Cooptech Summit e RH Coop Conference 2025: 1° dia discute IA e cultura corporativa

Inteligência artificial, cultura cooperativista e liderança foram alguns dos principais temas debatidos no primeiro dia de WCM 2025. O evento contou com dois palcos organizados pela Coonecta, que trouxeram palestras e painéis dedicados a discutir tecnologia e gestão de pessoas no cooperativismo.

Após a abertura oficial do evento no Palco Mundo, o WCM começou com a apresentação da atriz e apresentadora Danni Suzuki. Na palestra “O futuro é humano”, Suzuki discutiu como as empresas podem equilibrar tecnologia e humanização sem comprometer a cultura organizacional. 

Na sequência, os participantes do Cooptech Summit, focado em tecnologia e inovação, e o RH Coop, dedicado à gestão de pessoas, prestigiaram a programação dos palcos paralelos. Veja o que aconteceu neles! 

Cooptech Summit: Inteligência Artificial e estratégia digital ditam o tom

O palco Cooptech Summit iniciou a programação com Alessandro Faria, cofundador da empresa de inteligência artificial e computação Multicortex. O pesquisador e entusiasta da inovação palestrou sobre a IA Generativa e o novo mundo estabelecido pela tecnologia. Para ele, a IA irá transformar todos os setores “parecendo mágica” e, nesse cenário, inovar passa a ser uma necessidade tanto para os negócios quanto para os profissionais. 

Faria ressalta a velocidade da transformação. “A única certeza que eu tenho é que a melhor tecnologia hoje, a melhor inteligência artificial hoje, será a pior daqui a um ano”, explica. Para ele, a IA não deve ser vista como uma competidora, mas como uma ferramenta que devolverá tempo às pessoas. A colaboração entre humanos e máquinas é o caminho para a evolução, portanto. 

Alessandro Faria, Multicortex – Foto: Júlia Pupo

Em seguida, o professor e doutor Hélio Gomes de Carvalho se juntou ao analista de Inovação do Sistema OCB, Eduardo Sampaio, para uma conversa sobre como estruturar um sistema de gestão da Inovação no cooperativismo. A série de normas ISO 56000 foi criada para ajudar na sistematização da inovação, fornecendo um conjunto de boas práticas, termos e métricas.

“Inovar significa transformar ideias em resultados. Se não trouxe resultado, significa que foi, no máximo, uma boa ideia, uma novidade, algo diferente”, explicou Hélio. Para eles, a inovação precisa de engajamento da alta liderança das cooperativas para ser efetiva. Além disso, o processo de inovar deve começar pelas pessoas – a tecnologia vem depois.  

Inovação no cooperativismo financeiro

Logo após, o painel “Aplicação de Inteligência Artificial em Cooperativas de Crédito” reuniu Nelmo Aquino, gerente de soluções corporativas da Credicom, e Ulysses Pacheco, líder de finanças públicas da AWS Brasil, com a mediação de Alex Lara, diretor de Operações da Skopia.

Alex Lara, diretor de Operações da Skopia – Foto: Júlia Pupo

Aquino destacou a importância de entender o contexto e as dores da cooperativa, capacitar equipes multidisciplinares e começar com projetos pequenos de alto impacto. A qualidade e a segurança dos dados são fundamentais. A Credicom fez isso: começou aplicando a IA por meio de chatbots e esse amadurecimento permitiu que hoje a coop execute projetos mais complexos, como a predição de crédito.

Pacheco, por sua vez, enfatizou que a inovação deve partir de uma dor real em vez de procurar um problema para aplicar a tecnologia. Além disso, os painelistas reforçaram a importância do erro no processo de inovação. “Se você está com medo de errar, nem comece a inovar”, aconselha Pacheco. 

Novos mercados e tecnologia

Começando a programação da tarde, o assunto foi o setor de seguros no cooperativismo. Carlos Roberto Alves de Queiroz, da Diretoria Técnica 4 da Superintendência de Seguros Privados (Susep), falou sobre as oportunidades e desafios que as cooperativas devem enfrentar com a entrada neste novo mercado

Carlos Roberto Alves de Queiroz, Diretor da Diretoria Técnica 4 da Susep – Foto: Júlia Pupo

Nesse cenário, a Lei Complementar nº 213 de 2025 é um “recomeço” e um momento histórico para o cooperativismo de seguros no Brasil, com a SUSEP já trabalhando na primeira minuta de regulamentação. “A lei propicia a participação de sociedades cooperativas, tanto singulares como centrais, e também confederações, nos três níveis tradicionais do cooperativismo”.

O sucesso e a robustez do cooperativismo de crédito foram a grande inspiração para o governo e o mercado olharem novamente para o potencial das cooperativas no setor de seguros, apontou Queiroz. As regras prudenciais serão aplicadas de forma proporcional ao porte e à complexidade de cada cooperativa, explicou.

Rafael Souza, cofundador e CEO da Ubots, subiu ao palco para explicar como gerar negócios através do WhatsApp. Ele explicou que estamos vivendo a junção de três grandes fatores: a transformação digital, a onipresença do WhatsApp no Brasil (usado por 99% da população) e o poder da Inteligência Artificial Generativa.

