SNCC: cooperativas de crédito crescem em ritmo superior ao Sistema Financeiro Nacional

O Sistema Nacional de Cooperativas de Crédito (SNCC) continua a apresentar evolução em ritmo superior ao apresentado pelo restante do Sistema Financeiro Nacional (SFN). É o que os números mostram no relatório mais recente sobre o tema divulgado pelo Banco Central, relativo ao ano de 2023.

Segundo o documento, 7,2% da população nacional (17,3 milhões de pessoas físicas ou jurídicas) está associada a pelo menos uma cooperativa de crédito. O número é 11,2% maior em relação ao verificado em 2022. O crescimento é significativo, mesmo que o ritmo seja menor na comparação com anos anteriores.

O impacto em uma parcela maior da população se reflete no crescimento do SNCC dentro do Sistema Financeiro Nacional. As cooperativas de crédito agora possuem 5,6% dos ativos totais do SFN – a fatia aumentou pelo quinto ano consecutivo. O valor chegou a R$ 730,9 bilhões, crescimento de 23,9% ao ano, consideravelmente superior ao apresentado pelas outras instituições do setor (10,5%).

Neste artigo, entenda como as cooperativas de crédito estão se tornando mais relevantes no mercado financeiro e caminhando para uma posição cada vez mais consolidada!

Operações de crédito fundamentais, mas menos preponderantes para o SNCC

As operações de crédito continuam sendo o principal ativo das cooperativas de crédito (R$ 395 bilhões, aumento de 15,2% no ano). O SNCC possui estratégia de concessão de créditos mais agressiva que o restante do SFN, um dos fatores que impulsiona números proporcionalmente melhores.

As cooperativas de crédito estão entre os segmentos com maior variação anual nas carteiras de crédito (16,4%), superando o ritmo das outras entidades financeiras (7,3%). Apenas organizações digitais apresentaram aumento mais significativo no período (39,8%).

A cessão de créditos, no entanto, carrega um risco inerente. Ao serem mais flexíveis nas concessões, as cooperativas estão sujeitas à inadimplência. Esse risco está se materializando, e os ativos problemáticos na carteira chegaram a 5,9%, mantendo curva que é ascendente desde 2021. Aliado à alta nas despesas de provisão, esse fator faz as organizações do SNCC necessitarem de outras fontes para preservar o ritmo positivo. E isso está acontecendo.

Diversificação para o futuro

As cooperativas caminham para menor dependência das operações de crédito. Outros tipos de ativos, como Títulos de Valores Monetários e ativos de tesouraria, foram os grandes catalisadores do crescimento apresentado em 2023, com variação de 39,1%. Os TVMs agora correspondem a 27,5% dos ativos totais do SNCC.

Assim sendo, as cooperativas de crédito consolidam outras formas de captação de recursos que as auxiliam a se estabelecer e aumentar sua participação de mercado. O setor, porém, não perde de vista uma característica fundamental: a disposição para suprir as necessidades de crédito em relação às outras opções do sistema financeiro.

Como são as cooperativas de crédito e quem são seus associados

Apesar do franco crescimento em diversos indicadores, o número de cooperativas singulares de crédito mantém tendência de diminuição. Pode parecer paradoxal, mas há razão para isso: as incorporações ajudam cooperativas com dificuldades financeiras, movimento que também auxilia na eficiência operacional.

Mais seleto ainda é o grupo de cooperativas de crédito onde se concentram as grandes quantias monetárias. 11,9% das singulares (91 das 767 organizações vigentes no país) detêm 60% dos ativos, todas com montantes acima de R$ 2 bilhões. Já outras 486 associações (63,4% do total) operam com ativos inferiores a R$ 500 milhões.

Independentemente de tamanho, as organizações do SNCC contribuem para um diferencial importante do sistema: alcançar regiões não contempladas por outras instituições financeiras. As cooperativas aumentaram em 7,6% o número de unidades de atendimento (totalizando 9.804 por todo o país), chegando a 97 novos municípios. Já os bancos tradicionais deixaram de atender presencialmente em 32 municípios, mantendo tendência verificada nos últimos seis anos.

Historicamente, a região onde as cooperativas têm participação de mercado mais significativa é no Sul – o que se explica por seu pioneirismo no cenário do cooperativismo brasileiro. A tendência se mantém quando o assunto são organizações do SNCC. A região corresponde a 48,2% dos cooperados pessoa física (PF) e a 39,8% das pessoas jurídicas (PJ) associadas.

Os maiores crescimentos são registrados em outras partes do país, especialmente no Norte. A região teve a maior variação relativa em cooperados PF (25,8%) e a segunda maior em associados PJ (16,3%), atrás apenas do Nordeste (16,9%). Todas as regiões do Brasil apresentaram números positivos nas duas categorias.

