Mais associados, menos cooperativas: como o cooperativismo continua a crescer no Brasil

Quem vive o cooperativismo no dia a dia sabe que o movimento não para de crescer. Os esforços para ampliar seu reconhecimento têm conquistado cada vez mais gente, e há novos dados para confirmar esta tendência. O país encerrou 2024 com 25,8 milhões de cooperados – crescimento de 10% em comparação a 2023 –, segundo a última edição do Anuário do Cooperativismo Brasileiro (AnuárioCoop 2025).

A pesquisa também apresenta um contraste entre pessoas e organizações. Enquanto o número de cooperados cresceu, a quantidade de cooperativas caiu 2,8% no último ano – fechando 2024 com 4.384 organizações registradas.

O dado atesta uma tendência de concentração. O número de cooperativas diminuiu pelo terceiro ano consecutivo, e a queda é de 17,5% desde 2019. Já a quantidade de cooperados aumentou 66% no mesmo período. Ou seja: são menos organizações, maiores quadros associativos e maior impacto na economia nacional.

Confira neste artigo mais detalhes sobre o crescimento, o impacto e as pessoas que moldam o cooperativismo. Boa leitura!

Quem faz o cooperativismo?

A popularização do cooperativismo é confirmada pelo constante crescimento na quantidade de pessoas envolvidas. Pelo quinto ano consecutivo, o movimento conquistou mais de 1 milhão de novos associados. Agora com 25,8 milhões de cooperados, o movimento já mobiliza 12,14% da população nacional.

Uma análise mais apurada sobre o perfil dos cooperados mostra que a representação de gênero ainda é desigual, embora a diferença tenha diminuído. 

Ao todo 41,72% das pessoas ligadas a cooperativas são mulheres, aumento de cerca de um ponto percentual na comparação com 2023. Os homens são maioria no quadro associativo em todos os ramos, exceto Saúde – onde a divisão é igualitária – e Trabalho, Produção de Bens e Serviços – onde 57% são do sexo feminino.

Os ramos do cooperativismo, em ordem: Agropecuário, Consumo, Crédito, Infraestrutura, Saúde, Trabalho, Produção de Bens e Serviços e Transporte. Reprodução: AnuárioCoop 2025

O recorte geográfico mostra que o Sul, berço do cooperativismo no Brasil, continua apresentando maior adesão ao movimento. Os três estados da região abrigam 11,89 milhões de cooperados, cerca de 46% do total nacional. Santa Catarina lidera, com mais de 4,8 milhões de associados. 

Para além da região Sul, São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso são os outros estados que alcançam marcas milionárias.

Colaboradores

O impacto econômico do movimento vai além dos repasses aos cooperados e beneficia a economia como um todo, gerando empregos em diferentes segmentos e regiões preteridas pelas grandes empresas mercantis. O cooperativismo empregou 578.035 pessoas em 2024, 4,98% a mais do que em 2023 – preservando a tendência de alta verificada nos últimos cinco anos.

Novamente a região Sul se destaca, detendo 51,96% dos postos de trabalho proporcionados pelo cooperativismo. O Paraná é o líder neste quesito, com 137.543 empregados.

Em relação aos aspectos demográficos, os colaboradores quebram a tendência e são compostos por maioria feminina (52%). A principal diferença está no ramo Saúde, onde 75% dos trabalhadores são mulheres.

Gestores

Em meio ao caráter democrático do cooperativismo, as lideranças cumprem papel fundamental. Com o papel de aliar a participação coletiva às melhores decisões para o interesse da organização, a governança navega entre o valor à sociedade e os resultados financeiros. Em relação a quem ocupa esses cargos, o Anuário mostra que o cenário ainda é de desigualdade.

Apenas 22% das posições de liderança no cooperativismo são ocupadas por mulheres, índice inferior ao registrado na economia brasileira como um todo. Ramo que mais gera empregos, o Agropecuário tem representatividade abaixo da média nas lideranças (19%) – ainda à frente de Infraestrutura (13%) e Transporte (8%). Já Trabalho, Produção de Bens e Serviços é onde o panorama está mais próximo da paridade (45%).

Outro aspecto demográfico relevante para entender o perfil de quem está à frente das cooperativas é o etário. 56% das lideranças têm idade superior a 50 anos, e 82% estão acima dos 40 anos. Os dados mostram que a maturidade é ainda maior entre dirigentes do sexo masculino.

