WCUC 2025: protagonismo brasileiro, IA e impacto socioeconômico no maior evento mundial de cooperativismo de crédito

A edição de 2025 da Conferência Mundial das Cooperativas de Crédito (WCUC 2025) ocorreu entre os dias 14 e 16 de julho, em Estocolmo, na Suécia. O evento internacional contou com protagonismo do cooperativismo brasileiro, que propôs debates e compartilhou boas práticas em inteligência artificial, atendimento, impacto social e outras pautas.

O evento anual é organizado pelo Conselho Mundial das Cooperativas de Crédito (WOCCU) e já soma 20 anos de tradição, sendo um espaço consolidado para conectar cooperativas e compartilhar experiências. A atual edição teve mais de 45 apresentações e contou com a participação de cooperativas de 60 países.

O tema central da programação da WCUC 2025 foi o impacto positivo do cooperativismo de crédito. Regulação, estratégias de sucesso, adoção de IA, gestão de marca, governança, sustentabilidade e relacionamento com o cooperado foram alguns dos assuntos em destaque ao longo dos três dias de conferência.

Profissionais de cinco organizações brasileiras (Sicredi, Sicoob, Sistema OCB, Loggia e Banco Central) se apresentaram no evento. Confira a seguir o que de melhor o Brasil levou à WCUC 2025. Boa leitura!

Na WCUC 2025, o Sicoob é modelo em aplicação de IA

Divulgação: WOCCU

A inteligência artificial foi o centro de diversas apresentações da WCUC 2025. Organizações do setor financeiro buscam constantemente soluções criativas para otimizar processos com o apoio de tecnologias generativas. O Sicoob se destacou nesse cenário ao compartilhar suas práticas durante a conferência. 

A apresentação ficou a cargo de Edson Lisboa, superintendente de Tecnologia da Informação do Sicoob Confederação. Durante sua palestra, Lisboa detalhou como o Sicoob incorporou a inteligência artificial generativa em suas operações de forma segura e eficaz. 

Para isso, a cooperativa utilizou grandes modelos de linguagem (LLMs) abertos, como Llama, Mistral, Phy 4 e DeepSeek, na criação de uma solução própria de IA, totalmente integrada à plataforma de negócios da organização. A ferramenta passou a auxiliar mais de 60 mil empregados na consulta e interpretação de documentos, tornando o processo mais ágil e intuitivo.

“Ao adotar modelos abertos, conseguimos desenvolver uma solução alinhada à nossa realidade e com total controle sobre privacidade e segurança”, afirmou Lisboa. A experiência do Sicoob serve como exemplo global de transformação digital no cooperativismo. Assim sendo, o Sicoob  demonstrou que é possível aplicar IA em larga escala com ganhos reais de eficiência.

IA em destaque no WCUC 2025

A inteligência artificial generativa se impôs na programação, sendo tema de diversas palestras e gerando conversas em outros ambientes. Rafael Souza, CEO da Ubots – empresa especializada em soluções tecnológicas que já atendeu mais de 200 cooperativas no Brasil –, notou avanços nas aplicações de IA desde a edição de 2024 da WCUC 2025: 

“As apresentações abordaram como essa tecnologia já está sendo usada para melhorar a experiência dos cooperados, aumentar a eficiência operacional e apoiar times internos”, pontuou. A Ubots foi patrocinadora da conferência. “Foi uma excelente oportunidade para mostrar, na prática, como evoluímos desde então e como estamos aplicando IA Generativa em diferentes momentos da jornada do cooperado”, complementou. 

Sicredi: conectividade interpessoal e digital

Aproveitar as tendências tecnológicas é pauta preponderante para o cooperativismo de crédito, o que não é sinônimo de diminuir a proximidade entre cooperativas e pessoas. Conduzir uma transformação digital com toque humano é um dilema atual, global e relevante. Para agregar ao conhecimento sobre esse campo, o diretor-presidente do Sicredi, César Bochi, compartilhou suas experiências na WCUC 2025.

