Quando fundei a Coonecta junto com o Romário Ferreira definimos um objetivo bem claro para nossa empreitada: agregar e desenvolver um vibrante ecossistema de inovação no cooperativismo.
Ver o cooperativismo protagonista da inovação era mais um desejo, do que a constatação de um cenário. Tudo isso mudou, no entanto, entre 4 e 9 de novembro último, quando o Coonecta promoveu uma Missão a Nova York com o objetivo de fazer uma imersão em cooperativismo de plataforma e de base tecnológica.
O que vi na missão foi aquele ecossistema de inovação que sonhávamos ganhando corpo e, o mais importante, inovando de acordo com os princípios do cooperativismo.
A missão levou 24 representantes de cooperativas de todo o Brasil, que seguiram uma intensa agenda de visitas no ecossistema de inovação cooperativa da cidade.
A proposta do Coonecta foi trazer referências de cases reais de inovação e de plataformas cooperativas que pudessem inspirar iniciativas semelhantes no Brasil. E é um pouco disso que gostaria de contar neste post. Mas comecemos pela escolha do lugar.
Talvez você esteja se perguntando por que a missão do Coonecta foi a Nova York e não, por exemplo, ao Vale do Silício… Explicarei a seguir. Mas antes, se já quiser acessar o report exclusivo que apenas os participantes da Missão receberam, basta preencher o formulário abaixo.
A escolha da cidade para a Missão Coonecta a Nova York
O motivo é simples! A cidade de Nova York tem um rico ecossistema de inovação e cooperativismo. É lá, por exemplo, que fica sediada a The New School, onde lecionam os professores Trebor Scholz e Nathan Schneider, duas lideranças do movimento de cooperativismo de plataforma.
Nova York é o segundo maior ecossistema de inovação de todo o planeta. São mais de sete mil startups, que juntas geram 326 mil empregos e somam US$ 71 bilhões em valor de mercado.
A KPMG, por sua vez, conduziu uma pesquisa com 740 líderes de tecnologia. Mais da metade deles (60%) acredita ser provável ou muito provável que Nova York roube um pouco do protagonismo do Vale do Silício nos próximos quatro anos.
Um dos fatos que embasa esse entendimento é o rápido e vigoroso crescimento do ecossistema de inovação nova iorquino nos últimos cinco anos. Em 2012, eram US$ 2,3 bilhões investidos em startups. Este valor saltou para US$ 13 bilhões em 2017.
As perspectivas são de crescimento acelerado, o que já justificaria a ida da Missão para lá. No entanto, é ainda melhor do que isso. A ideia é que a vocação inovadora da cidade seja lapidada à sua própria maneira. E isso significa ser mais democrática, inclusiva e diversa.
Afinal, a cidade almeja ser o maior centro de inovação e tecnologia do mundo. Simultaneamente, no entanto, Nova York mantém o foco sobre ideias para promover justiça social, econômica e ambiental. Estas bandeiras são defendidas tanto pelo prefeito Bill de Blasio como pelo prefeito adjunto J. Phillip Thompson.
Cooperativismo em Nova York
Não bastasse o crescimento da vocação inovadora da cidade, ela também tem um vibrante ecossistema cooperativista. Prova disso é um dos programas da prefeitura, a Iniciativa para o Desenvolvimento de Cooperativas de Trabalho (WCBDI – Worker Cooperative Business Development Initiative). O programa já criou mais de 130 cooperativas de trabalho, com investimentos de US$ 2,9 milhões.
A cidade é, ainda, considerada o berço do cooperativismo de plataforma mundial. Foi a partir das publicações de um dos professores da New School, Trebor Scholz, que o movimento surgiu e ganhou força.
Não à toa, portanto, a cidade de Nova York foi sede da Conferência Internacional de Cooperativismo de Plataforma entre 7 e 9 de novembro. Uma das principais etapas da Missão Coonecta, a conferência foi realizada na sede da New School e teve como tema “Who Owns The World? The State of Platform Cooperativism” (Quem é o dono do mundo? O estado do Cooperativismo de Plataforma).
Assim, ao longo dos três dias de conferência foram colocados para discussão tópicos como:
- O poder do trabalhador na economia de plataformas;
- Misoginia e racismo nas cooperativas;
- Sustentabilidade ecológica;
- Melhores práticas de cooperação;
- Financiamento;
- O potencial das cooperativas de plataforma para relações de confiança de dados;
- Cooperativas de dados;
- Novos modelos de governança distribuída.
A Conferência mostrou diversas e inovadoras maneiras como o modelo cooperativo pode vir a ser adaptado para negócios de base digital e inovadores. No entanto, ao mesmo tempo em que há uma enorme flexibilidade de modelos de negócio e de governança a serem explorados, a tecnologia ainda é um gargalo. Essa percepção limita o surgimento de cooperativas de plataforma.
Atividades da Missão Coonecta a Nova York
Embora a experiência tenha sido muito enriquecedora, a ida a Nova York não se limitou à ida à Conferência Internacional de Cooperativismo de Plataforma.
