WCM 2024: primeiro dia tem inovação, intercooperação, ESG e foco na liderança

A 10ª edição do WCM começou neste 14 de outubro, no Minascentro, em Belo Horizonte. O congresso sobre liderança e estratégia no cooperativismo será concluído amanhã (15). Mais uma vez, o Cooptech e o HR Coop Conference fizeram parte do WCM 2024. 

O pontapé inicial do WCM 2024 foi a palestra de João Branco, durante a manhã. Referência no mundo do marketing por sua experiência com o McDonald’s, o profissional falou sobre a importância da intencionalidade no trabalho e seu papel em trazer propósito à atividade.

Confira os destaques do primeiro dia do WCM 2024. Apresentações sobre práticas ESG, liderança, desafios do cooperativismo e inovação foram alguns dos principais temas neste primeiro dia de congresso. E para ter acesso aos insights dos dois dias do evento, baixe o report exclusivo da Coonecta!

WCM 2024: ESG, impacto e empreendedorismo

Após o discurso inicial, foi a vez de Fritz Fessler, Diretor da Cooperativa para Bens Comuns, subir ao palco mundo. O dirigente falou sobre as possibilidades de fomentar o desenvolvimento coletivo na palestra “Financiamento Cooperativo para o Bem Comum”.

Fessler apresentou maneiras como as instituições financeiras podem trabalhar pelo bem da comunidade, através de empréstimos e financiamentos voltados a iniciativas sustentáveis. “Empresas de investimentos têm o dinheiro para investir. Será que elas vão encaminhar o dinheiro para ações de alto nível ou vão usá-lo para o bem comum?”, questionou.

Protagonismo do cooperativismo em práticas ESG

Práticas para o bem comum podem beneficiar não apenas a sociedade, como também sua cooperativa. É o que mostrou a apresentação “O ESG é um Impulso para seu Negócio”, liderada por Marco Simões Coelho, Doutor (PhD) e Mestre em Administração de Empresas e sócio-diretor da MSDpar Investimentos.

Segundo Coelho, há quatro aspectos que estimulam a sustentabilidade no mundo corporativo: legitimidade, melhoria de processos, seguro social e sucesso de mercado. Os investimentos no setor ainda são considerados baixos. Ser uma organização sustentável pode servir como ferramenta para gestão de recursos, melhoria na reputação, controle de danos, boa comunicação e inovação.

Com base em princípios ESG, o cooperativismo pode ser chave na construção de um mundo melhor. “Creio que o futuro será cooperativo. Unidos, podemos compartilhar conhecimentos, fortalecer as economias locais e mundiais”, disse Ariel Guarco, Presidente da ACI (Aliança Cooperativa Internacional), no “Painel Somos Coop ESG”. Também participaram desta sessão Helton Freitas (Presidente da Seguros Unimed), José Alves (Presidente da ACI Américas) e Tania Zanella (Superintendente no Sistema OCB).

Zanella tratou a pauta ESG como “prioritária” e detalhou o Programa ESGCOOP, projeto do Sistema OCB que oferece soluções para cooperativas em sua trajetória de desenvolvimento sustentável. Segundo diagnóstico piloto de 2023, considerando 351 associações de 19 federações, a aderência ESG é de 51,7%, com o aspecto social mais avançado e o ambiental menos contemplado.

Após as palestras sobre sustentabilidade, Kasuo Yassaka, fundador da empresa especialista em gestão Yassaka, subiu ao Palco Mundo e apresentou “Para além das metas”, sobre como unir propósito aos negócios.

Inovação exige um pouco de… rebeldia?

Última palestra do Mundo – e do primeiro dia de evento como um todo –, “Talento e Tronos” levou ao WCM outra perspectiva sobre inovação e tendências de mercado. Matteo Rizzi, empreendedor, investidor e autor, foi o responsável pela apresentação.

O palestrante se aprofundou em Embedded Finance, a integração de serviços financeiros a plataformas não financeiras. Segundo Rizzi, a previsão é de alta em empréstimos ao consumidor, seguros e pagamentos na comparação de 2020 a 2025. As fintechs se beneficiam e têm potencial de crescimento.

