O progresso do cooperativismo no Brasil tem muito a ver com o crescimento do ramo de crédito. Segundo os mais recentes dados divulgados pelo Sistema OCB, o segmento vem ampliando seu quadro associativo em todos os anos desde 2019, chegando a 17,9 milhões de pessoas em 2023. As 700 organizações do setor geram mais de 112 mil empregos diretos. Para manter os bons resultados, é importante ficar de olho nas tendências do cooperativismo de crédito em 2025.
A manutenção desta trajetória de crescimento passa pelo caráter inovador que as cooperativas de crédito têm demonstrado ao longo de sua trajetória. Elas cresceram a ponto de virarem personagens importantes no Sistema Financeiro Nacional. Agora é o momento de se consolidar neste espaço e expandir cada vez mais seus horizontes.
As tendências do cooperativismo de crédito em 2025
Tendo isso em vista, a Coonecta identificou seis tendências do cooperativismo de crédito neste ano que está começando. Sejam tópicos para monitorar ou ideias para orientar suas ações, a atenção a estes temas pode posicionar uma cooperativa em vantagem competitiva no mercado. Boa leitura!
1. Criptoativos serão pauta cada vez mais importante
O futuro das finanças passa pelos criptoativos, e eles já fazem parte do presente. A compra líquida de criptoativos, como moedas digitais e stablecoins, vem em franca ascensão no Brasil e movimentou U$ 7,3 bilhões somente nos primeiros cinco meses de 2024, segundo dados do Banco Central. Em meio ao fenômeno, faz-se necessário estabelecer um ambiente regulatório. Esse processo interessa e muito às cooperativas de crédito.
A responsabilidade de regulamentar os criptoativos cabe ao Banco Central, conforme definido no Decreto nº 11.563/2023 relativo à Lei nº 14.478/2022. A lei vigente estabelece diretrizes para a operação das prestadoras de serviços de ativos virtuais no Brasil, com requisitos operacionais e outras regras básicas. O processo de regulamentação segue em curso. O Bacen divulgou em novembro de 2024 as Consultas Públicas nº 109, nº 110 e nº 111, abertas à participação popular até fevereiro deste ano.
As consultas, detalhadas pelo advogado Fernando Lucindo em artigo da Coonecta, devem passar por mudanças em maior ou menor escala com base nas considerações populares. Entretanto, a base das propostas deve permanecer e ser aplicada pelo Banco Central. Os textos indicam caminhos para a inserção segura das cooperativas de crédito no segmento dos criptoativos.
- Consulta Pública nº 109: as cooperativas de crédito terão oportunidade de integrar a estrutura de Prestadoras de Serviços de Ativos Virtuais (PSAVs) como intermediárias ou custodiantes, podendo oferecer produtos e serviços no mercado descentralizado, como soluções financeiras baseadas em blockchain e DeFi (finanças descentralizadas).
- Consulta Pública nº 110: outra possibilidade de atuação para as cooperativas de crédito será no mercado de câmbio de criptoativos. O destaque fica a cargo das stablecoins, criptomoedas criadas para manter valor estável atrelado a ativos, como moedas fiduciárias.
- Consulta Pública nº 111: o texto diz respeito às regulamentações de operações com ativos virtuais, visando assegurar segurança e transparência na custódia, transferência e movimentação internacional. Nesse contexto, o cooperativismo de crédito pode se firmar como um agente no controle do ambiente de criptoativos.
2. Dobrar a aposta no atendimento presencial…
O cooperativismo de crédito é diferente das instituições financeiras tradicionais na forma de atender os cooperados. A relação de proximidade com o associado é um trunfo do modelo, refletindo-se em um movimento que vai contra a tendência do mercado: ampliar o número de agências.
O cooperativismo de crédito chega a 57% (3.177) dos municípios nacionais com seus postos de atendimento, superando pela primeira vez as agências bancárias, que estão em 55,5% (3.089) dos municípios. Segundo levantamento da Veja, os cinco maiores bancos do país reduziram seu número de agências entre 2020 e 2023 (último ano com dados completos disponíveis). Por outro lado, as principais cooperativas de crédito expandiram seu alcance.
