Nos dias 21 e 22 de maio, o Cooptech Crédito 2025, realizado pela Coonecta em São Paulo, reuniu lideranças de cooperativas financeiras para discutir o futuro, os desafios e as tendências do cooperativismo de crédito no Brasil.
O Sistema Nacional de Crédito Cooperativo tem crescido e precisa se manter atualizado e inovador para seguir nessa trajetória. Durante os dois dias de evento, profissionais e especialistas debateram os desafios, expectativas e esperanças para esse futuro próspero.
No decorrer das palestras e debates, alguns pontos se destacaram como as principais tendências do cooperativismo de crédito. Dentre elas estão o avanço da tecnologia, a importância do impacto social, a intercooperação e o crescimento desse setor. Confira o que especialistas preveem para as cooperativas de crédito!
8 tendências do cooperativismo de crédito discutidas no Cooptech Crédito 2025
Confira as principais tendências do cooperativismo de crédito que ocuparam o palco do Cooptech Crédito 2025!
1. O futuro é tecnológico
Uma das principais tendências percebidas do cooperativismo de crédito é a necessidade de entender como utilizar os avanços tecnológicos dentro do cooperativismo. A transformação digital deve acontecer por meio de investimentos em tecnologia, automação de processos e uso de IA para ganhar agilidade e eficiência. “É essencial para que a gente se mantenha competitivo”, explicou Thiago Borba Abrantes, coordenador do Ramo Crédito na OCB.
No painel de abertura do Cooptech Crédito 2025, Thiago se juntou a Ivo Lara Rodrigues, diretor presidente na Federação Nacional das Cooperativas de Crédito (FNCC), e Moacir Krambeck, presidente do conselho de administração da Central Ailos. Juntos, os especialistas debateram sobre as tendências do ramo crédito e a importância da tecnologia nas cooperativas.
“No mercado em que atuamos, o investimento em tecnologia, a automação de processos e, mais recentemente, o uso de inteligência artificial para ganhar velocidade e eficiência no dia a dia das cooperativas é essencial para que a gente se mantenha competitivo e atendendo o nosso cooperado com qualidade. A transformação digital é, sem sombra de dúvidas, o tema do momento”, complementou Thiago.
Moacir Krambeck também defendeu esse ponto. Para ele, a digitalização vai acontecer e precisa acontecer em ritmo acelerado, já que as outras instituições financeiras estão fazendo isso de forma rápida.
2. O papel da intercooperação
Uma busca maior por iniciativas de intercooperação é outra grande tendência do cooperativismo. A união das cooperativas é o combustível para um crescimento exponencial e o fortalecimento desse modelo de negócios no mercado.
Para Thiago Borba, a junção de esforços entre diferentes cooperativas e diferentes sistemas não é apenas uma alternativa, e sim algo crucial. “Aqui é uma necessidade para a gente se manter competitivo. É, inclusive, um princípio do nosso modelo. Então, não é uma escolha, é uma obrigatoriedade”, declarou.
Além disso, a intercooperação representa uma possibilidade de lidar com um dos maiores desafios do cooperativismo, que é ter um preço competitivo, de acordo com Moacir. “À medida que nós vamos avançando, com obrigações cada vez com mais custos, nós temos que buscar soluções para viabilizar o preço. Uma das soluções é a intercooperação”, argumentou o especialista.
Assim como tudo no cooperativismo, a intercooperação deve ser movida pelos motivos certos. Em sua participação, Tiago Schmidt também afirmou que “quanto mais a gente intercooperar pelo princípio da educação e do interesse pela comunidade, mais nós vamos intercooperar na captação de novos associados, na expansão do sistema e na participação econômica”.
Para Ivo Lara, é dentro do aspecto social que nasce a essência da cooperativa. “Independentes sim, sozinhos nunca”, declarou.
3. Foco nas pessoas
Dessa maneira, tudo precisa ser cuidadosamente observado. Afinal, “não existe cooperativa rica numa sociedade pobre”, como afirmou Tiago Schmidt, presidente do conselho de administração da Sicredi Pioneira. Tiago esteve na palestra “Consolidação do ramo crédito: fortalecimento ou descaracterização?”, com Harold Espínola, especialista em cooperativismo de crédito, e Marcelo Vieira Martins, diretor-executivo da Unicred União.
“O papel das cooperativas é gerar a prosperidade dos membros. Quanto mais fizermos isso, mais estaremos conectados com os princípios e valores do cooperativismo, vivendo e entregando o nosso diferencial, que é ser cooperativa”, reforçou Tiago.
Moacir fortaleceu essa ideia, afirmando que as cooperativas estão caminhando para um caminho muito próximo do sistema financeiro convencional e esquecendo das suas origens. “É preciso voltar e olhar para as pessoas. Eu sempre tenho dito, olhe para as pessoas, para o seu cooperado e o que você, cooperativa, faz para a comunidade onde você está presente”, refletiu.
4. Importância do impacto social
Outro debate relevante durante a Cooptech Crédito 2025 foi acerca da responsabilidade social que as cooperativas têm com as comunidades em que estão inseridas. Mesmo já sendo a base do cooperativismo, o impacto social segue crescendo como uma demanda cada vez mais urgente para o mercado.
