Cooperativas de Crédito: a força do maior ramo do cooperativismo

Atualmente, quase 10 milhões de pessoas em todo o país fazem parte de cooperativas de crédito. Além desse montante de cooperados, 67,3 mil pessoas trabalham para as 909 cooperativas de crédito brasileiras registradas.

Estes dados são do Anuário do Cooperativismo Brasileiro 2019 que traz, ainda, outro dado relevante sobre o maior ramo do cooperativismo. De acordo com o documento, as cooperativas de crédito são as únicas instituições financeiras presentes em 594 municípios brasileiros. Ou seja, que de fato contam com uma sede ou posto de atendimento instalado.

Além disso, ao comparar as tarifas praticadas com as de agentes privados do mercado, as cooperativas de crédito cobram, na média, menos em 42 dos 50 serviços financeiros oferecidos.

Assim, chegam a localidades do País em que outras instituições financeiras não chegam a um custo inferior ao de instituições financeiras privadas. Por isso, as cooperativas de crédito atuam como importantes agentes de desenvolvimento social e econômico.

Afinal, as empresas deste ramo do cooperativismo respondem por uma carteira de crédito de aproximadamente R$ 115 bilhões. O ativo total das cooperativas do ramo crédito atinge o montante de R$ 190,4 bilhões, com R$ 2,9 bilhões em ativos imobilizados e R$ 41,1 bilhões em patrimônio líquido.

Em 2018, o Capital Social das cooperativas deste ramo foi de R$ 24,3 bilhões, com R$ 124,3 bilhões de depósitos e R$ 2 bilhões de sobras do exercício. Com relação aos depósitos, o crescimento foi de 18,6% em relação a dezembro de 2017. Também foi registrada evolução nas operações de crédito, com crescimento de 23,5% em relação a dezembro de 2017.

Este crescimento foi de 27,8% nas operações de Pessoas Físicas e de 21% junto a Pessoas Jurídicas.

Números das cooperativas de crédito no Brasil

A quantidade de cooperativas de crédito tem caído no Brasil desde 2010, quando haviam 1.064 cooperativas deste tipo no País. Em 2014 este número passou para 980 e atualmente está em 909. Este comportamento, segundo o Anuário do Cooperativismo Brasileiro 2019, se deve em muito à quantidade de fusões e aquisições entre cooperativas de crédito.

Além disso, entre 2014 e 2018, o segmento de crédito cooperativo registrou crescimento de 42% na quantidade de pessoas cooperadas. O número saltou de 6,9 milhões para 9,8 milhões de pessoas no período.

Estes cooperados são 13% pessoas jurídicas e 87% pessoas físicas. É preciso salientar que a quantidade de cooperados Pessoa Jurídica cresceu 18,6% entre 2017 e 2018.

Quanto à distribuição regional, a maior parcela dos cooperados está situada na Região Sul do País, que concentra 55% do total. Depois, vêm as Regiões Sudeste, com 28%, Centro-Oeste, com 11%, Nordeste, com 4%, e Norte, com apenas 2%.

Crescimento expressivo também foi notado na quantidade de empregados. Em 2014, 46,8 mil pessoas trabalhavam em cooperativas de crédito. Este número subiu 43,8% em 2018, chegando a 67,3 mil pessoas empregadas.

Mais do que isso, ao final de 2018, o cooperativismo de crédito já detinha o maior número de postos de atendimento do Sistema Financeiro Nacional, com 6.219 unidades. Isso significa um incremento de 6,7% no número de postos de atendimento em comparação ao mesmo período do ano anterior.

Configuração do ramo das Cooperativas de Crédito

O Anuário faz, ainda, uma distinção entre as instituições que compõem o ramo do cooperativismo de crédito. Assim, o Sistema Nacional de Crédito Cooperativo é composto por dois bancos cooperativos, cinco confederações, sendo duas de crédito e 34 cooperativas centrais. Isto é o que determina a Lei Complementar 130/2009.

Além disso, há 927 cooperativas singulares no Brasil. Estas são regidas pela Resolução CMN 4.434/15, que as divide em três categorias em função de suas operações. São elas:

Plenas

No total, 36 cooperativas de crédito são classificadas como Plenas. Este tipo de cooperativa pode realizar praticamente todas as operações autorizadas a uma instituição financeira. Isso inclui operações com exposição vendida ou comprada em ouro, moeda estrangeira e operações sujeitas à variação cambial, dentre outras. Ou seja, as cooperativas de crédito plenas podem vir a assumir operações de maior complexidade e risco.

Clássicas

O segmento é composto por 704 cooperativas de crédito. Estas são autorizadas a realizar todas as operações típicas de uma instituição financeira. Ou seja, aquelas notadamente relacionadas à intermediação financeira e a pagamentos.

Capital e Empréstimo

O que distingue as cooperativas de crédito da categoria de Capital e Empréstimo é que estas não podem realizar captação de depósitos. As cooperativas das demais categorias podem fazer esse tipo de operação. Este segmento é composto por 187 cooperativas.

Desafios e oportunidades para as Cooperativas de Crédito

A continuidade no crescimento do ramo crédito do cooperativismo depende de alguns fatores intrínsecos às cooperativas e outros externos. Dentre eles, o aprimoramento do arcabouço regulatório que, espera-se, gere novas oportunidades de atuação para modelo de negócios cooperativos.