Os números não são fruto do acaso, afinal. O cooperativismo de crédito tem abraçado a estratégia de construir uma relação de proximidade com o cliente, cumprindo demandas que somente o contato direto pode satisfazer. A inauguração de postos de atendimento também é uma forma de expandir a participação de mercado no Norte e no Nordeste, regiões menos contempladas pelo setor, conforme dados do Banco Central.
Instituição financeira com mais agências no Brasil, o Sicoob mantém sua estratégia de conquista territorial. “As pessoas não querem banco, elas querem atendimento bancário”, disse Marco Aurélio Almada, presidente do Sicoob, em entrevista ao Neofeed, reforçando a proximidade como uma das grandes tendências do cooperativismo de crédito em 2025.
3. …não significa esquecer do digital
A presença física tem se tornado uma importante peculiaridade do cooperativismo de crédito, levando-o a novos públicos. Entretanto, há motivos para o restante do sistema financeiro adotar a estratégia de enxugamento das agências, e eles vão além dos custos de operação.
No relatório mais recente do Banco Central, o cooperativismo apresentou crescimento de 16,4% nas carteiras de crédito em 2023, número superior ao restante das instituições do Sistema Financeiro Nacional. Mas há um grupo que cresce em ritmo ainda mais acelerado e tende a se destacar cada vez mais: os bancos digitais.
O trunfo dessas fintechs é proporcionar soluções financeiras com comodidade, à palma da mão. Desse modo, bancos digitais e tradicionais oferecem atendimento e diversas funcionalidades através de seus aplicativos. Claro que o cooperativismo acompanha tal movimento e reforça sua presença virtual. Para competir nesse cenário, é necessário investir em inovação.
Um exemplo positivo nesse sentido vem da Sicredi Ouro Verde MT, que encontrou no modelo ‘fisital’ uma forma de suprir a demanda crescente. A organização passou a atender os cooperados – com foco em pessoas físicas de renda até R$ 4 mil – via WhatsApp, mas preservando o contato presencial àqueles que fazem questão. Theo, IA da Sicredi, foi incorporado ao projeto que hoje facilita a vida de quase 82 mil associados.
Se a essência do cooperativismo está na relação estreita com quem usufrui de seus serviços, o planejamento de inovações jamais deve ignorar este aspecto. Durante palestra no WCM 2024, Marcos Vernei Schuster, diretor executivo da Transpocred, defendeu que a tecnologia nem sempre deve ser priorizada em detrimento da proximidade.
4. Implementação da IA para aprimorar a produtividade
Já que abordamos inovação, nada mais adequado do que partir para a tecnologia do momento: a inteligência artificial generativa. Ela está se popularizando de forma acelerada, e as possibilidades de aplicação no dia a dia são quase infinitas. Segundo artigo da McKinsey, a incorporação da IA pode adicionar U$ 2,6 a U$ 4,4 trilhões em produtividade anual à economia global.
A inteligência artificial já é conhecida do brasileiro, mas o caminho rumo à utilização ampla ainda é longo. De acordo com pesquisa da Talk Inc, 94% conhecem ou já ouviram falar de IA, mas somente 27% aplicam-na profissionalmente. O uso somente na vida pessoal é mais popular, e o aprendizado sobre as ferramentas é majoritariamente autodidata.
Nesse cenário, o cooperativismo de crédito deve se portar como um agente da inovação e adotar a IA em suas operações, estimulando e capacitando colaboradores a usufruir dos benefícios proporcionados pela tecnologia.
O Sicredi serve como exemplo nesse sentido. Adepta de soluções de IA desde 2017, a cooperativa está promovendo a migração para o Microsoft Copilot, ferramenta que se desenvolve no ritmo do mercado e garante privacidade aos dados da companhia. O Copilot é capaz de gerar textos e imagens, revisar materiais, gerar insights e outras incontáveis funções.
