No segundo e último dia de WCM 2025, os palcos organizados pela Coonecta pautaram temas atuais e relevantes para o cooperativismo. Enquanto o Cooptech Summit trouxe debates sobre inovação e tecnologia, o RH Coop Conference abordou práticas de gestão e cultura com foco no desenvolvimento humano.
A manhã iniciou com a apresentação dos ilusionistas Henry & Klaus no Palco Mundo. A palestra magna do dia, intitulada “Inteligência Artificial, responsabilidade real”, foi apresentada por Lisiane Lemos, mentora no Black Founders Fund do Google e Secretária de Inclusão Digital do Rio Grande do Sul, que discutiu os desafios éticos da IA que não podem ser ignorados.
Em seguida, os participantes seguiram para os palcos temáticos. Confira o que rolou na programação do segundo dia do Cooptech Summit e do RH Coop Conference!
Cooptech Summit: Web3, inovação aberta e cases de tecnologia
A programação do segundo dia de Cooptech Summit começou com o painel “Novas fronteiras da intercooperação com foco em inovação”, que contou com a presença de Leandro Branco, autor e consultor em estratégia, Felipe Melo Ferreira, gerente de Inovação do Sicoob Credicom, e Lorena Miranda, gerente de Relacionamento com Cooperado da Coopama.

Felipe Melo Ferreira, gerente de Inovação do Sicoob Credicom e Lorena Miranda, gerente de Relacionamento com Cooperado(a) da Coopama – Foto: Júlia Pupo
Para os painelistas, o principal obstáculo para a intercooperação é o engajamento das pessoas. Para sanar essa barreira, é preciso fortalecer a educação cooperativista interna. “Não faz sentido a gente querer ter um cooperado próximo que viva a nossa cooperativa sem ter um time que tenha um perfil cooperativista”, argumenta Lorena.
Em seguida, Fernanda Freitas, gerente de Inovação da ABGi Brasil, palestrou sobre o processo de captação de recursos para projetos de Inovação. Ela descreveu o reconhecimento das cooperativas como beneficiárias do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) como uma vitória institucional.
A pesquisa de inovação do cooperativismo aponta que quase 50% das cooperativas veem a falta de recursos como o maior impedimento para inovar. Ela contrapõe: “Na prática, eu posso dizer para vocês que recursos são abundantes”, especialmente em fontes públicas que visam compartilhar o risco de projetos de inovação tecnológica.
Nesse cenário, o Sistema OCB oferece ferramentas para auxiliar as cooperativas, como o curso no CapacitaCoop para estruturação de projetos e o Radar de Financiamento. Fernanda mencionou projetos da Cocamar e da Cooperativa Reca como exemplos concretos de captação de recursos para inovação.
Gestão e segurança tecnológica no cooperativismo
Adriel Moro, consultor sênior em Gestão, Estratégia, Liderança e Melhoria de Processos, e Richard Oliveira, diretor-executivo da Fáciltech, foram os convidados da terceira palestra do dia, explorando o tema “Como conectar estratégia, projetos e rotina com a gestão visual: uma experiência Fáciltech”.
Eles explicaram que em ambientes de escritório e desenvolvimento de software, o trabalho é “invisível”, dificultando a identificação de gargalos, problemas e o volume real de tarefas. Assim sendo, as ferramentas de visualização são aliados na compreensão dos fluxos de trabalho. “A gestão visual revela o terror de todo gestor: enxergar desperdícios ocultos”, explica Oliveira.

