A intercooperação é um dos princípios do cooperativismo, mas, recentemente, um novo conceito ganhou força no Brasil: a intercooperação digital. Devido à pandemia de Covid-19, diversos setores foram obrigados a se reinventar e apostar em novas soluções, sobretudo no ambiente virtual.
O mesmo aconteceu com as cooperativas, que vêm passando por uma transformação digital há algum tempo. A pandemia apenas acelerou um processo que o setor cooperativista já vinha passando, que era a busca por novas soluções tecnológicas. O resultado foram inovações que estão transformando a forma com que as cooperativas se relacionam entre si e com seus cooperados.
Quer compreender melhor esse novo contexto? Veja agora o que é intercooperação e como ela pode acontecer no meio digital!
O que é intercooperação
Como já mencionamos acima, a intercooperação é um dos princípios do sistema cooperativista, que acredita na colaboração entre cooperativas, sejam elas do mesmo ramo ou não.
Esse tipo de cooperação gera um fortalecimento no cooperativismo como um todo e acaba sendo benéfico para todos os envolvidos (cooperativas e cooperados). Um bom exemplo disso foi o lançamento da marca Unium, criada em 2017 pelas cooperativas Castrolanda, Frísia e Capal.
Na época, as três atuavam de maneira independente uma das outras nos mercados de leite e derivados lácteos, produção e comercialização de carne de suínos e produção de trigo. Assim, eram concorrentes em algumas frentes.
Por atuarem de forma isolada entre si, tinham também recursos limitados para destinar a investimentos em pesquisa e em novas tecnologias. Os custos relacionados a demandas administrativas, de marketing e de logística também eram separados.
Sob esse contexto, as três cooperativas se juntaram para criar a Unium e, hoje, colhem bons resultados. Ao todo, as cooperativas juntas representam mais de R$ 7 bilhões em faturamento anual e uma presença de peso no mercado nacional.
Mas e a intercooperação digital?
Agora que você já sabe o que é intercooperação, fica mais fácil compreender como esse tipo de colaboração pode ocorrer no ambiente digital. Imagine um cenário no qual as cooperativas passam a utilizar o mesmo espaço virtual para oferecer seus produtos e serviços aos cooperados.
Isso seria muito interessante, não é mesmo? A boa notícia é que essa já é uma realidade no Brasil e hoje podemos contar com grandes exemplos, como é o caso da plataforma Supercampo e a NegóciosCoop.
Entenda como esses dois exemplos de intercooperação digital funcionam na prática:
Supercampo: intercooperação digital na prática
Doze cooperativas agro fizeram valer o sexto princípio do cooperativismo para inovar. Juntas, numa iniciativa de intercooperação digital, elas lançaram a plataforma Supercampo, marketplace que atende mais de 80 mil cooperados no Brasil.
A plataforma digital conecta os cooperados a diversas empresas cadastradas para atender às demandas do campo com qualidade, agilidade e segurança. Dessa forma, beneficia milhares de cooperados com preços competitivos, ampla oferta de produtos, bom atendimento, conveniência, agilidade na entrega e cashback a cada compra realizada.
Esse é um exemplo prático de como a intercooperação digital pode fortalecer o movimento cooperativista como um todo.
A plataforma, que foi lançada em 2021, tem como sócias as cooperativas:
- Agrária, com sede em Guarapuava (PR);
- Capal, sediada em Arapoti (PR);
- Castrolanda, de Castro (PR);
- Cooperalfa, de Chapecó (SC);
- Coopertradição, de Pato Branco (PR);
- Copacol, de Cafelândia (PR);
- Copercampos, de Campos Novos (SC);
- Coplacana, de Piracicaba (SP);
- Cotrijal, de Não-Me-Toque (RS);
- Frísia, de Carambeí (PR);
- Integrada, de Londrina (PR);
- Lar, de Medianeira (PR).
Além da intercooperação digital: um ecossistema
O CEO da plataforma, Ronald Eikelenboom, destaca que a Supercampo nasce com o propósito de fortalecer a presença das cooperativas no ambiente digital. Assim, permite a fidelização de novas gerações de cooperados e a criação de um ecossistema digital.