A IA pode ser usada para qualificar leads, tirar dúvidas sobre produtos complexos (como consórcios), identificar o momento certo para a intervenção de um gerente humano e até mesmo atuar como um copiloto para os atendentes. “O gerente de relacionamentos não fica mais responsável por girar a sua carteira, quem é responsável por girar a carteira é um software”, aponta Souza. 

Cases de sucesso no cooperativismo de crédito

Em seguida, o painel “O Futuro das Cooperativas: Processos Inteligentes como Motor da Eficiência Operacional” foi mediado por Rodrigo Junqueira, CEO da Nexum Tecnologia. Se juntaram ao bate-papo Arthur Menegale, gerente de desenvolvimento organizacional do Sicoob Credicom, e Evaldo Matos, diretor da Coopmetro.

Menegale relata que a transformação digital do Sicoob Credicom foi um processo difícil, pois a cooperativa já tinha uma cultura forte e resultados positivos, mas a automação de processos foi essencial para alcançar a excelência no Programa de Desenvolvimento da Gestão das Cooperativas (PDGC). 

Na Coopmetro, conta Matos, o PDGC foi o “algoritmo” que estruturou a gestão da Coopmetro antes de qualquer automação, evitando o erro de acelerar processos desorganizados. Em um processo de transformação digital, “a cultura vai engolir a estratégia no café da manhã”, se a liderança não estiver engajada, aponta. 

 Rodrigo Junqueira, CEO da Nexum Tecnologia, Arthur Menegale, gerente de desenvolvimento organizacional do Sicoob Credicom, e Evaldo Matos, diretor da Coopmetro – Foto: Júlia Pupo

George Laporta, gerente nacional de performance corporativa do Sicoob, seguiu apresentando o Pacto Sistêmico de Estratégia do Sicoob, mostrando como a cooperativa orienta sua inovação focada nos associados.

O “Pacto Sistêmico de Estratégia” foi a metodologia criada pelo Sicoob para coordenar o planejamento de um sistema com mais de 350 singulares, permitindo objetivos comuns sem perder a individualidade de cada cooperativa. O processo foi construído a partir de dados e escuta ativa dos cooperados. “Nós estamos trabalhando nesse ciclo estratégico com muito empenho para proporcionar a melhor experiência financeira àqueles que nos escolhem.”

Usando IA com responsabilidade e humanidade

O penúltimo debate do dia teve a presença de Wagner Martin, vice-presidente de Relações Institucionais da Veritran no Brasil, e Elson Rocha Justino, diretor executivo do Sicoob Central Crediminas. Mediados por Diogo Angioleti, líder de Gente, Gestão e Inovação da Transpocred, eles falaram sobre a influência do phygital e a adoção de IA no coop.

O painel reforçou que o atendimento digital não substitui o físico, mas sim o complementa, de modo a dar opções aos cooperados. Nesse cenário, a IA é uma ferramenta de personalização, permitindo que o atendimento seja mais assertivo. 

O fator humano, no entanto, segue essencial. “Mais do que ferramentas melhores, nós vamos precisar de seres humanos melhores para avançar nessa nova fase do desenvolvimento humano”, discorre Justino. 

Wagner Martin, vice-presidente de Relações Institucionais da Veritran no Brasil, Elson Rocha Justino, diretor executivo do Sicoob Central Crediminas e Diogo Angioleti, líder de Gente, Gestão e Inovação da Transpocred – Foto: Júlia Pupo

O primeiro dia terminou com José Gustavo Costa, coordenador de tecnologia da informação do Sicoob. Ele detalhou como ocorre a Jornada do Sicoob demonstrando a inteligência artificial aplicada ao cooperativismo financeiro. A fim de garantir segurança e governança, o Sicoob optou por uma arquitetura de IA multimodelo e open source.

“A gente foi muito numa filosofia de uma IA segura, responsável e com controle dos custos”, conta Costa. A arquitetura está evoluindo para um modelo de múltiplos agentes de IA que serão injetados diretamente nos produtos. “A gente tem 82 empregados digitais que já salvaram ali 440 mil horas de trabalho desde o início da operação desses robôs”, completa. 

RH Coop: liderança, cultura e estratégia na gestão de pessoas

Enquanto as tendências de mercado eram pautadas no Cooptech, o palco RH Coop Conference trouxe palestras de extrema relevância para a área de recursos humanos e gestão de colaboradores.

O primeiro painel teve como tema “RH estratégico na prática: a visão das lideranças das cooperativas”. O debate contou com Fernanda Chidem, diretora comercial da Cooperativa Coletiva, mediando a conversa com Frederico Peret, presidente da Unimed-BH, e Warlen Ferreira de Freitas, diretor administrativo e financeiro da Cooperativa Comigo.

Os especialistas discutiram algumas dificuldades que afligem a gestão de pessoas no cooperativismo, como as diferenças geracionais dos colaboradores e a dispersão geográfica de grandes cooperativas. 