O executivo destacou que a digitalização é necessária, mas sem perder de vista os caminhos para estreitar o relacionamento com o cooperado. Dessa forma, o Sicredi cresce por caminhos “tradicionais” e “modernos”. O sistema, por exemplo, abre em média 200 postos de atendimento anualmente, mas também investe em segurança digital e adota IA generativa em tarefas repetitivas.

A tecnologia é, portanto, um dos meios ao qual o Sicredi recorre para se aproximar do cooperado. Na visão de Bochi, um indicador do sucesso da estratégia é a queda na média de idade dos cooperados, de 43 para 41 anos, um rejuvenescimento impulsionado pela combinação entre digitalização e proximidade humana.

O impacto na prática

Em mais um case brasileiro na WCUC 2025,  Márcio Zwierewicz, presidente do Sicredi Campos Gerais e Grande Curitiba PR/SP apresentou a palestra “Criando impacto em escala: cooperativas de crédito liderando com propósito”.

Ao lado de Wellington Holbrook, CEO da Vancity (Canadá), Zwierewicz mostrou como o cooperativismo é capaz de impulsionar o desenvolvimento social e transformar comunidades. O brasileiro destacou investimentos do Sicredi em iniciativas de educação e inclusão social, o Programa União Faz a Vida – projeto educacional que já impactou mais de 5,3 milhões de crianças e adolescentes – e o Fundo Social para financiar projetos comunitários.

Divulgação: Sicredi

A WCUC 2025 serviu como palco para reconhecer projetos apoiados pelo Sicredi. Vitor Corá, associado do Sicredi Ibiraiaras RS/MG, e Milena Parreira, cooperada do Sicredi Campos Gerais e Grande Curitiba PR/SP, foram contemplados com bolsa de estudos do World Council Young Credit Union People 2025 (WYCUP). Corá desenvolveu um biodigestor para pecuária leiteira. Parreira, por sua vez, conduziu diversas ações de impacto social em 2024.

Corá, inclusive, esteve em outra apresentação com participação brasileira na WCUC 2025. Suellen Lins Batista e Keyla Rodrigues, da Fundação Sicredi, mostraram como a diversidade de projetos – da colaboração com escolas à formação de comitês – é capaz de transformar vidas. Os programas de incentivo à educação financeira e cooperação têm potencial para até mesmo formar futuras lideranças do movimento cooperativista.

WCUC 2025 destaca o poder das marcas cooperativas

Divulgação: Flavio Pina/Loggia

Quem está mergulhado no meio cooperativista conhece o tamanho do impacto que o movimento é capaz de gerar para a economia, a sociedade e até mesmo o meio ambiente. Entretanto, apenas uma parcela restrita da população sabe disso. É papel das organizações e dos gestores de suas marcas evidenciar ao público o potencial do cooperativismo.

A Loggia, empresa especializada em construir marcas de alto impacto econômico e social, tem a hipótese de que as cooperativas são percebidas como marcas menos relevantes do que de fato são. Flavio Pina, CEO e CCO da Loggia, levou a pauta ao WCUC 2025 e trouxe uma explicação: as teorias tradicionais de branding para instituições financeiras não dão a devida importância para alguns dos “superpoderes” do cooperativismo.

Tendo isso em vista, Pina propôs o desenvolvimento de novas métricas para aferir o sucesso e estimular “narrativas de prosperidade”. O fortalecimento dessas narrativas é capaz de tornar o cooperativismo mais reconhecido e apoiado pela sociedade, argumentou o fundador da Loggia.

A apresentação ainda introduziu ao mundo uma nova matriz de relevância para marcas cooperativas. Ela preserva as dimensões funcionais, como empréstimos, atendimento e experiência digital, mas também incorpora o resultado para os cooperados e os resultados para as cooperativas. Para Pina, o novo olhar ao branding cooperativo é capaz de reverberar além do marketing, inspirando novos produtos, abordagens de CX, modelos de governança e muito mais.

