O cooperativismo de crédito segue expandindo no Brasil. Segundo o AnuárioCoop 2025, publicado pelo sistema OCB, o número de cooperados do setor aumentou 68% em relação a 2020. Nos últimos anos, porém, um movimento ambíguo vem ocorrendo. Enquanto a quantidade de associados cresce, o número de cooperativas diminui. Esses dados apontam um fenômeno do ramo: a realização de fusões e incorporações.
São dois processos diferentes com os mesmos objetivos. Cooperativas singulares vêm se unindo para formar organizações mais sólidas e competitivas. Em 2024, o relatório registrou 689 cooperativas de crédito ativas – 86 a menos que em 2020, quando o país contava com 775 instituições. No mesmo período, o total de cooperados saltou de 11,96 milhões para 20,12 milhões.
Grande parte dessa mudança se deve às cooperativas que encontraram na união a força necessária para se destacarem no mercado. É o caso, por exemplo, do Sicoob Engecred, surgido a partir da incorporação do Sicoob Engecred-MG pelo Sicoob Engecred-GO, em 2019.
Sicoob Engecred: o resultado de uma união
“Ao integrarmos as operações, ampliamos nossa presença geográfica e a nossa base de cooperados. Ao unirmos esforços, ampliamos a oferta de produtos e serviços financeiros tanto para esse público, quanto para os demais setores da economia”, relatou Fabrício Modesto Cesar, diretor-presidente do Sicoob Engecred.
Modesto Cesar diz que desde a união das singulares Sicoob Engecred-GO e Sicoob Engecred-MG, em 2019, a cooperativa se aprimorou em uma série de aspectos, como o aumento da eficiência operacional, a expansão territorial e o fortalecimento da marca.
“A união estratégica entre o Sicoob Engecred-GO e o Sicoob Engecred-MG acompanha uma tendência do cooperativismo financeiro no Brasil e no mundo: a integração de estruturas como caminho para fortalecer as cooperativas e o sistema como um todo”, declarou o diretor.
O caminho traçado pelas cooperativas de Goiás e Minas Gerais exemplifica a crescente desse movimento, que vem ganhando força em todo o setor. Mas isso não significa que fusões e incorporações sejam respostas para os desafios de todas as cooperativas financeiras.
Fusões em alta no cooperativismo de crédito
O aumento de fusões no cooperativismo se intensificou nos últimos anos. Quem explica esse fenômeno é Neilson Oliveira, especialista em gestão estratégica e cooperativismo e fundador da EAGLE Consultants HUB.
“Trata-se de uma tendência clara e crescente. As cooperativas singulares, diante dos desafios para manter sua competitividade frente a bancos digitais, fintechs e grandes instituições financeiras, têm buscado unir esforços por meio de fusões e incorporações, como forma de fortalecer sua posição estratégica”, aponta o especialista.
Segundo Oliveira, esse movimento reflete a busca das cooperativas por ganhos de escala, maior eficiência operacional e ampliação do escopo de atuação. A união de duas ou mais cooperativas permite que elas ofereçam uma gama maior de produtos, além de serviços mais completos e qualificados.
Thiago Borba Abrantes, coordenador do Ramo de Crédito do Sistema OCB, também percebe o ritmo acelerado de união entre cooperativas financeiras. “De acordo com dados do Banco Central, observa-se um movimento expressivo de incorporações entre cooperativas de crédito, refletindo uma busca por maior eficiência e solidez institucional”, observa.
Cada caso é um caso: fusão nem sempre é a solução
Com adequações normativas cada vez mais complexas e custos elevados para manter uma operação segura e eficiente, Borba Abrantes aponta que a avaliação do Sistema OCB é de que as incorporações e fusões devem continuar em ritmo acelerado.
Contudo, o especialista não afirma a existência de uma tendência generalizada em todo o ramo de crédito cooperativo. “Trata-se de uma decisão estratégica individual de cada sistema e cooperativa, o que impede a caracterização dessa prática como uma tendência previsível no setor”, reflete o coordenador do Ramo Crédito.
O que é fusão de cooperativas?
A união entre cooperativas pode ocorrer de duas formas: tanto por meio da fusão entre duas ou mais instituições, quanto pela incorporação de cooperativas menores a outras de maior porte. Ambas as práticas têm a proposta de fortalecer as instituições, porém com métodos diferentes.
Dentro do cooperativismo de crédito, a fusão é a reorganização de duas ou mais cooperativas através da união. Ocorre um processo em que os cooperados e capitais são agrupados, criando uma cooperativa que não extingue as antigas, mas as junta em uma nova.
