Vocรช sabia que o cooperativismo foi um dos principais clusters do Hacking.Rio, o maior Hackathon da Amรฉrica Latina? E isso nรฃo รฉ pouca coisa. Significa que centenas de programadores e empreendedores trabalharam ativamente por trรชs dias, desenvolvendo uma soluรงรฃo digital aderente aos princรญpios do cooperativismo.
Neste post, vocรช vai entender como foi o cluster do cooperativismo no Hacking.Rio – e por que isso รฉ tรฃo importante. Vamos por partes.
Comeรงando pelos nรบmeros. O Hacking Rio, realizado entre 9 e 11 de outubro de 2020, recebeu: 2.650 inscritos, 566 mentores e 14 clusters temรกticos. Entre eles, o cluster de cooperativismo, patrocinado pelo Sistema OCB/RJ, que propรดs um desafio bastante atual: a criaรงรฃo de uma cooperativa de plataforma capaz de gerar renda e fazer o dinheiro circular nas prรณprias comunidades do Rio de Janeiro.
Eu, Gustavo Mendes, cofundador da Coonecta, e meu sรณcio, Romรกrio Ferreira, fomos convidados para ser mentores do cluster das cooperativas. Aprendemos muito, ensinamos um pouco e terminamos com a certeza de que as cooperativas precisam, cada vez mais, falar para novos pรบblicos e mostrar que existe um caminho alternativo para a criaรงรฃo e desenvolvimento de startups.
Entรฃo, vamos comeรงar entendendo o que รฉ um Hackathon e a importรขncia do Hacking.Rio neste contexto.
O que รฉ um Hackathon?
Um Hackathon รฉ uma maratona de programaรงรฃo para o desenvolvimento de soluรงรตes de base digital. Para isso, sรฃo formadas equipes multidisciplinares que tรชm um tema ou desafio geral proposto pelos organizadores.
Entรฃo, em um determinado perรญodo de tempo, geralmente alguns dias, as equipes precisam apresentar as soluรงรตes para os desafios propostos.
Para ser mais especรญfico, vamos entender como funcionou o Hacking.Rio. O evento, que aconteceu digitalmente em 2020 por conta da pandemia, contou com 14 clusters temรกticos, cada qual com um ou mais desafios especรญficos.
Os clusters foram os seguintes:
- Cooperativismo
- Logรญstica
- Turismo
- Gov. BR Serpro
- Energia
- Sustentabilidade
- Varejo
- Woman in Tech
- Educaรงรฃo
- Oceanos
- Cybersecurity
- Transformaรงรฃo digital
- Empregabilidade
- Esporte & Games
Durante os trรชs dias de hackathon, hackers, programadores, desenvolvedores, designers, user experience designers, gamers, estudantes, pesquisadores e empreendedores em geral precisaram desenvolver um protรณtipo funcional para os desafios de cada cluster.
Ou seja, na prรกtica, nรฃo basta apresentar um PowerPoint ou canvas de negรณcio. ร preciso entregar os cรณdigos de um protรณtipo em funcionamento.
As equipes podiam ser formadas por trรชs a cinco participantes, com a sugestรฃo da organizaรงรฃo de que houvesse ao menos um membro com conhecimento em cada um destes temas: programaรงรฃo, desenvolvimento web/mobile, design e empreendedorismo.
Muitas equipes foram formadas durante o prรณprio evento, ร s pressas e de รบltima hora – inclusive a equipe vencedora do cooperativismo no Hacking.Rio! Conto isso mais ร frente…
Formadas as equipes, foi dada a largada para o Hackathon, na tarde do dia 9 de outubro.
Durante toda a maratona, as equipes contaram com uma estrutura de suporte, inclusive de profissionais multidisciplinares. ร aรญ que entra o papel dos mentores. O Romรกrio e eu, por exemplo, fomos mentores especรญficos do cluster de cooperativismo.
