Cooptech Crédito 2025: Itaú, Bradesco e B3 proporcionam benchmarking para cooperativas

O Cooptech Crédito 2025, organizado pela Coonecta nos dias 21 e 22 de maio, em São Paulo, trouxe às cooperativas financeiras um espaço para gerar conexões e trocar experiências. Embora direcionado ao universo cooperativista, o evento não se limitou a referências internas e proporcionou oportunidades de benchmarking para cooperativas com grandes nomes do setor financeiro. 

Benchmarking é o termo utilizado para se referir ao processo de pesquisa de mercado que almeja comparar a própria organização com seus concorrentes. Estabelecer pontos de referência ajuda a entender o que já funciona e o que uma cooperativa pode melhorar em relação aos pares e às instituições financeiras com outros modelos de negócios, como bancos. 

Nesse contexto, o Cooptech Crédito 2025 contou com representantes de grandes instituições de fora do cooperativismo: o Itaú Unibanco, o Bradesco e a B3. Conheça as principais lições e os insights desse benchmarking para cooperativas financeiras. Boa leitura!

Itaú Unibanco: como usar dados sem perder a humanidade para combater a inadimplência

Luciano André Ribeiro, superintendente de crédito e recuperação no Itaú Unibanco. Crédito: Camila Menezes

A inadimplência é um problema para toda instituição de crédito, sem exceção. Cooperativas e bancos tradicionais precisam constantemente buscar soluções para proporcionar uma boa jornada ao cliente, acompanhando de perto a sua vida financeira. Superintendente de crédito e recuperação do Itaú Unibanco, Luciano André Ribeiro levou dicas e princípios de como sua instituição aborda a jornada do tomador de crédito ao Cooptech Crédito 2025.

Na visão de Ribeiro, o contexto global volátil exige uma inversão na lógica das operações de crédito. Ao invés de falarem e apresentarem soluções predeterminadas, as instituições devem ouvir o cliente e compreender suas necessidades. Tomar crédito é um meio de o cliente ou cooperado alcançar seu objetivo – de consumo, investimento ou emergência – e uma decisão que carrega componentes emocionais.

Diante de tais elementos, a organização precisa estar municiada com dados para tomar decisões racionais. Todavia, o Superintendente do Itaú Unibanco ressaltou que quantidade de informações não é um sinônimo de qualidade: “Se não cuidarmos do data lake, ele vira um ‘data pântano’. O dado precisa estar sempre atualizado”. Ribeiro defendeu a integração de IA à análise de crédito para alcançar resultados rápidos, mas sem perder de vista o lado humano da relação de atendimento.

Comunicação e personalização

A comunicação, essencial desde o início da jornada, ganha ainda mais importância quando chega o momento de conceder o crédito. Deve-se conversar com o cooperado de maneira clara e simples, garantindo que ele entenda o contrato assinado. Através de personalização na experiência, a meta torna-se construir uma relação de confiança entre cliente e organização.

Por fim, Ribeiro destacou que a jornada de crédito continua após a concessão. O acompanhamento deve ser focado em estímulo à saúde financeira, a capacidade de gerir e tomar decisões sobre os próprios recursos. 

A instituição cumpre esse papel através de orientação e apresentação de oportunidades. Ao mesmo tempo, precisa proteger a si mesma por meio do uso de modelos preditivos e atuação preventiva. “Devemos pensar primeiro na recuperação – não a de crédito, mas a do cliente”, apontou o superintendente.

Bradesco: o “novo petróleo” e a automatização de decisões

Rodrigo Borelli Modolin e Enrico Chiavegato, do Bradesco. Crédito: Camila Menezes

Como conceder crédito e ao mesmo tempo minimizar riscos? Os avanços tecnológicos e seus resultados indicam que o melhor caminho é incorporar IA e machine learning à tomada de decisões. Rodrigo Borelli Modolin, superintendente de negócios – crédito do Bradesco; e Enrico Chiavegato, superintendente de crédito do Bradesco, levaram suas experiências ao Cooptech Crédito 2025.

Durante a apresentação, Enrico Chiavegato fez questão de ressaltar que “IA não é futuro, é presente”. Essa é a realidade do mercado como um todo, não apenas do Bradesco – onde Chiavegato e Modolin trabalham com carteira de atacado, o segmento para empresas com faturamento a partir de R$ 50 milhões. Na avaliação de Chiavegato, transformar essa realidade em resultados satisfatórios exige governança e integração ao propósito do negócio.

