O que é cooperativismo: origem, números e abrangência

Você já imaginou como seria trabalhar em uma organização que preza não só pelo desenvolvimento econômico, mas também social? Um lugar no qual o avanço coletivo é tão importante quanto o desempenho individual? 

Acredite: este é o cenário do cooperativismo. Mas o que é cooperativismo, afinal de contas?

Dá para dizer que é um modelo de negócios que já reúne mais de 1 bilhão de pessoas no mundo todo. Mas vai além disso, pois se trata de uma filosofia de vida. 

Então, neste artigo, eu vou mostrar para você a origem do cooperativismo, seus princípios e dados sobre o setor no Brasil e no mundo.

A origem do cooperativismo e os seus princípios

Não tem como entender de verdade o que é cooperativismo sem voltar à sua origem. Ele surgiu na Inglaterra no século XVIII.

No ano de 1844, 28 operários se juntaram para formar o que se tornaria a Sociedade Equitativa dos Probos Pioneiros de Rochdale. Esta foi a primeira cooperativa de consumo, que se tornou a base do que vemos hoje no setor.

De início, a cooperativa de Rochdale oferecia produtos essenciais para o povo da época, como velas, açúcar, farinha e manteiga. Mas com o crescimento da demanda, a cooperativa passou a vender outros produtos e se tornou conhecida por sua qualidade e preços justos.

Além disso, outro ponto que chamou a atenção das pessoas na época foram os valores que a cooperativa promovia. Esses valores ficaram conhecidos como Princípios de Rochdale, e até hoje servem de base para as cooperativas em todo o mundo. Veja quais são esses princípios a seguir.

Conheça os 7 princípios que guiam toda cooperativa

Um dos pontos mais positivos do cooperativismo é que as pessoas decidem entrar no setor por causa dos valores que as cooperativas defendem. Isso é bem diferente de buscar qualquer atividade só por dinheiro.

Assim, é importante que você conheça os 7 princípios básicos do cooperativismo. Então, note como eles se completam e vão além da economia:

  1. Adesão livre e voluntária: qualquer pessoa disposta a cumprir com suas responsabilidades pode entrar em uma cooperativa. Isso não muda por causa de raça, sexo ou crença.
  2. Gestão democrática: todos os membros de uma cooperativa participam ativamente na gestão. Eles elegem seus representantes e agem na criação de políticas e na tomada de decisões.
  3. Participação econômica: cada membro participa com parte do capital da organização e tem um teto sobre o quanto recebe em retorno. O que sobra é usado de acordo com o que o grupo decide de comum acordo.
  4. Autonomia e independência: uma cooperativa não pode fazer um acordo que tire sua autonomia e independência. Assim, sempre se preserva a gestão aberta e democrática entre os membros.
  5. Educação, formação e informação: um dos fortes valores do cooperativismo é o valor dado ao futuro dos cooperados e da sociedade por meio da educação. Isso inclui ensinar a outros e promover outras iniciativas educativas.
  6. Intercooperação: a cooperação entre as cooperativas fortalece o movimento como um todo e pode ocorrer em diversos níveis: por meio de estruturas locais, regionais, nacionais, internacionais. Podem, ainda, ocorrer entre cooperativas do mesmo sistema, entre cooperativas de outros sistemas e mesmo com cooperativas de outros ramos do cooperativismo.
  7. Interesse pela comunidade: parte do trabalho dos membros de uma cooperativa é trabalhar em iniciativas que tornam o desenvolvimento das comunidades mais sustentável. 

O cooperativismo no mundo

Vamos começar a falar um pouco sobre os números do cooperativismo no mundo, e já adianto que eles são muito bons. Se você nunca ouviu falar no assunto antes e até poucos minutos nem sabia o que é cooperativismo, vai se surpreender.

Segundo dados do Anuário do Cooperativismo Brasileiro 2020, existem mais de 3 milhões de cooperativas em todo o mundo. Juntas, elas geram nada menos que 250 milhões de empregos. Isso quer dizer que do ponto de vista financeiro, as cooperativas movimentam muito dinheiro, e não apenas em um lugar, mas em todo o globo.

Prova disso é este exemplo:

Se apenas as 300 maiores cooperativas do mundo fossem um país, elas seriam a 9ª maior economia do mundo.

Além disso, é possível que você conheça alguém que tem ligação com uma cooperativa. Afinal, 1 em cada 7 pessoas do mundo é associada a uma coop.

O cooperativismo no Brasil

Se você viu os números do cooperativismo no mundo e pensou que isso ainda não deve ter chegado por aqui, se enganou. Aliás, o Brasil é um dos países nos quais o cooperativismo cresce a cada dia, e já existem cooperativas de peso no país.

Por exemplo, um relatório da World Cooperative Monitor divulgado em janeiro de 2021 mostrou que das 300 maiores cooperativas do mundo, 6 são brasileiras.

Assim, a lista de cooperativas brasileiras no top 300 é a seguinte:

  • Coamo;
  • Coopersucar;
  • Sicredi;
  • Confederação Nacional das Unimeds;
  • C.Vale;
  • Coop.

Então, na prática, isso quer dizer que o brasil está na linha de frente do cooperativismo. Além disso, há vários ramos e o espaço para crescimento é enorme. É disso que vamos falar agora.

Quais são os ramos do setor no Brasil

Em 2018, os ramos do cooperativismo no Brasil passaram por uma revisão que foi aprovada em 2019. Então, o que antes eram 13 ramos se tornou uma divisão mais enxuta, que leva em conta os fatores: 

  • legislação societária e específica;
  • regulação própria;
  • regime tributário;
  • enquadramento sindical;
  • e a quantidade de cooperativas por ramo.

Assim, ficaram sete ramos para o cooperativismo no Brasil, que são:

  1. Agropecuário: 1223 cooperativas em 2019, com 207 mil empregados;
  2. Consumo: 263 cooperativas em 2019 e mais de 2 milhões de cooperados;
  3. Crédito: 827 cooperativas em 2019 e 71,7 mil empregados;
  4. Infraestrutura: 265 cooperativas em 2019 e mais de 1.1 milhão de cooperados;
  5. Trabalho, Produção de Bens e Serviço: 860 cooperativas em 2019 e 9.759 empregados;
  6. Saúde: 783 cooperativas em 2019 e mais de 108 mil empregados;
  7. Transporte: 1093 cooperativas em 2019 e mais de 99 mil cooperados.

Na prática, isso não trouxe nenhum tipo de ônus às cooperativas do Brasil. Ou seja, essa mudança foi apenas uma forma de organizar melhor a defesa de cada setor e alinhar melhor a comunicação com os públicos interno e externo.

Assim fica claro o que é cooperativismo: um modelo de negócios que preza por valores coletivos, não apenas individuais. Além disso, é uma filosofia de vida que vai além do dinheiro e que se alinha de maneira perfeita com a nova mentalidade da qualidade de vida e da sustentabilidade como pilares da vida em sociedade.

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Romário Ferreira
Romário Ferreira
Jornalista e especialista em marketing de conteúdo e eventos corporativos (B2B). Descobriu sua paixão pelo modelo cooperativista criando conteúdo e eventos, ao longo de mais de 4 anos, para a indústria financeira, quando teve contato direto com cooperativas de crédito de todo o Brasil. É sócio e diretor comercial da Coonecta.