O cluster cooperativismo no Hacking.Rio 2020
Pelas regras do Hacking Rio, os patrocinadores dos clusters podem escolher um ou mais desafios para as equipes desenvolverem soluรงรตes.
O Sistema OCB/RJ, patrocinador do cluster do cooperativismo no Hacking.Rio, optou por escolher apenas um desafio. Este รฉ o texto resumo que os participantes receberam:
“A criaรงรฃo de uma soluรงรฃo funcional, ainda que inicial, que possa ser acelerada e dar baseย ร criaรงรฃo de cooperativa de plataforma capaz de mudar a realidade das comunidades carentes [do Rio de Janeiro], fazendo com que o dinheiro circule na prรณpria favela gerando novas oportunidades para os moradores”.
Conversei com o Abdul Nasser, superintendente do Sistema OCB/RJ, para entender a escolha de desafio รบnico. E ele explicou:
“A pandemia intensificou o avanรงo das plataformas digitais e da automaรงรฃo. Os hรกbitos digitais passaram a fazer parte da vida de todos. Precisamos fazer com que o cooperativismo avance com maior rapidez nessas mesmas รกreas e para isso nรฃo adiantava criar vรกrios desafios. Focamos na geraรงรฃo de trabalho e renda, desenvolvimento econรดmico local direcionado ร s comunidades mais pobres, justamente aquelas que mais estรฃo sofrendo com a exclusรฃo econรดmica digital”.
Nรณs da Coonecta topamos na hora o desafio de ajudar a mentorar o cluster – ainda mais com este tema que tem tudo a ver com nosso propรณsito.
Outros participantes tambรฉm foram tocados pelo desafio. Prova disso รฉ que o cluster de cooperativismo no Hacking.Rio foi um dos maiores do evento, com 31 equipes formadas.
Como mentor de primeira viagem, aprendi muito, ensinei um pouco e saรญ do evento entusiasmado em como foi simples as equipes – a maioria delas com zero conhecimento do cooperativismo – absorverem os valores e princรญpios cooperativistas.
Vou contar a seguir como foi minha experiรชncia.
โCalma que no comeรงo รฉ assim mesmoโ
A interface do Hackathon – que neste ano foi 100% online – รฉ bem simples e intuitiva. Basicamente, um site logado dividido por clusters. Cada cluster tinha vรกrias salas: a dos mentores, a das equipes e uma sala de descompressรฃo para relaxar – e que eventualmente contava com aulas de yoga e meditaรงรฃo esparsas.
Meu papel como mentor era basicamente ficar na sala de mentores esperando ser chamado e, eventualmente, dar uma passadinha nas salas das equipes para ver se precisavam de ajuda.
As equipes entram na sala dos mentores pedindo todo e qualquer tipo de ajuda: desde de dรบvidas bรกsicas sobre uso da plataforma, atรฉ questรตes mais estratรฉgicas de negรณcio.
O inรญcio do Hackathon, na tarde do dia 9 de outubro, foi de caos: participantes sem equipe tentando formar grupos de รบltima hora e muitas dรบvidas bรกsicas sobre as regras de participaรงรฃo.
Minha sensaรงรฃo seria a de que nada sairia de lรก, nรฃo fossem os organizadores falando a todo momento: “calma que no comeรงo รฉ assim mesmo, jรก jรก a coisas se acalmam”.
E de fato se acalmaram. Fiquei com a sensaรงรฃo que o comeรงo do Hackathon jรก serve como uma grande peneira entre quem estรก a fim mesmo, e quem se cadastrou sem muito compromisso. Uma boa parte jรก cai fora neste primeiro momento.
Fiquei feliz de ser chamado logo de inรญcio por um grupo que nรฃo entendia nada de cooperativismo de plataforma. Expliquei um pouco, enviei referรชncias e saรญ contente de ver que eles estavam bem focados em entender o modelo.