A palestra no Cooptech Crédito 2025 mostra que o Bradesco foi proativo em relação às tendências digitais. Antes de IA e machine learning se tornarem ‘termos da moda’ no ramo financeiro, investir em dados já era parte do planejamento a longo prazo do banco. Agora que a instituição possui uma infraestrutura estabelecida, com uso de ferramentas em nuvem, ela consegue se beneficiar dos dados que coleta – especialmente os transacionais, valiosos na gestão de riscos.

O poder dos dados

A coleta e a análise de dados transformam informações em verdadeiros ativos no mercado financeiro. A importância é tão significativa que Modolin chamou os dados de “novo petróleo”, pois “geram muito valor e riqueza”. 

Só é possível administrar esse volume de informações com auxílio tecnológico. No caso do Bradesco, a IA já é capaz de substituir analistas em casos mais simples e gerar relatórios automatizados em situações complexas, além de fornecer um modelo de “early warning” para prevenir problemas.

Entretanto, a implementação de novos processos vem acompanhada de empecilhos. Além de superar a resistência interna, o Bradesco enfrenta problemas em relação aos vieses recorrentes de dados. Por exemplo: a IA sugere não conceder crédito a negócios recém-fundados, uma vez que os dados que indicam maior inadimplência nesses casos, mas isso vai contra o propósito do banco. 

Outra questão é o risco de Shadow AI, nome que se dá à prática de funcionários levarem dados sigilosos para programas de IA públicos, fora do padrão da instituição.

B3: encarando velhos desafios com novas ferramentas

Mauricio Teramoto, diretor de negócios de dados e analytics na B3. Crédito: Camila Menezes

Conforme detalharam Rodrigo Borelli Modolin e Enrico Chiavegato, novas tecnologias de IA são ferramentas indissociáveis das decisões de crédito no mercado atual. Entretanto, não é somente nesta fase que a inteligência artificial pode ajudar. Todo o ciclo de crédito, incluindo desafios clássicos como inadimplência, pode ser otimizado. Mauricio Teramoto, diretor de negócios de dados e analytics na B3, trouxe suas experiências e casos práticos ao Cooptech Crédito.

Na visão de Teramoto, as inovações tecnológicas devem ser aliadas aos conhecimentos aplicados previamente. A percepção do executivo é de que, muitas vezes, o foco se volta à inovação e ignora dores presentes que precisam ser resolvidas. “Os fundamentos, no crédito, na cobrança e na gestão de crédito, continuam fundamentais”, apontou.

Além de ser a bolsa de valores oficial do Brasil e a principal infraestrutura do mercado financeiro do país, a B3 vem expandindo sua atuação. Ela oferece soluções tecnológicas e relatórios analíticos para instituições de diversos segmentos. Destacam-se modelos preditivos para avaliação de organizações e uso de IA para avaliar interações de cobrança.

Teramoto compartilhou exemplos práticos que se converteram em resultados concretos para benchmarking. Em um desses cases, recorrer a dados alternativos e score de crédito possibilitou o aumento do limite de crédito em 47%. A taxa de inadimplência permaneceu igual e a medida resultou na emissão de 13 milhões de cartões. Em outra situação, dessa vez no varejo, a automatização agilizou o processo de concessão de crédito e levou 95% dos clientes a fazerem o cartão da instituição.

Conclusão: a importância do benchmarking para cooperativas de crédito

O Cooptech Crédito 2025 mostrou que falar para cooperativas não restringe os debates ao cooperativismo. Fazer benchmarking com outros segmentos do mercado é uma prática essencial para o desenvolvimento e a prosperidade do modelo cooperativista. Entender questões fundamentais ao setor, boas práticas e desafios ajudará a construir um mercado mais próspero.

Utilizar os princípios do benchmarking para aprimorar o próprio negócio é um procedimento válido em qualquer setor, incluindo experiência do cliente. E esse é o tema do próximo evento Coonecta, a Imersão CX Coop! Com participação de profissionais em destaque no mercado, o programa executivo de curta duração se aprofundará em aplicações de IA, tecnologias de atendimento, gestão de pessoas e processos. Clique aqui e se inscreva, as vagas são limitadas!

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