A busca por uma economia digital cooperativa, com mais cooperativas de plataforma, começa a ganhar força pelo mundo.
Nos Estados Unidos, a The New School acaba de lançar um instituto para examinar negócios e projetos digitais pertencentes e controlados por trabalhadores e usuários.
O Instituto para a Economia Cooperativa Digital (ICDE, na sigla em inglês) foi lançado em maio de 2019 e servirá como braço de pesquisa do Consórcio de Plataformas Cooperativas.
O Consórcio, fundado por Trebor Scholz, professor da The New School, é uma rede internacional crescente que apoia a economia da plataforma cooperativa – e já recebeu financiamento de 1 milhão de dólares do Google.
A criação do ICDE se deve ao entendimento de que a economia digital cooperativa é uma área sub-pesquisada nos campos da antropologia, ciência política, sociologia, história e economia. E não só nos EUA, como no mundo todo.
Aqui no Brasil, por exemplo, o assunto começa a ser discutido e o próprio Trebor Schoolz foi um dos palestrantes convidados do último Congresso Brasileiro do Cooperativismo (CBC), realizado em maio de 2019, em Brasília.
O que representa a criação do ICDE
Por meio do conhecimento aplicado e teórico, educação e análise de políticas, o ICDE estudará a propriedade da plataforma e a governança democrática. Temas que trazem conflitos aos atuais modelos de plataformas mercantis, como a UBER.
“De acordo com o legado da The New School, este instituto abrirá novos caminhos apoiando abordagens críticas e interdisciplinares para estudar o ecossistema das cooperativas de plataforma emergentes”, disse David Van Zandt, Presidente da The New School.
O Instituto convocará conferências anuais, concederá bolsas de estudo a estudantes, ministrará cursos sobre economia digital, além de hospedar uma rede de pesquisadores de todo o mundo. Essa rede inaugural de bolsistas de pesquisa conta com:
- Luciana Bruno, do Rio de Janeiro, que vai escrever um estudo de caso sobre a Cataki, uma cooperativa de plataforma para catadores;
- Amelia Evans, de Boston, explorará como dimensionar e financiar a economia digital cooperativa por meio de um fundo de investimento;
- Minsun Ji, de Denver, estudará o movimento das cooperativas de plataforma na Coréia do Sul;
- Morshed Mannan, da Holanda, estudará a lei e a governança das cooperativas protocolares;
- Francis Mikwa Mwongela, do Quênia, explorará o potencial das cooperativas de plataformas no Quênia;
- Jonas Pentzien, de Berlim, estudará os obstáculos legislativos para as cooperativas de plataforma nos Estados Unidos, Alemanha e França.
Ou seja, as cooperativas de plataforma não são um movimento restrito aos EUA, mas sim mundial.
Líderes da indústria, formuladores de políticas e especialistas em cooperação de todo o mundo já expressaram seu apoio ao ICDE:
“As cooperativas em todo o país e em todo o mundo devem deixar sua marca na economia digital, e as plataformas cooperativas oferecem um modelo claro para o futuro da Internet. Apoiamos plenamente o trabalho do ICDE na pesquisa e no conhecimento entre disciplinas para este setor em crescimento”, afirma Doug O’Brien, presidente e CEO da National Cooperative Business Association.
“Plataformas cooperativas darão a todos algo melhor do que o que o Vale do Silício está fazendo para o mundo hoje. Eles oferecem uma alternativa tangível a curto prazo e este novo Instituto fundamenta este trabalho em conhecimento e política essenciais”, acredita Scott Heiferman, cofundador e presidente do Meetup.
“Parabéns pelo sucesso do cooperativismo de plataformas, que começou anos atrás e se tornou uma importante contribuição para as ciências sociais”, completa Saskia Sassen, professora de Sociologia da Universidade de Columbia.
Um futuro com mais Cooperativas de Plataforma
A própria Organização das Cooperativas do Brasil (OCB) afirma que, no mundo, o fenômeno das cooperativas de plataforma está, de fato, se expandindo. É inegável pensar o futuro do setor sem as cooperativas de plataforma.
Já temos exemplos de cooperativas que aplicam os princípios do cooperativismo a essas plataformas digitais. Alguns exemplos nos Estados Unidos são a Loconomics, a Stocksy, a Up&Go e a Savvy. Na Itália, a Cotabo. Na Austrália, a bHive e a Ylab.
Tratam-se de iniciativas em que os prestadores de serviço são proprietários das plataformas, tomam as decisões de maneira democrática através de mecanismos digitais e à distância, de forma muito diferente da experimentada nas cooperativas tradicionais.
Assim, o cooperativismo de plataforma é um movimento que defende a criação de plataformas cooperativistas, nas quais os prestadores de serviço ou usuários também seriam, de forma muito mais democrática, os próprios donos do negócio.