Mais para o fim da tarde do primeiro dia, quando todas as equipes jรก estavam formadas e comeรงando a trabalhar, apareceram algumas pessoas sem grupo na sala de mentores. Primeiro uma, depois outra, depois outra. Eram trรชs. Ou seja, jรก havia um grupo ali! Sugerimos que pegassem uma sala para comeรงarem a trabalhar. Depois fiquei sabendo que mais duas pessoas se juntaram ร quele grupo.
E nรฃo รฉ que foi exatamente aquele grupo, formado de รบltima hora, o vencedor do cluster de cooperativismo no Hacking.Rio?
Equipe formada ร s pressas
No total foram 135 inscritos no cluster de cooperativismo, formando 31 equipes. Destas, cinco chegaram ร etapa de entrega dos cรณdigos dos projetos. Ao total, uma equipe de 26 mentores apoiou as equipes do cluster de cooperativismo no Hacking.Rio.
Aquela equipe de participantes que se formou de รบltima hora montou o projeto Coopera Favela e, como disse, foi a vencedora do cluster. Os cinco resilientes integrantes que nรฃo desistiram ao se verem sem equipe e formaram um grupo ร s pressas, que se tornou vencedor, foram:
- Ana Cristina Soares (Presidente do Conselho Fiscal do Sicoob Judiciรกrio)
- Gabriel Lemos (Software Engineer na Inmetrics)
- Gabriela Silva (Designer e empreendedora com รชnfase em inovaรงรฃo social)
- Marcelo Caon ( Coordenador de desenvolvimento na PalmSoft Tecnologia)
- Matheus Lira (Software Development Intern na Radix Engenharia e Software)
Eu pessoalmente achei muito interessante essa vitรณria. Uma cooperativa, no fim das contas, รฉ uma uniรฃo de pessoas que tรชm mesmo objetivo, sejam elas conhecidas ou nรฃo. Estas, diferente de outras jรก prรฉ-formadas, se juntaram lรก na hora, pela necessidade. E o nome curiosamente genรฉrico da equipe achei ainda mais representativo: CooperAtiva. Sรณ isso. Pura e simplesmente.
Projeto Coopera Favela
O projeto da CooperAtiva, que foi batizado de Coopera Favela, รฉ uma plataforma digital para unir fornecedores de produtos ou serviรงos e clientes, em um formato tรญpico de uma plataforma, que conecta usuรกrios a produtores.
O Coopera Favela prevรช a criaรงรฃo de uma moeda social e toda a logรญstica de entrega dos produtos e serviรงos pela comunidade. A ideia รฉ que o aplicativo fomente a geraรงรฃo e circulaรงรฃo de renda na comunidade local, seguindo os princรญpios e valores do cooperativismo.
O projeto estรก em consonรขncia com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentรกvel 1 (Erradicaรงรฃo da pobreza), 8 (Trabalho decente e crescimento econรดmico), 10 (Reduรงรฃo das desigualdades) e 11 (Cidades e comunidades sustentรกveis).
E o interessante รฉ que o projeto pode ir alรฉm do Hackathon e virar negรณcio.
“Jรก estamos trabalhando com eles. O primeiro desafio รฉ alinhar as expectativas do grupo. Eles querem avanรงar, mas primeiro precisam saber qual o propรณsito. Alinhado o caminho, vamos apoiar com mentoria, estrutura, network na captaรงรฃo de recursos e inicio do projeto. Jรก estamos em contato com algumas lideranรงas de comunidades e acreditamos que o projeto tem grande chance de sair do papel!”, explica Abdul Nasser, do Sistema OCB/RJ.
“Alรฉm disso, a parceria com a Seguros Unimed, essencial para realizarmos esse evento, nos permitiu direcionar recursos para acelerar o projeto. Nรฃo รฉ muito, mas jรก ajudarรก nessa fase inicial”, complementa Nasser.
Em segundo e terceiro lugares, com projetos tambรฉm interessantes, ficaram as equipes Bora Viver, com o projeto TemTrampo, e a equipe Coop-Devs, com o projeto Bora Viver.ย