internas em dores pontuais. É função do núcleo, ainda, conectar a companhia ao ecossistema de startups e promover a implementação de métodos ágeis de gerenciamento. Ela defende que o ritmo de tecnologias crescendo de forma exponencial exige associação a especialistas. “Não posso ser arrogante de achar que detenho todo o conhecimento. Tenho que olhar para o cliente e para o ecossistema para juntos oferecer inovação aos nossos clientes”, acredita. O hub foi, inclusive, tema de reportagem no Projeto Draft.

Inovação além da tecnologia

Perina mostrou ao público do Cooptech 2019 que não apenas de pesquisa e desenvolvimento de novos materiais e tecnologias nasce a inovação. Para ela, um dos pontos mais importantes para criar soluções novas é entender rapidamente as necessidades do cliente e as novas dinâmicas do mercado. Ou seja, manter a agilidade. Até mesmo porque a 3M atua em muitos mercados distintos tem o desafio de inovar em todas essas frentes. E por inovação a empresa entende a criação de valor para os clientes.

Logo, uma grande inovação foi agregar valor ao sistema de empacotamento com fita para fechar caixas. Ela contou que quando veio a ameaça das fitas chinesas a 3M criou um modelo de contrato que protegeu o produto da 3M. Assim, ao colocar o equipamento de selar caixa em comodato junto ao cliente ficava estabelecida a obrigatoriedade de usar apenas fitas fornecidas pela 3M.

Olhamos não só para nossas plataformas, mas para o que o mercado traz de novas tecnologias”, explica ela. Ela acrescenta, ainda, que “não tem como inovar sem olhar para o cliente”.

Desse olhar surgiu, por exemplo, a fita para fixação de objetos em paredes. “A nova geração não pensa em comprar casa. E muitos contratos de aluguel não permitem furar a parede. Surge aí a fita para fixação da 3M”, revela. “Nem sempre inovação é uma super tecnologia, mas a forma como ofereço o produto ao cliente”, pontua.

Metodologia inovadora

Ao pensar em melhorias incrementais para os produtos, as divisões de negócio olham para dentro em busca de ideias, explica Perina. “Acaba sendo algo muito leve, que não é a sacada de mercado porque não olha as tendências de mercado”, explica.

Já na incubadora, o processo exige olhar para as tendências e os dados secundários, considerando o que os clientes querem. “Quando consideramos tendências e demandas do usuário, as inovações vêm diferentes”, avalia. Para tanto, o Hub usa recursos como mapa de empatia e Design Thinking. “Pensamos nas dores dos usuários agora e no futuro”, afirma.

Como exemplo, ela cita como o mapa de empatia rompe com paradigmas e preconceitos. “Ao pensar em idosos, a referência em geral são pessoas acamadas. Agora, pense nas pessoas com 80 anos que você conhece. Elas estão muito longe desse estereótipo”, provoca. “Se eu não conhecer a dor, eu não crio valor”, pontua. Para ela, o exercício do Design Thinking permite quebrar barreiras e olhar sob o ponto de vista do usuário.

Tendências

Perina aproveitou a ocasião para listar às pessoas presentes ao Cooptech 2019 aquelas que ela acredita que sejam as tendências em inovação para os próximos anos:

  • O poder nas mãos dos clientes
  • Conveniência
  • Compartilhamento
  • Consumo Consciente
  • Coerência e Transparência
  • A era analítica
  • Metodologias ágeis
  • Manufatura 4.0
  • Marketing Automation
  • Futuro do trabalho

Como formar líderes inovadores

Em sua palestra no Cooptech, Renata Perina contou um pouco sobre como a 3M forma líderes inovadores. O ponto de partida é entender que controle é diferente de microgerenciamento. Além disso, é preciso estabelecer canais para uma comunicação aberta e intensa, com avaliação focada em inovação.

No caso da 3M, existe a chamada Regra dos 15%. Ou seja, se o colaborador tem uma ideia de um novo produto, ele tem 15% do seu tempo para se dedicar ao projeto. E isso independe da aprovação do líder da área.

