Sistema Swift: uma cooperativa no coração da economia global e do conflito na Ucrânia

Após o início dos ataques da Rússia contra a Ucrânia e o seu desenrolar geopolítico, os russos passaram a sofrer severas sanções econômicas da União Europeia e dos Estados Unidos. O objetivo das sanções é reduzir a capacidade do governo chefiado por Vladimir Putin em manter o conflito ativo.

As sanções envolvem congelamentos de ativos do banco central russo estocados no exterior, o cancelamento de compra de gás natural e bloqueio de contas de magnatas russos. As medidas, até aqui, resultaram em uma debandada de empresas ocidentais do território russo e na forte desvalorização da moeda do país, o rublo. 

Uma das sanções mais duras impostas contra o Kremlin foi o banimento do país no sistema Swift, isolando ainda mais a economia do país. O Swift é o principal sistema mensageiro de transações financeiras internacionais, cumprindo um papel importante no ambiente bancário e comercial internacional.

Fora do Swift, bancos russos podem ficar inviabilizados de confirmar transações e pagamentos para fora do país. Isso afeta, na prática, muitas das instituições russas que importam, exportam ou investem em países estrangeiros.

O cooperativismo no âmago da economia global

E onde entra o cooperativismo nessa história? O Swift é uma cooperativa internacional de segundo grau – isto é, composta não por indivíduos, mas por outras instituições -, sujeita à legislação cooperativa da Bélgica.

A sigla Swift significa Society for Worldwide Interbank Financial Telecomunication, ou, em português, Sociedade para Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais. 

A instituição foi fundada em 1973, por 239 instituições financeiras de 15 países diferentes, a fim de facilitar a confirmação de pagamentos entre diferentes nações, e deu início às operações em 1977.

Com a globalização da economia após o fim da guerra fria e as crescentes cifras do comércio internacional, o Swift se expandiu. Hoje, ele é formado por mais de 11 mil organizações espalhadas por mais de 200 países. 

A vantagem cooperativa

O Swift não foi a única tentativa de padronizar a comunicação das transações financeiras internacionais. Mas, então, porque foi ele que dominou esse mercado?

No livro The Society for Worldwide Interbank Financial telecommunications (SWIFT), Susan Scott e Markos Zachariadis defendem que o sucesso da organização tem muito a ver com a escolha pelo modelo cooperativista.

Concorrentes, como a FNCB, tentaram solucionar os mesmos problemas que o Swift, mas com interesses comerciais. O Swift, com seu formato que oferece participação ativa dos bancos, ganhou a preferência do mercado financeiro, por causa de sua maleabilidade e construção coletiva da operação.

O Swift estabeleceu o que os autores chamam de “co-opetition” – a cooperação e competição simultânea das instituições, com ganho mútuo entre as partes.

Cooperação

Em seu site, o Swift descreve que, “como uma cooperativa global neutra, é definido pela sua comunidade de usuários ao redor do mundo. Acreditamos que, juntos, podemos conquistar mais coisas”. 

A entidade argumenta que a cooperação com seus usuários ajuda na compreensão de suas necessidades. A inovação é central no processo do Swift, que “opera com a comunidade para estabelecer padrões, moldando práticas de mercado e desenvolvendo novos serviços”.

Em 2011, Gottfried Leibbrandt, que atuou em diversos postos no Swift, inclusive como CEO, reforçou os princípios cooperativistas da instituição em seu processo de expansão ao oriente. 

Segundo ele, “nós somos uma cooperativa, e isso inclui oferecermos a ele uma cadeira em nossa mesa. Não somos uma empresa ocidental indo para o oriente. Se formos para a Índia, isso quer dizer que nos tornamos indianos. Essa é a nossa filosofia”. 

Estrutura administrativa

Os donos da Swift são os seus membros. São eles que definem as lideranças da instituição, levando em conta a proporção de entidades cooperadas por país. 

O conselho de administração do Swift é composto por 25 diretores independentes que não recebem remuneração. Um mesmo país pode indicar até dois diretores. Diversas nações com menor participação podem se unir em um bloco para que indiquem, conjuntamente, um diretor. 

Os membros também definem o comando de comitês especializados, que aconselham e supervisionam as atividades dos diretores da cooperativa. São eles:

  • Comitê de Auditoria Financeira
  • Comitê de Bancos e Pagamentos
  • Comitê de Riscos Corporativos
  • Comitê de Recursos Humanos
  • Comitê de tecnologia e produção

A supervisão da atuação do Swift também é feita de forma cooperativa pelos bancos centrais dos países que compõem o G-10. Além disso, há ainda um fórum de supervisão com a presença de bancos centrais de outras economias importantes, dentre os quais está o Banco Central do Brasil. 

Conclusão

O Swift mostra como o modelo cooperativista é eclético. Ele pode ser praticado em pequenas regiões ou no mundo todo. Por trabalhadores rurais ou pelas maiores organizações do mercado financeiro global. Sempre com inovação e disrupção.

A cooperativa revolucionou a agilidade e a segurança de transações financeiras internacionais. O impacto que seu bloqueio pode causar na Rússia é a prova de sua força e mostra quão amplos são os horizontes do cooperativismo.

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Gustavo Bezerra
Gustavo Bezerra
Jornalista pós-graduado em Jornalismo Contemporâneo e Digital. Foi integrante do programa Estagiar da TV Globo. Apaixonado por literatura. É coordenador de conteúdo da Coonecta.