A preocupação com a comunidade e a busca por uma gestão responsável para além do ambiente interno está no centro dos princípios cooperativistas: interesse pela comunidade, gestão democrática, participação econômica, intercooperação, entre outros. Por isso, podemos dizer que o ESG está no coração do cooperativismo.
Estruturado em três eixos – Environment (Ambiental), Social (Social) e Governance (Governança) – o ESG reúne práticas relacionadas à conservação do meio ambiente, à responsabilidade social e aos princípios aplicados na administração da organização, incluindo o relacionamento com governos, políticos e poder público.
Esse tripé orienta as ações das organizações de maneira a alinhá-las às necessidades do mundo atual e gerar valor ao negócio. Isso ocorre porque a sociedade tem valorizado, cada vez mais, produtos e serviços que levam em conta os impactos ao meio ambiente, à comunidade e oriundos de uma boa gestão, transparente, ética e responsável.
Por sua natureza, o cooperativismo é um ambiente propício para que essas práticas se proliferem, pois existe nele uma predisposição em pensar naquilo que é coletivo desde sua origem, concebida por diretrizes alinhadas com o desenvolvimento sustentável.
Não é à toa que muitas cooperativas brasileiras saem à frente no mercado, aproveitando oportunidades para inovar e liderar iniciativas que se tornam referência sobre como preservar o ambiente, transformar a sociedade positivamente e ainda gerar receita.
A seguir, preparamos seis exemplos de práticas do ESG no cooperativismo brasileiro, duas para cada uma dos seus eixos: ambiental, social e governança. Confira!
ESG: Eixo Ambiental
Sicredi Centro Norte: energia limpa e economia na conta de luz
Primeira cooperativa de crédito brasileira, o Sicredi atua em todo território nacional, tendo a sustentabilidade presente em todas as esferas de seus negócios. Nesse sentido, no Mato Grosso, o Sicredi Centro Norte construiu uma Usina Solar que abastece suas 140 agências e sedes administrativas.
A usina fica em Nova Xavantina (MT), em uma área de 9 hectares e 18 mil painéis solares instalados. Com o projeto, espera-se uma redução de mais de 24 mil toneladas de carbono nos próximos 25 anos. Além disso, estima-se uma redução de cerca de 95% na despesa do Sicredi com a conta de energia elétrica no Estado, gerando uma economia anual de aproximadamente R$ 12 milhões.
Para o diretor de Supervisão e Operações Nauder Alves, a construção da usina “é a concretização das ações planejadas para cumprir o Referencial de Desenvolvimento Sustentável” do Sicredi, guia utilizado pela cooperativa para planejar e executar iniciativas que visam reduzir o impacto ambiental, bem como maximizar os impactos positivos. “A usina traz benefícios aos associados, à sociedade e ao meio ambiente”, reforça Nauder.
Associação de Produtores de Crédito de Carbono Social do Bioma Caatinga
Localizada na região do cânion do rio São Francisco, em Alagoas, a Associação de Produtores de Crédito de Carbono Social do Bioma Caatinga é pioneira no Brasil. A cooperativa atua na preservação do bioma da Caatinga e na venda de crédito de carbono, promovendo a proteção ambiental e geração de renda para os pequenos produtores.
O projeto abrange uma área que inclui partes dos estados de Alagoas, Bahia, Pernambuco e Sergipe. A partir de um estudo sobre o estoque de carbono da região, a associação busca trabalhar com a regeneração das áreas desmatadas e estabelecer diferentes eixos de economia regenerativa, como produção de energia solar, ecoturismo, escolas de sustentabilidade e sistemas integrados de reciclagem.
Segundo Haroldo Almeida, consultor ambiental da associação, além de gerar renda para os associados, a estratégia de explorar os créditos de carbono é “uma forma, primeiro, de garantir a vegetação em pé e de compensar o impacto ambiental que está acontecendo”.
Segundo a ICC Brasil, estima-se que o mercado de carbono brasileiro pode gerar receitas de até US$ 100 bilhões até 2030. A criação da primeira cooperativa de crédito de carbono do Brasil é um exemplo de que há oportunidades neste mercado.
ESG: Eixo Social
CooperJohnson: tecnologia promove inclusão de cooperados surdos
Em 2019, para aumentar o nível de acessibilidade no atendimento e promover a inclusão social dos cooperados com deficiência auditiva, a CooperJohnson passou a adotar uma solução tecnológica que disponibiliza suporte em Libras ao atendimento telefônico.
Através de chamadas em vídeo, os cooperados surdos contam com o auxílio de uma intérprete de Libras, permitindo a tradução simultânea. Na prática, a comunicação ocorre entre o intérprete, o surdo e o atendente, com o intérprete fazendo a intermediação da conversa, trazendo clareza e precisão na troca de informação.
Com essa solução, a CooperJohnson quis proporcionar um atendimento mais humanizado para os cooperados surdos, gerando o sentimento de pertencimento à instituição, além de resolver as dificuldades que esse público tinha para sanar suas dúvidas e entender os benefícios oferecidos pela cooperativa.