Ela contou, ainda, que a empresa tem as seguintes diretrizes para orientar o comportamento da liderança:

  • Joga para vencer
  • Inova
  • Promove a colaboração e trabalho em equipe
  • Prioriza e executa
  • Desenvolve as pessoas e a si mesmo
  • Age com integridade e transparência

Plataforma Stormia integra 350 cooperativas singulares

A intenção era catalisar a transformação do negócio e aumentar a capilaridade dos serviços prestados. Para tanto, a Seguros Unimed criou um espaço exclusivo para pesquisa e experimentação de soluções digitais. Assim, com operação independente, este núcleo conta com uma equipe residente de especialistas.

Alocada em ambiente colaborativo, a WeWork, esta célula tem como missão redesenhar a experiência digital da cooperativa. Além disso, está envolvida no desenvolvimento de novos negócios e engajamento de parcerias, bem como na aceleração de projetos alinhados ao plano estratégico da companhia e na disseminação de métodos ágeis de gestão.

O primeiro produto do núcleo é a Stormia, plataforma apresentada no Cooptech que conecta e entrega valor a, até o momento, 350 cooperativas singulares. Na prática, a Stormia é um app que pode ser usado não apenas pela Seguros Unimed, mas também pelas singulares para estreitar relacionamento com seus cooperados.

A Seguros Unimed é a detentora da tecnologia e responsável pela gestão da plataforma. No entanto, a alimentação do sistema depende de cooperativas singulares espalhadas pelo País.

Por isso, era preciso envolvê-las no processo. Caso contrário, a plataforma ficaria esvaziada. Para tanto, foi preciso pensar em maneira de entregar valor diretamente aos seus negócios. Assim, a Stormia conta com um marketplace para oferta de serviços aos cooperados. Em troca, a aposta é que vão aceitar remunerar a manutenção da plataforma e, assim, gerar receita e dados para a Seguros Unimed, conforme explica Marcelo Smarrito, Digital Strategic Advisor da cooperativa.

Processo de gestação da plataforma

Smarrito conta que uma cooperativa como a Seguros Unimed é maior do que grandes bancos. Logo, não teria como Stormia nascer dentro da empresa. “A solução foi colocar ela numa célula num espaço onde a gente pudesse ousar levando em consideração o legado, os beneficiários e os cooperados que pagam a conta da inovação”, explica.

Foi o que deu origem, em 2017, à célula de inovação digital. “Começou mapeando jornadas para conhecer o comportamento de cada cliente”, conta Smarrito. Com isso, o time descobriu inúmeras oportunidades de melhoria. Uma das constatações, segundo ele, foi a de que, “como agente de seguros, somos os reis da má notícia”.

Logo, havia o desafio de posicionar a marca para que esteja o tempo todo presente, mas sem ficar o tempo todo falando de problema, de sinistro. “Por isso, a plataforma Stormia fala de bem estar, de social, de comportamento”, diz. Além disso, para fazer com que o modelo se sustente financeiramente, há uma plataforma de vendas.

“O modelo de negócios é o grande segredo do sucesso, pois montar uma plataforma e dizer quanto ela custa é fácil”, analisou Smarrito no Cooptech. Por isso, o modelo prevê que cada vez que algo for vendido por meio da plataforma a Stormia receba uma comissão que paga o seu funcionamento.

Desafios e resultados do innovation center da Coopercarga

Em 2018 a Coopercarga lançou o Programa Criativação de Ideias para fomentar a inovação interna e o intraempreendedorismo. Logo de início, mais de 100 ideias foram inscritas, três projetos implantados e mais de três mil horas de treinamentos foram realizadas.

A cooperativa conta, ainda, com uma frente para desenvolvimento de open innovation. O Innovation Center Coopercarga se relaciona com o desenvolvimento de projetos em parceria com universidades e investimento em startups.

Sua função, conforme explicou a Head of Innovation da Coopercarga, Alessandra Cassol, durante o Cooptech 2019, é promover a transformação digital da cooperativa. Ou seja, “desenvolver alternativas para continuarmos competitivos enquanto cooperativa mesmo com tantos players no mercado”, diz.