Potencial e oportunidades ao SNCC

A trajetória ascendente em curso, todavia, não indica que o SNCC já esteja materializando todo o seu potencial de mercado. 23,4% do crédito contratado por cooperados veio exclusivamente de outras organizações do SFN, e 70% é para associados que tomaram crédito simultaneamente de cooperativas e de demais instituições financeiras.

Ou seja, há possibilidades significativas de crescimento na carteira de crédito dentro do próprio público cooperado. A atual participação de mercado é de 7,3% para PF e 17% para PJ.

O público PJ é composto majoritariamente por MEIs, micro, pequenas e médias empresas (91% das carteiras ativas). Isso mostra como as cooperativas possuem perfil diferenciado em relação ao restante do SFN, mais voltado aos grandes negócios (58% das carteiras ativas). 

Além disso, há potencial de crescimento para o SNCC nas modalidades financiamento de infraestrutura, desenvolvimento e projetos, investimentos e crédito rural e agroindustrial, onde os cooperados PJ ainda costumam recorrer a outras instituições financeiras.

Consequências do crescimento do SNCC

Falar de cooperativismo é falar de um modelo de negócio com objetivos diferentes dos compartilhados pelo restante do SFN. Enquanto outras instituições financeiras têm como meta o lucro, as cooperativas almejam atender as necessidades de seus cooperados, e devem reinvestir seus resultados ou distribuí-los.

A prioridade do setor tem sido se firmar no mercado financeiro e alcançar estabilidade operacional. Segundo dados relativos a 2022 – os mais recentes obtidos pelo Banco Central – 49% das sobras no período foram destinadas a Fundos de Reserva, e outros 8% a Fundos Facultativos. Essas quantias ajudam as cooperativas a fortalecer sua estrutura e acelerar o crescimento do SNCC.

Tal alocação de recursos acontece em um ambiente de resultados positivos. De acordo com o BC, 95% das cooperativas de crédito obtiveram sobras em 2022. Ademais, outras 4,5% conseguiram contornar prejuízos apenas com recursos de seus Fundos de Reserva – isto é, só 0,5% precisaram recorrer a cooperados para ratear perdas.

Impacto social

As cooperativas têm por obrigação destinar 5% de suas sobras brutas ao FATES, o Fundo de Assistência Técnica, Educacional e Social destinado aos associados, seus familiares e à comunidade como um todo. 

As organizações do SNCC não apenas têm cumprido a exigência como vão adiante: 9% das sobras obtidas em 2022 foram repassadas às atividades de incremento técnico, educacional e social. 

Conclusão: o SNCC está em alta – e pode chegar ainda mais longe

Basicamente, quaisquer números relevantes expostos no relatório do Banco Central mostram bons indicadores para as cooperativas de crédito. Elas possuem mais ativos do que nunca, sua participação de mercado se expandiu e, talvez o mais importante, o crescimento ocorreu em ritmo superior ao restante do SFN.

Apesar dos aspectos positivos, a evolução em alguns segmentos desacelerou, incluindo no principal ativo das cooperativas: as operações de crédito. Entretanto, a crescente diversificação em captação de recursos e a saúde financeira apresentada pelas organizações do setor indica que não há dependência completa.

Isso não significa, contudo, que o carro-chefe das cooperativas de crédito tem pouca margem de crescimento. O público cooperado segue se expandindo a cada ano, tanto em pessoas físicas quanto jurídicas, em todas as regiões do Brasil. Aqueles já associados ainda podem ser fidelizados, deixando de recorrer a outras instituições do SFN para contratações fornecidas no SNCC. Há, portanto, como evoluir mesmo que a evolução no número de cooperados cesse, o que não parece ser uma tendência.

Caminhos do crescimento

O cenário indica caminho para que as cooperativas de crédito continuem a expandir sua participação no mercado e, assim, evoluam sua estrutura e tenham capacidade para lidar com eventuais problemas. Alcançando essa estabilidade, as cooperativas poderão fazer o que as diferencia de empresas comuns: gerar retorno para a sociedade.

É bem verdade que as contribuições para o FATES já estão em níveis acima do exigido. Entretanto, a distribuição desses recursos pode passar por revisões, tendo em vista que apenas 11% são destinados à comunidade geral. Investir as sobras em iniciativas de impacto social amplo se destaca como uma estratégia que coloca em evidência os benefícios mútuos do modelo cooperativista e atrai novos associados.

O crescimento do cooperativismo de crédito pode até ter desacelerado no último ano fiscal, mas há duas boas notícias: 

  • O ritmo ainda é melhor que o de concorrentes do SFN 
  • Cada vez mais pessoas estão conhecendo os benefícios do cooperativismo financeiro

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Arthur Macedo
Arthur Macedo
Jornalista formado pela Universidade de São Paulo. É apaixonado por esportes, faz tudo enquanto ouve música e sempre que possível está em algum cinema. É redator na Coonecta.