Desafios regulatórios nacionais e mundiais

Crédito: WOCCU

Além de cooperativas, a WCUC 2025 também foi uma plataforma para interação entre órgãos reguladores de diferentes países. O Banco Central do Brasil foi representado por Carolina Bohrer, chefe do departamento de Organização do Sistema Financeiro. Ela participou de painel sobre o desenvolvimento regulatório ao lado de autoridades da Irlanda e do Quênia.

Carolina levou ao palco internacional uma questão amplamente discutida pelas cooperativas brasileiras: marcar presença física e digitalmente em regiões rurais e locais afastados dos grandes centros. “Temos 469 cidades por todo o país onde cooperativas de crédito são a única alternativa física para transações”, disse a representante do BC, destacando o papel estratégico do cooperativismo como instrumento de inclusão financeira.

Além de práticas nacionais que podem inspirar globalmente, a apresentação abordou temas que afetam cooperativas em todo o planeta. Dave Grace, diretor executivo da Rede Internacional de Reguladores de Cooperativas de Crédito (ICURN), definiu uma pauta como a grande prioridade global: a segurança digital. O problema é especialmente gritante para organizações menores, que sofrem com a falta de recursos. Uma alternativa para combatê-lo é a criação de plataformas tecnológicas compartilhadas.

O papel governamental no crescimento do cooperativismo

Para que o cooperativismo financeiro mantenha a sua trajetória ascendente e possa gerar impacto além de suas fronteiras, é essencial que o movimento tenha representação política e capacidade de pleitear suas causas perante instituições governamentais. O órgão responsável por essa articulação no cenário nacional é o Sistema OCB, que também marcou presença na WCUC 2025 em painel com autoridades britânicas.

Clara Pedroso Maffia, gerente de Relações Institucionais, ressaltou a atuação do Sistema OCB junto aos órgãos públicos para promover pautas favoráveis ao cooperativismo, como os avanços regulatórios da Lei Complementar n° 196/2022. “Durante as eleições nacionais, apresentamos propostas aos candidatos presidenciáveis e posicionamos as cooperativas em suas plataformas e políticas públicas”, adicionou.

A representação governamental funcionou como uma base para alavancar o movimento, que triplicou sua base de cooperados em 10 anos e hoje alcança 22 milhões de pessoas, como apontou Maffia. O governo britânico definiu como meta dobrar o tamanho do setor. O movimento como o cooperativismo é uma solução para a inclusão financeira reverenciada em todo o planeta.

Presença brasileira em destaque

Além das apresentações, o cooperativismo brasileiro enviou a Estocolmo aqueles que fazem o movimento acontecer. Sicoob, Sicredi, Cresol e Unicred foram cooperativas com delegações na WCUC 2025. Presente em três apresentações ao longo da programação, o Sicredi levou mais de 130 pessoas para o evento. 

Organização que integram o ecossistema de inovação do cooperativismo também aproveitaram a oportunidade de acompanhar discussões relevantes para o ramo. Caso da Ubots, por exemplo. O CEO Rafael Souza identificou três pautas em destaque no congresso: IA generativa, segurança da informação e engajamento de novas gerações.

“Existe uma inquietação legítima sobre como as cooperativas de crédito podem se conectar com o público mais jovem, e os canais de mensagens, como o WhatsApp, surgem como caminhos naturais por já fazerem parte do dia a dia desse público”, apontou.

WCUC 2025 e a força do cooperativismo brasileiro

A WCUC 2025 reforçou mais uma vez o protagonismo do cooperativismo brasileiro no cenário internacional, evidenciando sua capacidade de inovar, gerar impacto e dialogar com pessoas. O futuro é desafiador e exige adaptações, especialmente de ordem tecnológica, mas a intercooperação e a troca de experiências facilitam o navegar pelos empecilhos.

A Conferência Mundial das Cooperativas de Crédito de 2026 vai acontecer em Sydney, na Austrália, entre os dias 19 e 22 de julho. Já para ficar por dentro das principais discussões do cooperativismo de crédito brasileiro, confira também como foi o Cooptech Crédito 2025!

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