Sucesso do cliente

Afinal, explica ela, a intenção da Coopercarga é entregar sucesso pro cooperado e pro cliente. “Nossa visão é ser referência em solução logística no amanhã. Já fomos no passado, somos no presente, mas queremos continuar a ser no futuro”, afirma. Nesse sentido, a cooperativa acredita que inovação é primordial, com parceria com novos players.

O modelo de inovação corporativa da Coopercarga se baseia em quatro etapas.

  1. Cultura de inovação: Innovation Mindset
  2. Inovação Interna: Closed innovation
  3. Inovação aberta: Open Innovation
  4. Novos modelos de negócio

Em todos esses momentos, Cassol conta que a cooperativa olha para os processos sob o ponto de vista do cliente. “Entendemos que para entregar sucesso precisamos facilitar a logística, quebrando as barreiras do mercado”, diz. Isso leva à parceria com a logtech Cargon, mostrada no Cooptech.

A criação da Cargon

Atualmente, a Coopercarga atua em parceria com a startup Cargon, focada em soluções logísticas e nascida a partir do programa interno de inovação da Coopercarga. De acordo com Denny Mews, Founder & CEO da startup, a Cargon surgiu a partir do entendimento de dores agentes que fazem a logística no País. “Precisamos nos tornar um ecossistema, mas a relação da Coopercarga com cooperativas é muito incipiente”, analisa.

Ao começar a estudar o mercado, Mews viu que os cooperados tinham dificuldade de encontrar serviço. Isso levou à criação da Cargon, uma plataforma de integração que visa a otimizar o processo logístico do País, extrapolando, inclusive, os domínios da Coopercarga.

Experiência do usuário como norte

“Via muita indústria disposta a contratar armazém e não encontrar. E aí o cooperado tinha que buscar outra solução, fora da cooperativa”, lembra Mews. No entanto, embora existam muitos armazéns com o espaço desejado pelo cliente, a Coopercarga não sabe disso.

A missão da Cargon, portanto, é enxergar esses “pedaços de armazéns vazios” e os colocar na plataforma para fazer conexões, atuando como um hub logístico. “A ideia é nos tornarmos uma grande plataforma cooperativa, principalmente olhando para o multimodal e sempre com os clientes no centro”, explica o CEO da iniciativa.

A Cargon, que não é cooperativa, tem como meta gerar negócios independente do modelo societário. “Queremos trabalhar com emissão de documentos também para sanar mais uma dor dos clientes”, revela. Ele conta que emitir os documentos que o motorista precisa para iniciar a viagem é um gargalo dentro das operadoras. Além disso, o mercado sofre também com falta de caminhões e de informações.

Há, ainda, revela Mews, oportunidades relacionadas ao abastecimento. “Os postos não oferecem carga, mas poderemos oferecer no momento do abastecimento. Este é um modelo de negócio escalável”, acredita ele.

Blockchain e Tokenização: oportunidades para o cooperativismo

O Cooptech 2019 recebeu Taynaah Reis, CEO da MOEDA. Antes de mais nada, é importante entender o que é a Moeda. Organizada abaixo de oito CNPJs, a Moeda atua como: fintech para inclusão financeira; aceleradora com programas de crédito orientados; marketplace; Exchange para serviços com moedas tradicionais e criptomoedas; e Fundo de Impacto.

Fazem parte da iniciativa 86 funcionários e colaboradores espalhados por São Paulo, Nova York, China e Uruguai.

De acordo com Taynah, a metodologia de atuação é um “misto do que se aprende numa aceleradora tradicional, mas para a área rural”. A proposta é usar conceitos simples para virar um projeto de forma bem rápida. “Em cada projeto desenvolvemos como fazer se tornar sustentável e registramos tudo em blockchain”, diz.

Como exemplos de projetos da Moeda ela citou a cerveja de baru e o café gelado, ambos feitos do começo ao fim por mulheres. “Todos os produtos contribuem para a economia mais justa”, afirma ela. Na prática, isso significa que, por meio do blockchain, é possível ver para quem foi cada parte do que foi pago no produto final.

“A tecnologia permite ter os custos abertos e ver que o dinheiro foi de fato para a artesã”, diz. Da mesma maneira, é possível ver qual é a situação de cada artesã e como ela vive. “Quanto mais a gente ensina as pessoas a agregar valor ao produto, mais trazemos para perto essas diferentes realidades”, afirma.