Gabinete do Prefeito
Após uma abertura com palestras para preparação aos próximos dias de atividade, a Missão Coonecta foi ao Gabinete do Prefeito de Nova York. Então recebido pelo Prefeito Adjunto Phillip Thompson e uma equipe de funcionários municipais, o grupo compartilhou experiências e visões do cooperativismo brasileiro e norte-americano.
The Working World
Outro destaque do primeiro dia foi a visita à ONG The Working World, que tem como objetivo oferecer financiamento não extrativista e suporte a cooperativas em comunidades de baixa renda.
Center for Family Life
O segundo dia foi dedicado a visitas às cooperativas Center for Family Life e Up&Go, Park Slope Food Coop e CHCA (Cooperative Home Care Associates). O Center for Family Life é uma incubadora para criação de negócios cooperativos, dentre elas a Up&Go, plataforma para contratação de serviços domésticos prestados por trabalhadores cooperados.
O principal diferencial é que a plataforma é dos próprios trabalhadores, já que o sistema se baseia nos princípios de trabalho justo e propriedade coletiva. Foi concebida para ser uma alternativa ao modelo gig economy, que tem políticas de funcionamento e precificação pouco claras.
Park Slop Food Coop
Na Park Slop Food Coop o grupo viu que o ideal de quarenta anos atrás, quando a cooperativa foi fundada, tem se integrado à tecnologia. A cooperativa se define como agente de compras para seus membros e tem como premissa o apoio à agricultura sustentável e o respeito ao meio ambiente.
Para reduzir custos, os cooperados criaram um sistema de trabalho colaborativo. Assim, cada cooperado tem a obrigação de trabalhar duas horas e meia a cada 28 dias. A gestão das cerca de 500 pessoas que se revezam diariamente em diferentes funções tem sido feita com uso de ferramentas eletrônicas.
CHCA
A agência de assistência domiciliar trabalha com o conceito de “riqueza comunitária” mensurada a partir dos princípios de treinamento gratuito, serviços de qualidade, emprego, tutoria, desenvolvimento profissional e a ideia de ser dono do próprio negócio (employee ownership).
Há interesse por parte da CHCA em criar uma plataforma web simplificar o contato dos usuários com a cooperativa a CHCA. A tecnologia serviria para integrar meios de pagamentos.
MOEDA
Esta plataforma de microcrédito utiliza tecnologia Blockchain e criptomoeda proprietária para conectar investidores a populações não-bancarizadas em países emergentes.
A iniciativa visa ao lançamento de um marketplace para oferta de produtos das cooperativas e empreendimentos de impacto apoiados pela Moeda.
O blockchain proporciona rastreabilidade e transparência do “split” de pagamentos dos produtos. Ou seja, quem compra sabe exatamente para onde foi cada centavo do valor pago. Da mesma forma, o blockchain traz rastreabilidade e transparência aos investimentos de terceiros.
Savvy Cooperative
Trata-se da primeira cooperativa de dados de saúde dos Estados Unidos em que os dados são de propriedade do paciente. A ideia é promover avanço nas pesquisas e desenvolvimento de produtos de forma centrada no paciente. O diferencial é que a Savvy prevê remuneração justa ao paciente (um dos seus perfis de cooperados) pela cessão dos dados.
Baseada no princípio da justiça econômica, a Savvy é uma plataforma cooperativa multistakeholder. Assim, de um lado há os cooperados produzindo dados qualitativos e inteligência a partir de seus tratamentos de saúde. Do outro, as empresas da área da saúde acessam os dados e remuneram os pacientes de forma justa.
Independent Drivers Guild (IDG)
Filiado ao Sindicato dos Maquinistas, que representa mais de 65 mil motoristas de veículos de aluguel e aplicativos na cidade de Nova York, o IDG luta por melhores condições de trabalho e remuneração para os motoristas.
A iniciativa atua para aumentar a receita dos motoristas e para reduzir custos. Assim, estuda parcerias com redes de combustível, mecânicas, lava-rápidos e outras empresas. Da mesma forma, há também a possibilidade de adquirir redes ou constituir cooperativa de consumo próprias.
Outra possibilidade, ainda que remota, é a criação de uma plataforma própria. O obstáculo é o investimento estimado de entre US$ 1 milhão e US$ 2 milhões para criação de um aplicativo.
Saiba mais sobre a Missão Coonecta a Nova York
Poder ver um ecossistema de inovação cooperativista surgindo foi um baita privilégio e agora queremos compartilhar os aprendizados aqui no Brasil.
No Coonecta incentivamos os 24 participantes da missão a compartilharem o que viram com seus pares. Para ajudá-los nesta tarefa, fizemos um report pós-evento detalhando cada uma das visitas e aprendizados da Conferência Internacional de Cooperativismo de Plataforma.
E agora compartilhamos este mesmo report com você: basta preencher o formulário no início do texto para recebê-lo!