O Sicoob também está atento às possibilidades proporcionadas pela inteligência artificial generativa. Desde o ano passado, a cooperativa tem recorrido à IA integrada à sua plataforma de serviços financeiros (Sisbr) para otimizar a interação de seus colaboradores com documentos. A tecnologia já beneficia 28 mil trabalhadores, que despendem menos tempo em tarefas do dia a dia.
5. Combate às fraudes e fortalecimento da segurança digital
Os avanços tecnológicos proporcionam praticidade para gerenciar o seu dinheiro, mas também demandam novos cuidados. Os golpes atingem as plataformas virtuais e são frequentes no Brasil. Segundo pesquisa do Datafolha realizada no ano passado, mais de 4.600 pessoas são vítimas de tentativas de golpes financeiros por hora. O estudo projeta que as fraudes via Pix ou boletos falsos causaram prejuízo à população de R$ 25,5 bilhões em intervalo de 12 meses.
O cenário é desafiador, e as instituições financeiras precisam agir de maneira ativa contra fraudes. Ou seja, também é papel do cooperativismo de crédito combater este problema, com medidas educativas e de segurança.
No pilar da conscientização, o setor decidiu se unir e intercooperar. As cooperativas de crédito apoiam a campanha #CliqueConsciente, promovida pelo SomosCoop e pela Câmara Temática de Crédito do Sistema OCB. A iniciativa tem como objetivo divulgar medidas de prevenção, detecção e ação sobre os golpes digitais.
A outra rota de ação está no crescente reforço da segurança digital. Funcionalidades em apps financeiros podem ajudar o cooperado a notar incongruências e evitar golpes. Exemplo disso fica a cargo do Sicoob. Seu aplicativo tem funcionalidades como alerta de atividade suspeita, proteção de tela contra retransmissões e camada de defesa cibernética.
As técnicas fraudulentas também se reinventam à medida que as tecnologias avançam, então uma das tendências do cooperativismo de crédito em 2025 é monitorar casos e encontrar maneiras de reforçar a segurança digital.
6. Oportunidades em soluções de pagamento
As cooperativas do segmento têm sua força atrelada principalmente às operações de crédito. Conforme o relatório mais recente do Banco Central sobre o setor, os ativos gerados por essas operações chegam a R$ 395 bilhões, 54% dos ativos totais do Sistema Nacional de Cooperativas de Crédito (SNCC). Portanto, fica evidente que há possibilidade de expandir a participação de mercado em outras atividades financeiras.
Um modelo relativamente novo tem passado a dominar as transferências bancárias no Brasil: o Pix. Lançado em 2020, o formato foi escolhido para 44,8% das transações efetuadas no primeiro semestre de 2024, de acordo com relatório do Banco Central. O Pix apresentou aumento de 66% em sua utilização no período, e corresponde a 21,8% do volume transacionado.
Ofertar inovações referentes a essa forma popular de transferir dinheiro pode se transformar em uma vantagem competitiva, e a Ailos está de olho nesta tendência. A cooperativa apresentou ao Banco Central uma proposta de um novo formato, o Ailos Pix Crédito. A solução consiste em uma modalidade de pagamento parcelado, com taxas de transação reduzidas para estabelecimentos. O desenvolvimento deste projeto pode posicionar ainda mais o cooperativismo de crédito como agente da inovação.
Inovação não necessariamente está atrelada a ideias inéditas, podendo também significar rotas criativas para se fortalecer em novos mercados. Foi o que o Sicoob fez ao buscar melhores resultados no ramo de adquirência. A cooperativa desenvolveu a Sipag 2.0, uma operação própria moderna e completa, com terminal que vai além das operações de pagamento. O resultado foi significativo, movimentando R$ 45 bilhões em 269 milhões de transferências apenas no ano de 2023.
Conclusão: as tendências do cooperativismo de crédito levam à inovação
Os cases, as estatísticas e as projeções mencionadas ao longo deste texto indicam tendências fundamentais para o 2025 do cooperativismo de crédito, que promete ser mais um ano frutífero para o setor. Esperamos que esses pontos possam te inspirar para promover a inovação e impulsionar o crescimento do ramo.
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