O surgimento da Moeda

Devido à sua visão de mundo, Taynaah Reis foi listada pela revista Forbes como uma das 12 líderes jovens mais inovadoras do mundo. Líder da Moeda, lançou em 2017 a primeira criptomoeda para cooperativas do mundo. Para financiar empreendimentos de impacto, especialmente cooperativas, a Moeda evoluiu para um banco digital com atenção especial ao microcrédito.

A Moeda, portanto, nasceu da necessidade de tornar iniciativas de impacto confiáveis para investidores de todos os cantos do planeta. Agora, a Moeda atua em praticamente todas as pontas da cadeia de negócios sociais. Sua influência vai desde o financiamento à produção até a distribuição dos resultados.

Por trás de sua operação a iniciativa tem o Blockchain, que torna as transações rastreáveis e, portanto, seguras.

A ideia da Moeda nasceu devido ao testemunho de Taynaah, que viu diversas cooperativas deixarem de existir ao longo do tempo. “Para as cooperativas era difícil competir com as grandes empresas”, pontua. Assim, ela criou uma rede social para agricultura familiar, com um e-commerce, mas faltava muita coisa para poder exportar.

Afinal, explica ela, a maioria dos investidores são chineses e pedem contêineres de produto. “Os pequenos produtores não estavam preparados para isso”, conta. Quando se tratavam de cooperativas formadas por mulheres, a dinâmica era muito pior. “Vivemos num país machista e, para pegar crédito em banco, muitas vezes a garantia é o terreno, a propriedade, que está em nome do marido”, contextualiza Taynaah.

Moeda como solução

Foi pensando nisso e em como antecipar o capital de giro que surgiu a Moeda. Associada à sua operação, o blockchain. Esta tecnologia, conta Taynaah, ajuda a Moeda a captar recursos no exterior. “Morei no exterior e via que havia recursos disponíveis que poderiam ir para as cooperativas. E havia muitos entraves para destinar aquele recurso, como o risco Brasil”, lembra.  “Mas eu sabia que os responsáveis por cooperativas eram boas pessoas, mas os entraves eram políticos e sociais”, complementa.

Daí surgiu a ideia de usar uma tecnologia que eu pudesse mostrar como cada pessoa gastou cada Real, com o contrato de compra da produção. “Aí as pessoas topavam, desde que usasse Blockchain”, diz. “Com a Moeda sabemos como cada Real está impactando na sociedade”, comemora.

Como se tornar um “agente de inovação” na sua cooperativa

De nada adiantaria ver iniciativas impactantes ao longo de todo o dia sem saber como levar os aprendizados para o dia a dia da cooperativa. Por isso, a proposta do último palestrante do Cooptech 2019 foi trazer instrumentos para que qualquer pessoa possa se tornar um agente de inovação e, com isso, realmente transformar a atuação das cooperativas.

Alexandre Carrasco apresentou fundamentos e ferramentas úteis para a transformação digital e a promoção da inovação em quaisquer que sejam as atividades de uma cooperativa.

Consultor Organizacional nas Áreas de Estratégia, Inovação e Melhoria de Processos da Repensando Negócios, ele apresentou as principais maneiras de colocar a inovação em prática em diversas áreas da sua cooperativa.

Inovação na prática

O primeiro ponto, acredita ele, é saber o que serve ou não para a cooperativa. “No cooperativismo há dois elementos: cultura da organização, da cooperativa, e o investimento na cultura do cooperativismo. Tenho colaboradores e cooperados que precisam viver em harmonia”, conta.

Por isso, ele recomenda nunca descuidar da gestão e manter o foco na implementação. “Vamos tentar errar cedo e barato e tirar da frente o que não faz sentido”, orienta. Nesse aspecto, ele acredita ser importante o uso de ferramentas ágeis de gestão. “Deu errado, testa, muda, testa com um novo grupo de clientes. A inovação requer riscos”, pontua.