A perspectiva é positiva, pois o órgão regulador, o Banco Central do Brasil, tende a considerar a realidade do cooperativismo em sua nova agenda estratégica. Denominada Agenda BC#, o documento destaca o cooperativismo de crédito no pilar “Inclusão”.

Com isso, a tendência é que o cooperativismo de crédito reforce, cada vez mais, seu papel de agente de inclusão financeiro. Ou seja, que continue a levar serviços e produtos a comunidades onde os agentes bancários tradicionais não chegam.

Esta perspectiva é condizente com os 7 princípios do cooperativismo. Mais especificamente, com o sétimo, que prega o interesse pela comunidade.

Além disso, as cooperativas de crédito tendem a se beneficiar do Open Banking, que já está na agenda regulatória para 2020. Este modelo propõe mudar a maneira como o mercado financeiro atua, incluindo seus agentes e consumidores. Neste aspecto, incluem-se, também, os cooperados.

Afinal, com o advento do Open Banking os agentes do mercado podem vir a ter acesso – a depender de autorização específica – a dados e transações financeiras dos consumidores e cooperados. Neste sentido, o cooperativismo de crédito é protagonista nas discussões que dizem respeito a esta agenda.

Cases de destaque: Sicoob

O Sicoob foi reconhecido no XIX Prêmio efinance, realizado pela revista Executivos Financeiros em junho de 2019. Na ocasião, a cooperativa recebeu prêmios por quatro cases de duas categorias diferentes.

Na categoria Gestão de Risco, o reconhecimento foi pelos cases“Métodos eficientes ao combate à fraude”, “Cooperativismo dando show na Prevenção à Lavagem de Dinheiro” e “Processo de Classificação e Atribuição Automática de Limites”.

Já na categoria Infraestrutura de TI, o case premiado foi: “A Infraestrutura Ágil e MultiCloud do Sicoob”.

Métodos eficientes ao combate à fraude

A motivação por trás deste projeto é a intenção de criar mecanismos para manter vigilância da movimentação financeira dos cooperados. Dessa maneira, a solução de Prevenção e Combate à Fraude (PCF) realiza a devida identificação de eventuais ocorrências de fraude em andamento. O sucesso do projeto envolve, ainda, a implantação de um motor de regras capaz de realizar a avaliação online das operações.

Cooperativas de Crédito e a Prevenção à Lavagem de Dinheiro

Este projeto foi responsável por trazer alguns resultados expressivos ao Sicoob. Exemplo é a queda do número de ocorrências automáticas para análise. Devido ao projeto, este número caiu de 40 mil para cinco mil ocorrências mensais. Outro dado relevante é o fato de o Sicoob ter registrado mais de 9,5 mil comunicações de ocorrências ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

Processo de Classificação e Atribuição Automática de Limites

Este projeto permitiu ao Sicoob automatizar todo o seu processo de classificação de riscos. Antes do projeto, esse tipo de operação demandava 40 minutos para ser realizada. Com a implantação do programa, o processo passou a ser concluído instantaneamente. Com isso, mais de dois milhões de cadastros foram autorizados automaticamente.

A Infraestrutura Ágil e MultiCloud do Sicoob

O desenvolvimento deste projeto parte da necessidade de revisar processos e da adoção de metodologia de provisionamento ágil da infraestrutura. Ou seja, tudo para dar suporte ao crescimento dos canais de atendimento da cooperativa de crédito. Assim, o projeto demandou investimentos de R$ 10 milhões e o retorno é esperado ao longo dos três anos seguintes.

Cases de destaque: Sicredi

A mesma premiação que reconheceu os projetos de inovação do Sicoob premiou também o Sicredi. Este na categoria Governança.

Programa Pertencer

A nova ferramenta do Sicredi, o Programa Pertencer, lança mão de tecnologia Bluetooth. A inovação foi idealizada e desenvolvida com a finalidade de interligar tablets e notebooks nas assembleias de associados da instituição.

Dessa maneira, a tecnologia viabiliza a realização dessas reuniões nos locais mais remotos e que não contam com conexão com a internet. A intenção do Sicredi com isso é proporcionar mais transparência ao sistema e, dessa forma, vir a reforçar a capacidade de governança das cooperativas.

Inovação em Cooperativas de Crédito no Cooptech 2019

No dia 28 de novembro de 2019, o Coonecta realizou a 1ª edição do Cooptech, em São Paulo. Dessa forma, o evento abordou os movimentos de inovação no cooperativismo e o surgimento das cooperativas de plataforma. Assim, ampla atenção foi dada às cooperativas de crédito, com temas como:

  • A primeira iniciativa de plataforma criada dentro de uma aceleradora de startups do Sicoob.
  • Programa Inovar Juntos: como o Sicredi se relaciona com startups.
  • Blockchain e tokenização: as oportunidades para o cooperativismo.

Então, confira tudo o que rolou no Cooptech 2019!

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Bruno Loturco
Bruno Loturco
Jornalista especializado em comunicação e criação de conteúdo para as mais diversas mídias on e offline, com experiência em publicações técnicas e de negócios. Cada vez mais interessado e motivado pelo universo do cooperativismo, em busca de criar valor por meio da geração de conteúdo e conhecimento para a transformação digital deste tão importante segmento da economia.