Já o processo de incorporação tem suas particularidades. Nele, uma cooperativa denominada incorporadora absorve outra que chamamos de incorporada. A cooperativa incorporada deixa de existir como entidade autônoma, mas a instituição incorporadora assume seus cooperados, suas funções e seus ativos.
Por que se unir?
As fusões e incorporações entre cooperativas de crédito surgem para potencializar essas instituições, trazendo mais recursos e maior competitividade no mercado.
“As fusões proporcionam robustez financeira e patrimonial, criando condições para investimentos contínuos em tecnologia – fatores essenciais para competir em igualdade com bancos e fintechs”, elucida Oliveira.
Além disso, esse movimento fortalece as marcas, amplia a relevância da cooperativa em sua região de atuação e aumenta sua atratividade para os cooperados e para as comunidades locais. Borba Abrantes aponta quando uma fusão ou incorporação faz sentido:
“A formação de uma cooperativa robusta pode ser estrategicamente mais vantajosa do que a manutenção de diversas cooperativas de menor porte, especialmente considerando a redução do custo de observância regulatória, a diluição de despesas administrativas e o aumento do poder de barganha frente a fornecedores”, argumenta o coordenador do Ramo Crédito.
Ele explica que estruturas maiores tendem a apresentar mais eficiência na intermediação financeira, ampliando assim a capacidade de oferta de produtos e serviços aos cooperados.
Fusão e incorporação como ferramenta de fortalecimento no cooperativismo de crédito
Quando adequada para as cooperativas envolvidas, a uniçao permite que essas organizações cresçam e aumentem sua capacidade de competir com outras instituições do mercado de forma sustentável. Dentre os principais ganhos de uma fusão ou incorporação estão:
Maior investimento em tecnologia e inovação
Com a união de cooperativas, o aumento das verbas permite investir em avanços tecnológicos, como IA e softwares, que podem impulsionar a marca no mercado.
Além disso, o crescimento do quadro de colaboradores traz um número maior de ideias e soluções inovadoras para a nova cooperativa.
Maior eficiência e redução de custos operacionais
Outro ganho proveniente da união de cooperativas é a diminuição dos custos operacionais. Cooperativas maiores têm mais poder de negociação, conseguindo vantagens na compra de insumos e outras despesas.
A dificuldade para cumprir as regras e normas estabelecidas por órgãos reguladores também diminui com a centralização em uma única instituição.
Ganho de escala e maior relevância no mercado
A ampliação da base de cooperados possibilita mais investimentos na própria instituição, impulsionando a criação de novos postos de atendimento e o fortalecimento da divulgação institucional, por exemplo.
“Desde 2019, ano em que ocorreu a união, os ativos totais mais do que quadruplicaram. O resultado operacional teve um crescimento expressivo, saltando de R$ 31,6 milhões para R$ 82 milhões, o que resultou em mais retorno financeiro para os nossos cooperados”, explicou Modesto Cesar.
Expansão da área de atuação pela admissão de novos cooperados
Com a expansão das cooperativas, também crescem as suas áreas de atuação. O diretor-presidente do Sicoob Engecred aponta que a união das singulares possibilitou levar os benefícios do cooperativismo financeiro a um número cada vez maior de brasileiros.
“A comunidade como um todo também foi positivamente impactada. Com mais recursos circulando nas regiões em que atuamos, fortalecemos negócios locais e intensificamos nossa atuação social, por meio de ações realizadas em parceria com o Instituto Sicoob”, pontua.
Borba Abrantes também observa tal benefício. Ele explica que esse processo potencializa a capacidade de investimento em novos negócios e fortalece a sustentabilidade financeira. “Como resultado, eleva-se o potencial de atendimento pleno e qualificado às demandas dos cooperados, além da capacidade de ampliação de seu quadro social, promovendo inclusão e desenvolvimento econômico regional”, explica.
Conclusão: o cooperativismo ganha força pela união
Apesar do número de cooperativas estar diminuindo, o cooperativismo de crédito brasileiro está mais forte do que nunca. Nesse contexto, os processos de fusão e incorporação ajudam no crescimento das marcas e na consolidação desse modelo de negócios.
Cooperativas de menor porte não perdem o seu espaço nesse mercado, conforme aponta Borba Abrantes. Para ele, é fundamental reconhecer que cooperativas menores, quando bem estruturadas, podem atender plenamente seus associados e promover com excelência o desenvolvimento local.
Não se deve, portanto, considerar a incorporação como a única via estratégica para a prosperidade de uma cooperativa de crédito. Ainda assim, é inegável o potencial que as uniões têm de fortalecer essas instituições.
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