Além disso, ele acredita que inovação envolve ousadia. Para exemplificar, citou o caso da Uber. “Quando a Uber chegou, não foi bem recebida. Pagaram pra ver, tiveram coragem de enfrentar o status quo. E por que não temos essa coragem de nos vender como modelo de negócio?”, questiona.

Para tanto, ele recomenda às cooperativas contar suas histórias, lembrando os princípios básicos do cooperativismo. “As histórias das cooperativas são lindas. Qualquer cooperativa aqui tem muitas histórias boas pra contar. E eu não vejo as histórias sendo contadas”, lamenta.

Conclusão sobre o Cooptech 2019

O Cooptech se mostrou um verdadeiro fórum de discussões, extrapolando a proposta de mostrar como a inovação pode ser aplicada no cooperativismo. Ao longo do dia, o público presente trocou ideias entre si e com os palestrantes para imaginar novos caminhos para o futuro do cooperativismo.

Com isso, o Cooptech se consolida como agente de transformação do cooperativismo com foco na inovação. Ou seja, orientado à construção conjunta de conceitos e ideias que possam efetivamente transformar a maneira como fazemos as cooperativas acontecerem.

A concepção da grade de palestrantes levou em conta a forma de abordar o conceito de plataformas cooperativas. Afinal, como se trata de algo ainda muito novo, era preciso explicar seu funcionamento. No entanto, o público não apenas se abriu a esta novidade como enriqueceu a discussão.

Cases apresentados no Cooptech 2019

Um exemplo prático de como o conceito de plataforma cooperativa pode funcionar foi apresentado por Vitor Romero, da Cleanclic, a primeira iniciativa de plataforma criada em uma cooperativa de crédito, o Sicoob-ES.

Nesta apresentação vimos que os fundamentos do cooperativismo não precisam ficar restritos à figura jurídica das cooperativas. É possível gerar escalabilidade dos princípios cooperativista em empresas com outros formatos e associadas a cooperativas estabelecidas, por exemplo.

Outra grata surpresa foi ver o painel que mostrou os Desafios da Inovação no Cooperativismo, com Erick Akamine, da Sicredi Pioneira, Tiago Sartori, do Credicitrus, e Rafael Paolinelli, da Unimed BH. Da mesma maneira, a contribuição de Rodrigo Guimarães, do Conglomerado Bancoob, foi muito valiosa.

Todos eles, ao apresentarem suas jornadas de inovação dentro das respectivas cooperativas, fizeram questão de mostrar não apenas as conquistas. Os obstáculos enfrentados, bem como as estratégias para a implantação dos processos de inovação foram abordados. Ficou muito clara, por exemplo, a importância de ter um projeto de inovação que envolva todos os níveis hierárquicos. E mais claro ainda o efeito positivo de contar com apoio da alta direção para o sucesso do programa de inovação.

O mesmo pudemos observar nas demais apresentações de cases, como da plataforma Stormia, da Seguros Unimed, da Cargon, nascida dentro da Coopercarga, ou da Moeda. Esta, inclusive, uma uma apresentação que mostrou como é possível potencializar os princípios cooperativistas ao associar o uso de alta tecnologia, como o Blockchain, com o trabalho de artesãs cooperadas no interior do Nordeste brasileiro.

Cooperativismo transformador no Cooptech 2019

O Cooptech mostrou como o cooperativismo pode transformar a vida de pessoas e empresas. A realização do primeiro Cooptech foi um marco para o Coonecta. Nossas expectativas eram elevadas e mesmo assim foram superadas em muito! O sucesso deste evento multiplicou nosso otimismo e nos motivou a tornar ainda mais ambiciosas as metas para 2020.

O Cooptech não para por aqui. Vamos levar o evento para outras cidades e ainda faremos os Cooptechs por ramo: Agro, Saúde e Crédito. Convidamos vocês a fazer parte deste projeto! Vamos juntos disseminar a transformação digital cooperativa!

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Bruno Loturco
Bruno Loturco
Jornalista especializado em comunicação e criação de conteúdo para as mais diversas mídias on e offline, com experiência em publicações técnicas e de negócios. Cada vez mais interessado e motivado pelo universo do cooperativismo, em busca de criar valor por meio da geração de conteúdo e conhecimento para a transformação digital deste tão importante segmento da economia.