Frimesa: oportunidades a imigrantes e refugiados
O Brasil é um importante destino de imigrantes e refugiados que vêm ao país para buscar uma nova vida. Nesse contexto, estar empregado é uma essencial fonte de renda estável, além de facilitar a integração em diversos setores da sociedade.
Diante dessa realidade, a Frimesa recebe, desde 1986, diversos imigrantes em seu quadro de funcionários. Atualmente, são cerca de 328 trabalhadores de diversas nacionalidades: venezuelanos, uruguaios, haitianos, cubanos, colombianos e sul-africanos. A maior parte chegou a partir de 2019.
A contratação dos imigrantes e refugiados se dá via organizações da sociedade civil que prestam apoio a essa população. Através do contato com a Frimesa, é possível incluí-los, proporcionando-os maior autonomia no processo de adaptação ao novo país.
Segundo explica Elisa Fredo, gerente de Gestão de Pessoas da Frimesa, no dia a dia é nítido o comprometimento desses funcionários, deixando claro que valorizam muito a oportunidade. Além disso, há uma taxa de rotatividade menor do que a média geral.
ESG: Eixo Governança
Coogavepe: transparência na comercialização de ouro
Voltada para projetos socioambientais com o fim de gerar uma mineração consciente e legal, a Coogavepe (Cooperativa dos Garimpeiros do Vale do Rio Peixoto de Azevedo), localizada no norte do Mato Grosso, criou um sistema de controle e rastreabilidade do minério de ouro de suas terras, potencializando a governança.
A iniciativa se deu a partir da identificação da necessidade de obter mais transparência e controle na comercialização do ouro junto aos postos de compras das Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários DTVMs. Sem esse controle, a cooperativa não conseguia ter o valor real dessas comercializações.
No momento da comercialização com as DTVMs, passou a ser gerado um cupom, contendo dados essenciais da operação, o que trouxe mais segurança jurídica, fiscal e tributária. Além disso, o acompanhamento e monitoramento permitiu que a cooperativa tivesse maior clareza sobre a quantidade ouro produzido e o seu respectivo valor.
Segundo a presidente da cooperativa, Solange Barbosa, com o sistema de rastreabilidade, a Coogavepe conseguiu documentar uma produção anual de 6 toneladas de ouro, trazendo mais desenvolvimento para garimpeiros e para as comunidades da região.
Castrolanda: projetando o futuro com gestão mais transparente
A Castrolanda possui cerca de 60 projetos estratégicos por ano com investimentos acima de R$ 200 mil cada. Nessa circunstância, a cooperativa agroindustrial viu a necessidade de criar um departamento especializado para acompanhar, da estratégia ao resultado, seus grandes projetos.
Para garantir maior transparência na seleção e no acompanhamento de cada projeto, a cooperativa criou um escritório de projetos corporativos – o PMO (Project Management Office). O escritório é responsável pela análise mensal das metas e indicadores, além de definir as regras para alterações de curso.
O objetivo do PMO é garantir que todos envolvidos nos projetos estejam alinhados à estratégia central e que sejam adotados os mesmos critérios para seleção, execução e acompanhamento dos projetos. Assim, com todos alinhados, evita-se as análises subjetivas de cada departamento de forma isolada e gera-se mais força em todas as áreas da cooperativa.
Uma das áreas do projeto é dedicada à governança, que tem os seguintes objetivos:
- Gerenciar um processo multidisciplinar que possibilite a aprovação de projetos que atendam aos objetivos da Castrolanda
- Prover uma metodologia a partir da cultura da cooperativa que possibilite a aplicação das melhores práticas em gestão de projetos visando maximizar seus benefícios.
Conclusão: a força do ESG no cooperativismo
O cooperativismo percebeu que adotar práticas alinhadas à agenda ESG possibilita impactar positivamente a sociedade e, ao mesmo tempo, gerar valor para o seu negócio. Isso porque, além de estar em conexão com os princípios cooperativistas, as práticas ESG vão ao encontro das demandas das novas gerações, mais atentas às questões éticas, sociais e de sustentabilidade.
Não por acaso, um relatório da PwC sobre o ESG nas cooperativas de crédito indica que mais de 70% das coops avaliadas notaram que houve aumento no interesse dos cooperados pela contratação de produtos e serviços adeptos ao ESG.
Em Minas Gerais, por exemplo, a Cooxupé valorizou seu produto com base em dois pilares: credibilidade e sustentabilidade. A estratégia procurou atender às exigências do consumidor e das empresas em relação à sustentabilidade e à agenda ESG.
Assim, a cooperativa passou a produzir um café de alta qualidade, procedência rastreável e alto valor agregado. Hoje, a maior parte de suas atividades são para atender o mercado externo, representando 68% do faturamento. Isso demonstra como o ESG é bom para o planeta, para a comunidade e, também, para os negócios.