Para Thiago Borba, é preciso cada vez mais que o cooperativismo de crédito seja notado e reconhecido pelo seu processo de inclusão e educação financeira:
“Esse é um diferencial do modelo cooperativo. A partir do momento em que nós nos desvencilharmos desse diferencial que promovemos de inclusão, a gente passa a fazer parte de um grupo geral do mercado. Nosso ato cooperativo segue sendo o alicerce do nosso movimento”, defende.
5. Aplicações da inteligência artificial
Já na palestra “Oportunidades e desafios do atendimento por Inteligência Artificial em cooperativas de crédito”, Juliano Potrich, que é gerente de inteligência artificial na Sicredi Confederação, reforçou que essa ferramenta representa inúmeras possibilidades para o crescimento e consolidação das cooperativas.
“A tecnologia nova chega e a gente precisa ter apetite ao risco. A IA procura reduzir custos – o que é diferente de reduzir pessoas, mas sim reduzir fricções”, explicou.
Para Juliano, saber trabalhar com a inteligência artificial é saber expandir as possibilidades que existem no atendimento ao cooperado, sem perder a essência cooperativista. Afinal, o uso da ferramenta “precisa ter uma aproximação, precisa ter contexto, precisa ter um atendimento personalizado” para os cooperados.
Apesar de essencial, manter um uso seguro e eficiente de ferramentas de IA não é uma tarefa fácil. Para essa garantia, o trabalho humano é imprescindível. “A gente sabe as vulnerabilidades que a inteligência artificial tem hoje. A gente sabe que tem risco de vazamento de dados se não usar apropriadamente, e que ela nunca vai te deixar sem uma resposta, mas não necessariamente você sabe se a resposta é certa ou não. Então, o fator humano dentro desse ciclo dificilmente vai sair por completo”, explica.
O avanço tecnológico anda junto, portanto, com o lado humano da cooperativa. É preciso ter uma validação, uma curadoria e saber se aquele modelo, tanto de atendimento ou de relacionamento, é um modelo adequado.
6. Onboarding digital
Na apresentação “Onboarding Digital Seguro: Alicerce para o Crescimento Sustentável”, Janiele Fernandes Pereira, business owner de aquisições na Unicred, discutiu como o uso das tecnologias, aliado a ferramentas de segurança, pode impulsionar e facilitar o aumento da base de cooperados, sem prejudicar a cooperativa com fraudes e outros riscos.
“Tenha um objetivo claro. O que você quer? O que você está buscando? E comunique. Isso precisa permear as áreas de produtos e negócios, tem que chegar lá na ponta. A gente [Unicred] tinha dois objetivos muito claros: sim, a gente precisa crescer a nossa base de cooperados exponencialmente, mas a gente também quer que o onboarding seja a principal ferramenta”, contou a profissional, relatando a experiência da cooperativa que se tornou referência em segurança digital.
7. Desafios da Resolução 4.966
Ainda no primeiro dia, a palestra de Elisa Simão trouxe os impactos da Resolução CMN 4.966 nas cooperativas de crédito de forma prática. A sócia da PwC Brasil e líder do Centro de Excelência para Cooperativas de Crédito relembra que uma das peças-chave para seguir a nova resolução é estar atento a possíveis situações de risco e promover educação financeira para os cooperados.
A especialista pontua que em todos os aspectos da educação financeira, inclusive na atenção ao nível de endividamento, o cooperativismo tem sido precursor, apresentando historicamente índices de inadimplência mais baixos que os do sistema financeiro tradicional, com exceção de alguns segmentos específicos.
Por conta disso, é preciso se atentar ao lado social do cooperativismo, oferecendo educação financeira ao cooperado. O cooperativismo deve se lembrar sempre daquele cooperado que, muitas vezes, denota um índice de endividamento elevadíssimo, casado com uma baixa capacidade de pagamento.
8. Um setor em crescimento
Os avanços tecnológicos, a preocupação com impacto social e a intercooperação das cooperativas buscam o mesmo resultado: contribuir para o crescimento do cooperativismo de crédito no Brasil.
Esse aumento não é apenas uma tendência. Para os especialistas que palestraram no evento, o aumento do setor já é uma realidade. “O cooperativismo de crédito vai crescer, não tenho a menor dúvida, isso é inexorável”, afirmou Moacir, em entrevista exclusiva para a Coonecta.
O cooperativismo está se consolidando no mercado, representando uma alternativa sustentável, justa e economicamente viável. Para Thiago Schmidt, “o cooperativismo no Brasil ainda vai crescer muito porque se conecta com diversas pautas, especialmente pautas da juventude que são super necessárias para o nosso planeta e para a preservação do planeta”.
Conclusão: de olho nas tendências do cooperativismo de crédito brasileiro
O Cooptech Crédito 2025 serviu de palco para discussões imprescindíveis sobre as maiores tendências do cooperativismo de crédito no país, indicando os desafios e caminhos para a construção do futuro do setor. Confira aqui um panorama de toda a programação do evento, incluindo a plenária e a arena de debates.
Além disso, é importante que as cooperativas de crédito fiquem atentas ao que está acontecendo em instituições financeiras com outro modelos de negócio. Essas instituições também integraram a programação do Cooptech Crédito 2025 – confira as principais lições desse benchmarking com Itaú Unibanco, Bradesco e B3!