A inovação, termo tão valorizado no mundo cada vez mais digital, não é algo superficial e fácil de entender. Durante a apresentação, Rizzi dividiu-a em duas formas: incremental (pequenas melhorias) e radical (transformações significativas). O palestrante defende que a inovação radical só pode ser alcançada com o talento de rebeldes: profissionais difíceis de controlar, que normalmente não ocupam cargos de liderança, mas que têm capacidade de construir algo novo se trabalharem juntos.

Cooptech: inovação, intercooperação e digitalização

Primeira atração do Cooptech, a “Palestra InovaCoop – Como as cooperativas estão viabilizando a inovação” contou com a participação de Guilherme Souza Costa, Gerente do Núcleo de Inteligência e Inovação do Sistema OCB, e Fernanda Freitas, Gerente de Inovação da ABGI Brasil.

Costa destacou que apenas 13 das 100 diretrizes votadas no Congresso Brasileiro do Cooperativismo, realizado em maio, têm relação com inovação. “Isso mostra que as cooperativas estão céticas quanto à inovação”, acrescentou.

Ele mencionou o setor de crédito como um destaque positivo nesse segmento, liderando tanto em engajamento em cursos quanto em implementação de estratégias. O financiamento é uma questão que trava o avanço de iniciativas inovadoras, especialmente em cooperativas de menor arrecadação.

Fernanda Freitas, Gerente de Inovação da ABGI Brasil, ressalta que a inovação é, com frequência, preterida no orçamento das cooperativas. A busca por recursos, então, passa por encontrar fontes de fomento adequadas. “Há fontes para compartilhar os risos de inovar. As cooperativas não precisam usar somente recursos próprios”, explica.

Inovar como sinônimo de desenvolvimento

A sequência do Cooptech trouxe mais uma apresentação sobre a temática: a palestra “Inovação transformadora e seu impacto social na prática” foi mediada por Alexandre Carrasco, fundador da Repensando Negócios, e teve participação de João Carlos Leite, Presidente do Sicoob Sarom, e Tiago Schmidt, Presidente do Conselho de Administração da Sicredi Pioneira.

Leite não se preocupou em dar uma definição exata sobre o que é inovação, já que seu foco está nos resultados para a comunidade. O presidente citou o Sicoob Sarom como um exemplo de novas práticas que geram desenvolvimento local: a cooperativa contribui ao financiamento de produtores locais, de uma cooperativa educacional e incentiva o queijo de São Roque de Minas. 

Schmidt também destacou a importância do investimento com foco além da associação. “Não existe cooperativa rica em sociedade pobre. O papel da cooperativa é gerar riqueza para seus associados e a comunidade”, disse. A Sicredi Pioneira trabalha para instituir uma cultura de inovação, e em 2021, elaborou o projeto Complexo.Lab.

“Somos os únicos agentes do sistema financeiro nacional capazes de gerar prosperidade local”, descreve Leite. Schmidt faz coro: “o papel de uma cooperativa é criar vínculo com a comunidade.

Intercooperar para inovar

Vilmar Saúgo, Diretor executivo do Sicoob Credisul, Paulo Alberto Machinski, CFO da Castrolanda e Marcelino Bellardt, CEO da Nater Coop mostraram como a intercooperação acontece na prática com seus cases de sucesso.

O Sicoob Credisul, por exemplo, é parceiro da Unimed Vilhena no Hospital Cooperar, financiado por uma e gerido pela outra. Saúgo narrou como a iniciativa nasceu para suprir as necessidades locais por serviços de saúde e como a Unimed Vilhena ingressou no projeto. 

Machinski contou a história da Unium, uma marca fundada pela intercooperação entre as cooperativas agropecuárias paranaenses Castrolanda, Frísia e Capal em um modelo que mantém as individualidades de cada uma delas, sem uma cooperativa central. 

Por fim, Bellardt relatou a criação da Vexgo, uma marca surgida a partir da união entre a cooperativa agropecuária capixaba e a Coopetranserrana, de transporte. A Nater precisava melhorar a logística e a Coopetranserrana, que se dedicava ao transporte escolar e ao turismo, sofreu com os impactos da pandemia. A intercooperação trouxe bons resultados para ambas.