Adriel Moro, consultor sênior em Gestão, Estratégia, Liderança e Melhoria de Processos – Foto: Júlia Pupo
Fechando os painéis da manhã, Fernando Lucindo, advogado especializado em cooperativismo e tokenização, discutiu como a Web3 muda as regras da confiança, do dinheiro e da internet. Ele defendeu que a Web3, baseada na tecnologia blockchain, representa uma mudança de paradigma rumo à descentralização dos dados.
Lucindo explicou que a Web3 “é uma infraestrutura tecnológica que é a inovação mais disruptiva pós-internet.” Além disso, o palestrante indicou um futuro movido pelas finanças descentralizadas e por contratos inteligentes construídos à base de blockchain – indicando que as cooperativas de crédito precisam ficar atentas ao tema.
Cases inovadores de sucesso
Na parte da tarde, Rafa Silva, head do Horizontes Hub e head de inovação da Unimed-BH, apresentou o case do hub na palestra “Aplicação da inovação e da inteligência artificial no contexto das cooperativas”. O Horizontes Hub expande a atuação para todo o ecossistema de saúde, não sendo exclusivo da Unimed BH, trabalhando em três horizontes: o negócio principal, experimentos rápidos e a criação de novos negócios.
O case representa a importância do patrocínio da alta liderança e envolvimento dos colaboradores para o sucesso de projetos inovadores. Além disso, o hub foca na ambidestria, trabalhando simultaneamente a inovação incremental e a disruptiva, de forma a “dar pequenos saltos intercalados com grandes saltos”, narra.
Dentre os projetos de sucesso realizados pelo hub, estão o “Onde Ir Digital”, um serviço interativo que usa IA para orientar o paciente sobre o melhor local de atendimento com base em seus sintomas; e o “Consultório 2030”, que visa fortalecer o consultório médico com ferramentas tecnológicas que permitem ao médico focar totalmente no atendimento.
O último conteúdo do palco foi apresentado por Lucas Kubiaki, diretor de Digital, Growth & Produtos do Banco Mercantil. Kubiaki narrou a trajetória do banco, indo do foco na geração prateada à liderança global em negócios no WhatsApp graças a uma jornada bem-sucedida de transformação cultural que teve início em 2019.
A estratégia do banco se concentrou em um público mais velho, acima dos 50 anos, perante a estimativa de que esse demográfico representará 31% da população e 60% da riqueza em 2030. Trata-se, afinal, de um público menos bem atendido digitalmente pelas soluções financeiras disponíveis atualmente no mercado.
O WhatsApp tem um papel central nessa estratégia, como ele explica ao mencionar o caso da Lúcia, uma cliente aposentada com dificuldades de usar tecnologia. “A Lúcia não sabe baixar um aplicativo, mas ela sabe mandar um áudio para a netinha. Onde é que a gente tem que estar? Onde está a Lúcia, que é no WhatsApp”.
RH Coop Conference: cultura, segurança do trabalho e habilidades humanas na era digital

Mariana Porto, gerente de Gestão de Talentos Humanos da Coopersystem; Diogo Anderson Angioleti, líder de Gente, Gestão e Inovação da Transpocred; e Raquel Campos, superintendente de Pessoas da Unimed BH – Foto: Júlia Pupo
No palco RH Coop Conference, as atividades do segundo dia começaram com o painel “Pessoas no centro: como sustentar cultura, engajamento e propósito nas cooperativas de médio e grande portes”. O debate reuniu Mariana Porto, gerente de gestão de talentos humanos da Coopersystem; Diogo Anderson Angioleti, líder de Gente, Gestão e Inovação na Transpocred; e Raquel Campos, superintendente de Pessoas da Unimed BH.
Diogo apontou que o crescimento do cooperativismo no Brasil, embora positivo, traz alguns desafios, e manter a essência cooperativa é um deles. “Isso é muito importante e é o que nos diferencia: continuar colocando pessoas no centro. Parece muito fácil de falar, mas, na hora de fazer, a gente tem que olhar com muito cuidado para o propósito coletivo e para o engajamento verdadeiro e genuíno”, elucida.
Para Mariana Porto, ter os princípios e os valores consolidados é o que facilita esse processo. “A cultura é a essência que vai fazer isso acontecer”, explica. Essa cultura precisa ser incentivada entre os colaboradores, para que traga também engajamento e resultados.
Revolução digital e disrupção precisam andar lado a lado com o propósito da cooperativa
Douglas Zilio, arquiteto de soluções na Lecom, subiu ao palco na sequência para explicar por que a área de RH está conduzindo a revolução digital nas organizações. Segundo ele, a tecnologia, por si só, não é capaz de resolver problemas em uma cooperativa. “Se não estiver integrada com pessoas, se não tiver posicionada da forma correta, a tecnologia não vai resolver o processo bagunçado”, elucida.