Seguindo a lógica de plataforma, a Supercampo é o elo entre a demanda dos produtores rurais e as ofertas dos principais fornecedores. Ou seja, uma ponte que oferece conveniência e facilidade para encontrar tudo o que o cooperado precisa para sua propriedade.
Dessa forma, a ideia é ir além de uma plataforma e propiciar a formação de um ecossistema cooperativista digital, que conecta as principais oportunidades do mercado com as demandas do agronegócio, interligando vários players.
NegóciosCoop: plataforma visa unir todas as cooperativas brasileiras
Em meio às mudanças tecnológicas e as novas necessidades do setor cooperativista que surgiram a partir de 2020, quando a pandemia atingiu de forma brusca a economia brasileira, ficou ainda mais nítido os benefícios que a intercooperação digital pode trazer às cooperativas e aos seus cooperados.
Percebendo essa oportunidade, o Sistema OCB também investiu em uma plataforma de marketplace que reúne cooperativas de todo o Brasil gratuitamente, a NegóciosCoop. A plataforma permite a negociação entre cooperativas em escala nacional e qualquer instituição registrada na OCB pode se cadastrar.
Com o objetivo de se tornar um grande e-commerce cooperativista, a NegóciosCoop atua como uma vitrine digital para que todas as cooperativas cadastradas exponham seus produtos e serviços e alcancem uma área de abrangência ainda maior do que o habitual, fortalecendo ainda mais o cooperativismo brasileiro.
Conheça os benefícios da intercooperação digital
Como você já pôde perceber, ao atuarem juntas, as cooperativas se tornam ainda mais fortes. Mas tendo em vista os desafios enfrentados pelo setor, apostar em novas frentes digitais tem sido uma das alternativas encontradas pelas cooperativas brasileiras.
No caso da intercooperação digital, essa é uma das alternativas que mais gera benefícios às cooperativas, que poderão ampliar a sua área de abrangência, e aos próprios cooperados, que terão acesso aos produtos e serviços da cooperativa de uma maneira ainda mais ampla e prática.
Além dessas duas situações, a intercooperação digital também beneficia as cooperativas de outras formas, por exemplo:
- Possibilidade de ganhos de escala;
- Uma nova forma de se relacionar e realizar negócios com os cooperados;
- Ampliação na divulgação de produtos e serviços;
- Por se tratar de um sistema colaborativo, há uma redução na concorrência e competitividade entre as cooperativas;
- Os cooperados acabam sendo beneficiados pela variedade de produtos e/ou serviços, entre outros benefícios.
Neste outro post, onde citamos 5 exemplos práticos de intercooperação, mencionamos cooperativas de diferentes setores (saúde, agro, transporte etc), o que demonstra como a intercooperação funciona independente do ramo do cooperativismo.
A intercooperação digital pode ser o futuro para o setor cooperativista?
De acordo com o presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Márcio Lopes de Freitas, a intercooperação é o futuro para a Nova Economia. Em matéria publicada no Globo Rural, Márcio cita alguns exemplos bem sucedidos de intercooperação e menciona a importância dessa prática para o fortalecimento do setor.
Em um de seus exemplos, Freitas enxerga a intercooperação até mesmo como uma estratégia de sobrevivência para cooperativas da indústria agropecuária. Por se tratar de um setor extremamente competitivo, a colaboração entre cooperativas pode garantir o sustento de pequenos produtores, bem como para as cooperativas menores.
No caso da intercooperação digital, essa não é apenas uma estratégia eficaz para a manutenção das cooperativas, mas também uma solução inovadora e que amplia o alcance de cooperativas regionais, fazendo com que cada vez mais o cooperativismo alcance novos mercados.
Conclusão
Quando olhamos para uma iniciativa de intercooperação tão bem sucedida e ampla como a da Unium, o desafio que fica é, sem dúvida, replicar o formato para outras frentes do cooperativismo e também para outras linhas de produção das cooperativas.
Por isso que o lançamento da plataforma Supercampo em 2021 foi tão relevante e importante para o cooperativismo, bem como a NegóciosCoop. É a intercooperação levada para o digital de forma inovadora.
Afinal, como sempre gostamos de lembrar, o cooperativismo já nasceu inovador e precisa de iniciativas como essas, de intercooperação digital, para ser protagonista da Nova Economia.