O que está tirando o sono das coops de crédito

Assuntos importantes para as cooperativas de crédito, as resoluções 4.966/21 do Conselho Monetário Nacional (CMN) e 352/23 do Banco Central foram abordadas no Cooptech. Richard Oliveira e André Rezek, presidente e diretor executivo da Fáciltech, respectivamente, falaram sobre o tema.

Oliveira detalhou a aplicação da resolução 4.966, à qual classificou como “muito ampla e profunda”. A regulamentação, válida a partir de janeiro de 2025, exigirá que as instituições financeiras contabilizem suas provisões para créditos. Segundo o diretor da Fáciltech, o Banco Central se reuniu recentemente com cooperativas e informou que ainda pode alterar alguns pontos.

Como aliar tecnologia e proximidade

“Relacionamento com o cooperado: como ser tech, sem perder a proximidade”, a penúltima palestra do dia no Cooptech, reuniu João Sadao, Gerente de Cooperativismo e Experiência do Cliente da Cocamar, e Eduardo Hanauer, Gerente de Customer Experience da Unicred União. Marcos Vernei Schuster, diiretor executivo da Transpocred, foi o mediador do encontro.

Os gerentes trouxeram perspectivas sobre a incorporação de tecnologias no setor de atendimento ao cooperado. A Unicred União recorreu ao trabalho de uma agência para padronizar o serviço, capacitar atendentes e suprir as necessidades de forma humanizada em menos de um minuto. “Na nossa cooperativa, terminamos com a frase ‘não consegui retorno’. Sempre há retorno, e com agilidade”, disse Hanauer.

Já Sadao retratou uma iniciativa cortada que ajudou a Cocamar a ter maior compreensão da importância de seu atendimento. A cooperativa buscou informações sobre como grandes empresas abordam a questão, e encontrou boas soluções do ponto de vista operacional. Entretanto, ao verificar que a experiência tornou-se menos pessoal para o cooperado, o projeto foi derrubado.

Manter o associado próximo é fundamental para os negócios. “Cooperado satisfeito faz mais negócios e recomenda a cooperativa”, declarou Sadao. Entretanto, há caminhos para inserir tecnologia e manter o processo personalizado. “A IA está aí e ela precisa ajudar, nos fazer crescer nesse processo”, sugeriu Hanauer.

Cooperativismo 4.0

Encerrando o palco, Rodrigo Junqueira, CEO e fundador da Nexum Tecnologia, Luis Fernando Moreira, Coordenador Jurídico e de Governança do Sicoob SP, Melk Seixas, Analista de Processos do Sicoob Credinor e Renato Rossi, Diretor de Vendas e Parcerias da Lecom Tecnologia, falaram sobre como a automação é central para o cooperativismo 4.0.

O conceito de cooperativismo 4.0 tem a ver com o uso de recursos tecnológicos para facilitar a operação, e os exemplos práticos mostram a importância de inserir a automação nas cooperativas de crédito. Moreira destacou a melhora do relacionamento entre central e singulares após modernização. Já Seixas, da Sicoob Credinor, classificou as empresas de tecnologia Lecom e Nexum como parceiras estratégicas, tendo em vista sua contribuição para 120 processos em vários níveis da organização.

HR Coop Conference: liderança e atração de talentos

A primeira atração do HR Coop Conference foi a apresentação “Cultura e educação coop: como disseminar internamente para colaboradores e cooperados”, comandada pela palestrante em desenvolvimento de lideranças Thaís Duarte.

A palestra abordou a necessidade de um processo de educação constante para implementar a cultura do cooperativismo em uma instituição. Para que sua inserção seja efetiva, é necessário conhecer as características de cada geração, além de saber formas efetivas de alcançá-la. Investir na juventude é fundamental nesse cenário.

Algumas das estratégias de comunicação efetiva mencionadas por Duarte são comunicação transparente, liderança exemplar e reconhecimento e recompensa. Tais práticas podem evitar o abandono ao movimento cooperativista, que, segundo a palestrante, ocorre por falta de engajamento e sensação de desconexão entre discurso e realidade.