Douglas Zilio, arquiteto de soluções da Lecom – Foto: Júlia Pupo
Para Douglas, não há dúvidas de que o investimento em tecnologia precisa acontecer. As ferramentas digitais devem fazer parte do dia a dia e o time de RH é essencial para coordenar essa aplicação. “Porque tecnologia só faz sentido se for colocada de forma estratégica dentro da organização”, defende.
Além disso, o especialista argumenta que os avanços tecnológicos não devem roubar o espaço dos profissionais de RH, mas serem usados como ferramentas para facilitar o trabalho desse setor.
Logo depois, o designer educacional da Ânima Soluções, Sergio Itamar, apresentou a palestra “O delírio da disrupção como armadilha da inovação”. Ele explica os perigos de tomar decisões baseadas na vontade de crescer rapidamente, deixando de lado o planejamento e o que realmente importa para a sua cooperativa.
Para Sérgio, o delírio seria usar processos de revolução indistintamente, sem nenhum critério, em uma organização já consolidada no mercado. “Você pode estar jogando fora a essência de quem você é, aquilo que o pessoal reconhece que você tem como excelência”, pontua.
Foco nas pessoas: segurança do trabalho e desenvolvimento de habilidades

Emerson Franco, fundador do Grupo Colabor – Foto: Júlia Pupo
Encerrando a manhã, Emerson Franco, fundador do Grupo COLABOR, falou sobre práticas para evoluir a cultura de segurança do trabalho nas cooperativas. O especialista entende que a segurança pode se tornar um diferencial competitivo das cooperativas no mercado.
Para ter uma cooperativa segura, é preciso ter um olhar amplo. “Ao analisar um acidente, se alguém encontrou uma causa só, está errado, não olhou para todos os lados. O acidente sempre é multicausal, com várias influências, inclusive sistêmicas e organizacionais”, justifica. Sendo assim, Emerson acredita que treinamentos de segurança podem surgir para contribuir com a segurança do trabalho e fomentar a cultura em uma cooperativa.

Tani Melo Fernandes, gerente de RH, e Rita Karoline Rodrigues, consultora de RH, cooperativa Comigo – Foto: Júlia Pupo
À tarde, a programação começou com palestra de duas colaboradoras da Cooperativa Comigo. Tani Melo Fernandes, gerente de RH, e Rita Karoline Rodrigues, consultora de RH, apresentaram o case “Programa de Cultura Viva Comigo: da estratégia à prática”. O time de RH da Comigo criou a iniciativa pensando no desenvolvimento e fortalecimento da cultura.
Para isso, o RH determinou os pilares da cultura organizacional, estabelecendo as habilidades que todos os colaboradores deveriam desenvolver. São eles: o comprometimento e o equilíbrio, a valorização das pessoas, a inteligência cooperativa e o domínio técnico.
Segundo elas, esse processo só foi possível graças à participação ativa das lideranças no projeto. “O RH não faz nada sozinho. A gente só conseguiu trazer isso para a discussão, desenvolver passo a passo, porque teve o envolvimento e a participação de cada um dos líderes em todas as fases do programa”, argumentou Tani Fernandes.
Para concluir: habilidades e aprendizados
A palestra seguinte, ministrada pelo diretor e facilitador da Team Building Brasil, Paulo Vinicius Souza, abordou as chamadas “Human Skills”. Paulo destacou a importância de desenvolver os colaboradores para trabalhar com tecnologia e Inteligência Artificial.
O especialista convida as cooperativas a enxergarem a aprendizagem dos colaboradores como uma necessidade para os negócios. “Na verdade, isso aqui é uma necessidade, é algo de suma importância. Que não fique apenas para o RH ou para a área de treinamento e desenvolvimento, mas que a empresa olhe para a aprendizagem como uma estratégia”, pede.
Finalizando o evento, Maíra Santiago, diretora-presidente da Cooperativa Coletiva, conduziu uma sessão interativa sobre os principais insights do RH Coop Conference e convidou os participantes a compartilharem o que aprenderam nos dois dias.
A plateia destacou que aprenderam sobre importância da humanização e tecnologia no RH, dicas de desenvolvimento de lideranças, práticas para melhoria da cultura e aumento do engajamento dos colaboradores. Por fim, as atividades do WCM 2025 foram encerradas no Palco Mundo, com um show do cantor Toquinho.
Apoio do Cooptech Summit e RH Coop Conference
Realizado pela Coonecta, o Cooptech Summit conta com patrocínio master do InovaCoop e do Sistema OCB. Além disso, Lecom, Nexum, Faciltech, Veritran, Skopia e Ubots são as patrocinadoras gold. O apoio é da Federação Nacional das Cooperativas de Crédito (FNCC).
Já o RH Coop Conference é apoiado pelos patrocínios de CapacitaCoop, Sistema OCB, Cooperativa Coletiva, Ânima Soluções e Colabor, além de apoio da FNCC.