Novo ramo: cooperativas de produção de bens e serviços

A partir da reorganização dos Ramos do Cooperativismo, em 2018, surgiu o Ramo de Cooperativas de Produção de Bens e Serviços. O Anuário do Cooperativismo Brasileiro do mesmo ano afirma que esta é a nova denominação do Ramo Trabalho. No entanto, não se trata apenas de uma mudança de nome.

O fato é que o Ramo de Produção de Bens e Serviços engloba aquelas cooperativas que se dedicam à prestação de serviços especializados a terceiros. Ou, ainda, que produzem bens como o beneficiamento de material reciclável e artesanatos.

Dessa maneira, o ramo de Produção de Bens e Serviços absorveu completamente os antigos ramos Especial, Mineral, Produção e Trabalho. Além disso, absorveu também parte dos ramos Educacional e de Turismo e Lazer.

Em tempo, outra parte do ramo Educacional foi absorvido pelo Ramo Consumo, que recebeu também parte do ramo Turismo e Lazer. Este foi desmembrado também para o ramos Transporte. Clique aqui para saber mais sobre a reorganização de todos os ramos do Cooperativismo.

Panorama do ramo de cooperativas de produção de bens e serviços

Para ter uma noção do tamanho que passa a ter o ramo de cooperativas de produção de bens e serviços, é preciso avaliar os ramos absorvidos. Afinal, como ainda não há histórico a ser considerado, o Anuário 2019 ainda não tem dados específicos deste ramo.

Portanto, vamos analisar isoladamente os ramos que compõem o ramo de produção de bens e serviços: Educacional, Especial, Mineral, Produção, Trabalho e Turismo e Lazer.

Ramo educacional

Com 265 cooperativas, 60,7 mil cooperados e 3,4 mil empregados, o setor tem registrado aumento na quantidade de cooperados. Entre 2014 e 2018, o crescimento foi de 17%, passando de 52 mil para 60,7 mil no período. A quantidade de cooperativas, entretanto, tem diminuído, de 302, em 2010, para 282, em 2014, e 265, em 2018.

É interessante notar que se trata de um ramo muito heterogêneo, pois é composto por cooperativas com diferentes características. Há, por exemplo, cooperativas de pais; de professores; de pais e professores; e de alunos.

De qualquer maneira, em sua maioria as cooperativas educacionais são micro e pequenas empresas. Assim, 49% delas tem faturamento de até R$ 360 mil. Outras 22% faturam até R$ 1,5 milhão. Até R$ 10 milhões de faturamento é registrado por 23% das cooperativas educacionais. E, por fim, 5% delas têm faturamento entre R$ 10 e R$ 100 milhões.

No total, arrecadaram R$ 55 milhões em tributos e despesas com pessoal. O capital social destas cooperativas é de R$ 16,6 milhões. Em 2018, R$ 162,8 milhões foram registrados na forma de ingressos.

Oportunidades e desafios do ramo educacional

Grandes conglomerados de capital aberto têm infligido profundas transformações no mercado educacional, incluindo a tendência de concentração. Além disso, o setor como um todo está às voltas com as novas diretrizes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

Em paralelo, novas metodologias de aprendizagem lançam mão de tecnologia e inovação que precisam ser incorporadas às salas de aula das cooperativas educacionais.

Um outro desafio identificado pelo Anuário diz respeito à diferenciação. Ou seja, o próprio cooperativismo tem sido tratado como um diferencial de mercado por meio de seus princípios e valores. Desde 2017, afirma o Anuário, o ramo trabalha questões relacionadas à gestão das cooperativas e ferramentas para desenvolvimento da cultura de cooperação nas escolas.

Ramo Especial

Este ramo do cooperativismo se dedica à geração de oportunidades de trabalho, renda e conquista da cidadania para pessoas socialmente vulneráveis. É o caso, por exemplo, de pessoas com deficiência, pacientes psiquiátricos, dependentes químicos, egressos do sistema prisional, pessoas em cumprimento de penas alternativas e adolescentes em idade adequada ao trabalho.

Apenas 10 cooperativas atuam neste ramo – em 2014 eram apenas oito, São 377 cooperados – crescimento de 7,7% entre 2014 e 2018 – e oito empregados. Agora, o Ramo Especial passa a fazer parte do ramo de cooperativas de produção de bens e serviços.

Ramo Mineral

A missão das cooperativas do Ramo Mineral é organizar a atuação de seus cooperados. Ou seja, auxiliar nas atividades de lavra, extração, industrialização, comercialização e exportação de produtos minerais.

Neste ramo, a quantidade de cooperativas cresceu 19% entre 2014 e 2018, chegando a 95 cooperativas, com 59 mil cooperados e 177 empregados.

Conforme pontua o Anuário, o Ramo Mineral apresenta força e espaço mercadológico para crescer além dos R$ 150 milhões em ingressos registrados em 2018. Naquele ano, as cooperativas do Ramo Mineral gastaram R$ 6,2 milhões em tributos e despesas com pessoal. O ramo apresenta um Ativo Total de R$ 81,9 milhões.