Como atrair talentos para o cooperativismo

A importância da comunicação institucional foi reforçada na apresentação seguinte do HR Coop, focada na disseminação de mensagens ao público externo e na atração de talentos. Samara Araújo, Gerente de Comunicação da OCB, e João Casseb, Presidente da Coopersystem, apresentaram. Marcelo Vieira Martins, Diretor Executivo da Unicred União, foi o mediador.

Em um mercado altamente competitivo, é necessário atrair talentos alinhados aos ideais do cooperativismo. A apresentação trouxe dicas para fazer isso de maneira efetiva, como divulgar vagas com detalhes, mostrar com clareza o novo papel dos candidatos na comunidade e comunicar possibilidades de crescimento profissional com propósito dentro das cooperativas, construindo uma narrativa sobre a organização.

A atratividade da marca também foi mencionada na palestra “Tendências do desenvolvimento humano: o que pode estar fora do seu radar”, concedida por Carolina Schmitt Nunes, consultora em educação no DOT Digital Group, e Guilherme Souza Costa, Gerente do Núcleo de Inteligência e Inovação do Sistema OCB.

O principal ponto da apresentação foi expor como o ambiente de trabalho está se transformando em meio à acelerada digitalização. O contexto exige adaptação às tendências, gerenciamento de diferentes gerações e investimento em capacitação – aprendizagem customizada e baseada em IA são vertentes em alta nesse âmbito.

Lideranças femininas no cooperativismo

Elas comandaram a primeira apresentação da tarde no HR Coop. Carolina Torres (presidente da Favoo) e Roberta Caldas (presidente da Transpocred), com mediação de Maíra Santiago (presidente da Cooperativa Coletiva), abordaram os desafios enfrentados pelas mulheres no mundo corporativo como um todo, e questões específicas do cooperativismo.

Conforme demonstrado no último Anuário do Cooperativismo, o ambiente cooperativista ainda é majoritariamente masculino (77% dos cargos de liderança). Nesse contexto, algumas questões são comuns a muitas mulheres: síndrome de impostora, necessidade de apoio de homens para ascensão profissional e sensação de incapacidade, conforme relataram as palestrantes.

O cooperativismo deveria ser um ambiente propício para o estabelecimento de lideranças femininas. Em sua essência, o modelo é inclusivo, e historicamente conta com mulheres no centro de algumas atividades. A expectativa por avanços em inclusão e inovação pode ajudá-las a superar barreiras e expandir ainda mais sua presença em posições de liderança.

IA no RH e impacto na transformação cultural

A construção de um ambiente de trabalho atualmente pode ser facilitada pela tecnologia. E esse foi um dos tópicos de outra palestra no palco: “RH 5.0: desafios e soluções personalizadas para cada colaborador”, apresentada por Sérgio Itamar.

O professor da Unicuritiba coloca a IA como uma forma de ajudar as cooperativas a lidarem com a grande quantidade de informações necessárias para gerenciar os recursos humanos. Dessa forma, uma ferramenta de inteligência artificial pode analisar e obter dados sobre desempenho, habilidades e saúde mental dos colaboradores. Entretanto, ela deve ser apenas uma aliada, não tomadora de decisões. Itamar destaca que profissionais com senso crítico são cada vez mais importantes.

As IAs generativas não apenas alteram procedimentos do dia a dia, como também imputam uma verdadeira transformação cultural. E foi justamente esse o recorte da última apresentação do dia no HR Coop, comandada por Neto Paim, Diretor de Inovação e Tecnologia da Gi Group Holding Brasil.

Para Paim, o papel da IA hoje é similar ao da internet nos anos 2000. Ou seja, quem não se adaptar encontrará dificuldades para se manter no mercado de trabalho. Isso envolve entender os “superpoderes” que as ferramentas generativas proporcionarão às organizações, e fazer as perguntas corretas. O professor, no entanto, enfatiza que a inteligência artificial não é o fim, e sim um meio que necessita de supervisão humana.

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Arthur Macedo
Arthur Macedo
Jornalista formado pela Universidade de São Paulo. É apaixonado por esportes, faz tudo enquanto ouve música e sempre que possível está em algum cinema. É redator na Coonecta.