Reprodução: AnuárioCoop 2025

Crescimento acompanhado de resultados

A análise demográfica mostra que o cooperativismo brasileiro está crescendo, tornando-se mais reconhecido e conquistando mais pessoas. O objetivo do movimento, entretanto, não é apenas ganhar capilaridade – passa também por gerar prosperidade econômica à população. E os dados mostram que o cooperativismo vem avançando nessa direção.

Em 2024, o cooperativismo obteve R$ 51,4 bilhões em sobras do exercício, 32% acima do registrado no ano anterior. O movimento tem se mostrado cada vez mais rentável, distribuindo maiores quantias entre seus associados.

Reprodução: AnuárioCoop 2025

Outros indicadores financeiros gerais reforçam a tendência positiva. O cooperativismo bateu recordes em ingressos (R$ 757,9 bilhões), ativos totais (R$ 1,4 trilhão) e capital social (R$ 105,1 bilhões). O movimento ainda ampliou os investimentos na sua força de trabalho em 31%, pagando R$ 41 bilhões em salários ao longo do ano.

Os ramos do cooperativismo em destaque

Compostos por 4.384 organizações, os sete segmentos do cooperativismo (Agropecuário, Consumo, Crédito, Infraestrutura, Saúde, Trabalho, Produção de Bens e Serviços e Transporte) apresentaram indicadores positivos em 2024 – todos, por exemplo, elevaram suas sobras do exercício. Um olhar direcionado a cada ramo nos permite identificar onde o modelo está se destacando mais.

O ramo Agropecuário comprova sua relevância histórica com números expressivos. Presente em todos os estados do Brasil, o segmento lidera em número de cooperativas (1.172), empregos gerados (268.279), ingressos (R$ 438,3 bilhões) e sobras (R$ 30,2 bilhões). 

“O cooperativismo agropecuário segue fazendo o que faz de melhor: cultivando desenvolvimento e colhendo prosperidade mesmo em momentos de incerteza. As cooperativas do ramo mais uma vez apresentaram suas virtudes, levando escala, infraestrutura e assistência técnica ao campo, com foco na perenidade dos negócios dos cooperados”, destacou Márcio Lopes de Freitas, presidente do Sistema OCB.

Um setor em franca expansão é o Crédito que gradualmente conquista seu espaço dentro do Sistema Financeiro Nacional. O segmento possui mais de 20 milhões de associados, liderando com folga em relação aos outros. O ramo também é o primeiro em ativos (R$ 989,4 bilhões) no cooperativismo.

Outros ramos também colaboraram para o progresso do cooperativismo. O setor de Consumo, por exemplo, apresentou aumento de 620% nas sobras do exercício em comparação com 2023 – saindo de R$ 67,1 milhões para R$ 483,3 milhões. 

Já a Saúde reflete a tendência geral, com diminuição no número de cooperativas acompanhada de crescimento na quantidade de cooperados (6,2%) e empregos gerados (7,9%).

Novas possibilidades para o cooperativismo

Já consolidado em sete diferentes ramos da economia, o cooperativismo poderá se beneficiar de nova legislação para expandir seu impacto a outro setor: o de seguros

A Lei Complementar nº 213/2025 autoriza, após regulação da Superintendência de Seguros Privados (Susep), a atuação de cooperativas seguradoras em qualquer nicho. Anteriormente, sua autorização era válida somente para seguros agrícolas, de saúde e de acidentes do trabalho.

A entrada do cooperativismo tende a levar produtos mais acessíveis e cobertura a regiões preteridas. O setor de seguros captou R$ 435,56 bilhões em 2024, e a Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) estima um crescimento de 10,1% neste ano. 

Exemplos como Finlândia, Países Baixos e França, onde as cooperativas correspondem a mais da metade da participação de mercado, evidenciam como o novo modelo pode impulsionar os já expressivos indicadores.

Conclusão: o panorama do AnuárioCoop 2025

A edição de 2025 do Anuário do Cooperativismo comprova que o movimento está crescendo de maneira sustentável, construindo legado a cada ano e atraindo novas pessoas com propósito, desempenho e impacto socioeconômico.

Para preservar essa trajetória positiva, é essencial não se acomodar. Saber liderar, gerenciar pessoas e se relacionar com o cooperado é a chave para preservar o toque humano do cooperativismo em meio à expansão.

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