Oportunidades e desafios do Ramo Mineral

São três os principais desafios a serem superados pelas cooperativas que atuam neste ramo do cooperativismo:

  1. Lentidão na liberação das licenças e permissões para operação
  2. Falta de linhas de financiamento para incentivo à pequena mineração
  3. Falta de políticas públicas para fomento da pequena mineração

O ramo entendo como oportunidade a melhoria na imagem do setor perante à sociedade e a conclusão do Projeto Sustentabilidade Mineral. Além disso, o ramo visa a melhoria na articulação político-institucional para apoio da regulamentação do Decreto-lei nº 9.406/2018 e da Lei 13.575/2017, que cria a Agência Nacional de Mineração (ANM).

Ramo Produção

Com 230 cooperativas, 5.564 mil cooperados e 1.132 mil empregados, este ramo apresentou retração em todos os aspectos analisados entre 2014 e 2018. Além disso, 86% das cooperativas deste ramo tem faturamento de até R$ 360 mil. Ainda assim, foi responsável pelo recolhimento de R$ 1,3 milhão em tributos e despesas com pessoal em 2018.

Este ramo abriga cooperativas que geram, criam ou fabricam bens, produtos e mercadorias. São, em geral, formadas por pequenos empreendedores. O capital social do ramo Produção é de R$ 1,8 milhão, com um Ativo Total de R$ 5,7 milhões.

Oportunidades e desafios do Ramo Produção

Conforme pontua o Anuário, dois negócios apresentam boas perspectivas para as cooperativas deste ramo: artesanato e reciclagem. Isso porque as tendências de consumo consciente e sustentável, baseadas na economia criativa e nas novas possibilidades para comercialização e distribuição dos produtos, têm se mostrado cada vez mais promissoras.

O mesmo vale para aquelas cooperativas dedicadas à reciclagem, que contribuem para o cumprimento da Política Nacional de Resíduos Sólidos. Neste contexto, apresenta-se como principal desafio a busca pelo reconhecimento para obtenção de apoio e suporte, inclusive por meio de linhas de financiamento específicas.

Ramo Trabalho

Além de terem surgido como uma resposta às crises de emprego que assolam diversos países, as cooperativas de trabalho têm papel importante na formalização de ocupações. Dessa maneira, o ramo é bastante abrangente, atendendo a todos os segmentos de atividades econômicas.

No total, são 925 cooperativas, 198.466 mil cooperados e 5.105 empregados. A atuação destas cooperativas gerou R$ 164,6 milhões em tributos e despesas com pessoal em 2018.

Devido às características de sua atuação, que se volta à inserção do cooperado no mercado de trabalho, 83% das cooperativas tem faturamento de até R$ 360 mil por ano, 14% chegam a, no máximo, R$ 1,5 milhão e apenas 2% e 1%, respectivamente, faturam até R$ 10 milhões e R$ 100 milhões.

Em 2018 foram registrados R$ 1,1 bilhão em ingressos no ramo, com R$ 61,5 milhões em sobras do exercício e capital social de R$ 35,9 milhões.

Oportunidades e desafios do Ramo Trabalho

Assim como a economia em geral, com elevado índice de desemprego, o ramo cooperativista de trabalho sente os reflexos da crise. Agrava o quadro o fato de os órgãos da administração pública nem sempre compreenderem as especificidades das cooperativas.

O Anuário 2018 afirma que as alterações na legislação trabalhista e de terceirização e a legislação própria do cooperativismo de trabalho geram novas oportunidades para a expansão da atuação das cooperativas.

Ramo Turismo e Lazer

Voltadas à organização de atividades e empreendimentos turísticos, as 22 cooperativas deste ramo oferecem serviços de entretenimento, esportes, artes, eventos, hotelaria, viagens nacionais e internacionais, entre outros.

Além disso, o ramo possibilita a organização de trabalhadores para prestar atendimento a turistas. Desta maneira, as cooperativas do ramo são formadas por proprietários de hotéis ou pousadas, agentes de turismo, guias e demais profissionais.

Um total de 15 pessoas são empregadas pelo ramo, que conta com 1.867 cooperados. Em 2018, R$ 342 mil foram pagos na forma de tributos e despesas com pessoal e R$ 6,6 milhões foram arrecadados na forma de ingressos.

Oportunidades e desafios do Ramo Turismo e Lazer

O turismo no Brasil tem um enorme potencial para gerar mais resultados à economia. Desta maneira, o ramo do cooperativismo de turismo e lazer tem se beneficiado dos megaeventos esportivos realizados no País nos últimos anos.

Da mesma maneira, a valorização do dólar aumentou a atratividade do Brasil para turistas estrangeiros. Ainda assim, o ramo sofre com os mesmos desafios que se apresentam ao turismo em geral. Ou seja, falta de segurança pública e transporte ineficiente.

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Bruno Loturco
Bruno Loturco
Jornalista especializado em comunicação e criação de conteúdo para as mais diversas mídias on e offline, com experiência em publicações técnicas e de negócios. Cada vez mais interessado e motivado pelo universo do cooperativismo, em busca de criar valor por meio da geração de conteúdo e conhecimento para a transformação digital deste tão importante segmento da economia.