Para ambos, o essencial é não esquecer a essência cooperativista, e a área de RH deve ser parceira da liderança nesse processo. “A gestão de pessoas é fundamental para fazer a conexão dessas áreas, por isso que ela tem que participar de todos os processos. Ela tem que entender bem a gestão do sócio, do cooperado, da liderança e todo o back-office que está ligado aos colaboradores”, pontua Frederico Peret.

Frederico Peret, presidente da Unimed-BH, e Warlen Ferreira de Freitas, diretor administrativo e financeiro da Cooperativa Comigo – Foto: Júlia Pupo

Autoconhecimento e educação corporativa como ferramentas de desenvolvimento profissional

Na sequência, subiu ao palco Débora Ingrisano, gerente de Desenvolvimento de Cooperativas do Sistema OCB. A especialista mostrou como a área de pessoas pode focar em desenvolver as lideranças. Débora aponta que líder é qualquer um que assume a responsabilidade de encontrar potencial em pessoas e processos, e que tenha coragem de desenvolver esse potencial.

Para bancar esse desafio, as lideranças devem contar com o apoio do RH para se desenvolverem e se autoconhecerem. Saber suas paixões e propósitos é o melhor caminho para incentivar outros colaboradores. Débora incentiva que a psicologia e a psicanálise devem estar dentro dos cursos de liderança e das relações de liderança nas organizações.

O período da manhã também contou com a apresentação do case “Universidade Localiza: impulsionando o desenvolvimento para chegar lá”, com Bruna Motta, coordenadora de programas de desenvolvimento, e Thamires Souto, especialista em educação corporativa, ambas da Localiza&Co.

As profissionais contaram como a empresa usa da educação corporativa para desenvolver seus colaboradores e impulsionar o negócio a longo prazo. “Hoje nós falamos que a aprendizagem conectada à cultura e à estratégia do negócio é algo que traz um diferencial competitivo para nós no mercado. A gente acredita muito que isso aumenta o engajamento do nosso time”, discorre Bruna Motta.

Débora Ingrisano, gerente de Desenvolvimento de Cooperativas do Sistema OCB – Foto: Júlia Pupo

Novos talentos e aplicação de IA 

Após o almoço, a primeira palestra seguiu o tema “Integração e Aculturamento de Novos Talentos no Cooperativismo”, com Kasuo Yassaka, fundador da Yassaka, e Willians Pressi, sócio da mesma empresa. Kasuo discorre sobre o crescimento acelerado do cooperativismo e os desafios decorrentes.

“Muitos colaboradores vêm do mercado tradicional e não sabem o que é o cooperativismo”, aponta Yassaka. Além disso, pela primeira vez na história quatro gerações estão trabalhando no mesmo ambiente de trabalho, e o aprendizado está cada vez mais acelerado.

Para os especialistas, três pilares são essenciais para lidar com essas questões: uma boa integração no processo de onboarding, uma cultura de aprendizado contínua, com feedbacks diários, e uma liderança engajada para manter a cultura da organização.

Alessandro Faria, que começou o dia na Cooptech, também marcou presença no palco de RH. O cofundador da Multicortex discutiu os impactos da IA no mundo do trabalho. Ele aponta que os seres humanos são movidos por ondas de transformações – seja a descoberta do fogo, ou o uso da internet. Saber se adaptar nesses contextos é imprescindível.

“As pessoas que não usam a inteligência artificial perderão os empregos para pessoas que usam. As empresas que não usam a inteligência artificial serão compradas pelas empresas que usam”, pontua Alessandro Faria.

Por fim, uma palestra sobre cultura corporativa

Finalizando o primeiro dia, Márcia Mello, gerente de Cultura, Diversidade & Inclusão do Sicredi Confederação, apresentou a palestra “Cultura cooperativista: a abordagem sistêmica da Sicredi Confederação”. A especialista defende que, ao impulsionar a cultura de um sistema, é preciso se atentar à autenticidade de cada unidade e de cada colaborador.

“Falar de cultura é fazer a gestão dela e das microculturas que existem dentro do nosso sistema e do nosso ecossistema. Porque nós somos diferentes e nós precisamos entender quais são essas diferenças”, ressalta Márcia.

Márcia finaliza o dia reforçando que a cultura de uma empresa vai além das palavras: ela está nas ações, nas decisões do dia a dia. “Quando olhamos para o propósito, missão, visão e valores, entendemos quais são os comportamentos e as competências que precisamos colocar em prática no dia a dia”, pontua, complementando que as lideranças têm um papel fundamental na promoção dessas ações.

Apoio do Cooptech Summit e RH Coop Conference

Realizado pela Coonecta, o Cooptech Summit conta com patrocínio master do InovaCoop e do Sistema OCB. Além disso, Lecom, Nexum, Faciltech, Veritran, Skopia e Ubots são as patrocinadoras gold. O apoio é da Federação Nacional das Cooperativas de Crédito (FNCC).

Já o RH Coop Conference é apoiado pelos patrocínios de CapacitaCoop, Sistema OCB, Cooperativa Coletiva, Ânima Soluções e Colabor, além de apoio da FNCC. 

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