O cooperativismo é – e precisa ser – um aliado na promoção da saúde mental. Afinal, um dos seus pilares é justamente garantir o desenvolvimento sustentável dos locais onde atua. Quando pensamos no bem-estar da sociedade, é essencial colocar a saúde emocional como prioridade.
“O consultório não é apenas um lugar de cura, é também um lugar de desenvolvimento humano”, explica Layon Brito, presidente da Cooperativa de Trabalho dos Psicólogos do Espírito Santo (Coopsi). A cooperativa é a maior rede de psicólogos do estado, com mais de 30 consultórios nos principais centros da Grande Vitória.
“Na terapia, a gente aprende muitas coisas, como reconhecer os nossos talentos, o nosso valor. A gente aprende a se relacionar melhor com o outro, posicionar limites, ter relacionamentos saudáveis, melhorar a comunicação, ter inteligência emocional”, exemplifica o profissional.
Serviços psicoterapêuticos se tornam, portanto, uma ferramenta para avançar no desenvolvimento humano. “Você tem um profissional capacitado, com um conhecimento aprofundado para te levar a explorar com plenitude todo o seu potencial”, ressalta Layon.
Cooperativismo e psicologia: preocupação com a saúde mental da comunidade
Tanto no cooperativismo, quanto na psicologia, as pessoas são o centro e a base dos negócios. Se unidos, ambos os setores podem se potencializar. “Quando falamos de psicologia em um modelo cooperativista, falamos de aproximar o cuidado das pessoas”, pontua Kelly Saraiva, diretora presidente da cooperativa de psicólogos UniPsico Uberlândia.
A UniPsico Uberlândia surgiu em 1995 com o compromisso de levar saúde mental para a população e fortalecer a atuação da psicologia por meio do cooperativismo. Um grupo de psicólogos insatisfeitos com a dificuldade do acesso aos seus serviços decidiu criar uma alternativa ética, acessível e sustentável.
Segundo Kelly, a cooperativa se diferencia porque, ao contrário das clínicas tradicionais, não tem o lucro como foco central. “Isso permite oferecer atendimentos com valores mais acessíveis, reforçando a ideia de que psicologia é para todo mundo, e não apenas para quem pode pagar caro por isso”, argumenta.
Layon também enxerga esse potencial na ligação entre cooperativismo e psicologia. “O cooperativismo tem a oportunidade de se posicionar de uma forma muito assertiva nesse cenário. Pelo sétimo princípio cooperativista, o interesse pela comunidade, é uma grande maneira de gerar impacto na sociedade”, observa o profissional.
Com cooperativismo, a psicologia é para todos
A psicologia, unida ao cooperativismo, pode aumentar o acesso à saúde mental e ao desenvolvimento intelectual, ainda tão restrito no Brasil. “São públicos privilegiados que têm acesso ao conhecimento sobre desenvolvimento intelectual”, conta Layon.
Layon explica que o acompanhamento psicológico ajuda no desenvolvimento de habilidades importantes para a vida pessoal e profissional, como as soft skills, tão cobradas no mundo corporativo.
“Soft skills são habilidades de relacionamento, habilidades intelectuais. A maior parte da população brasileira é privada desse tipo de conhecimento. Muitos não sabem que as empresas são obrigadas a ofertar treinamento e capacitação para seus colaboradores, e a maior parte da população brasileira é mantida no subemprego”, alerta.
Nesse sentido, o cooperativismo atua com psicoeducação para promover o desenvolvimento intelectual da população, e essa preocupação vai ao encontro dos princípios da psicologia.
“Os psicólogos são muito coletivistas. A gente quer justiça social, equidade, quer que as minorias tenham formas de chegar. A gente não quer discriminação”, pontua Layon. Para ele, o cooperativismo é um modelo de gestão e geração de resultados que pode trabalhar em sinergia com a psicologia.
Layon cita sua própria experiência no cooperativismo como um marco de sucesso do modelo. “Eu, por exemplo, sou uma liderança, um jovem negro líder de uma cooperativa. O cooperativismo gera oportunidades. Eu sou tratado com muito respeito no cooperativismo”, celebra.
Layon Brito em evento da Coopsi – Acervo pessoal
A UniPsico também valoriza esse papel do cooperativismo como propagador de saúde mental. “No fim, a cooperativa cria uma rede de cuidado mais humana, próxima e justa. E isso faz diferença para todos”, elucida Kelly.
A importância do modelo cooperativo para serviços de saúde mental
Segundo Layon, o cooperativismo é um modelo excelente para os psicólogos, possibilitando que os profissionais entreguem seus serviços para a sociedade com qualidade e condições adequadas de trabalho.
“O psicólogo, desde a faculdade, é muito estimulado a se conectar, cuidar e acompanhar pessoas. É totalmente clínico”, diz o especialista. Assim, o cooperativismo surge como uma ferramenta que aproxima o psicólogo da área de gestão e administração, essencial para o sucesso e desenvolvimento de um negócio.
“A psicologia, muitas vezes, é uma profissão solitária, com o profissional atuando de forma isolada em seu consultório. O cooperativismo rompe com esse isolamento ao promover o trabalho coletivo, o apoio mútuo e o fortalecimento da classe”, completa Kelly.
Pela UniPsico, por exemplo, os psicólogos têm acesso a uma rede de suporte, participação em projetos e convênios, além de representatividade para lutar por melhores condições junto aos órgãos competentes e planos de saúde.
“A cooperativa também oferece capacitações, eventos e espaços de troca, promovendo o desenvolvimento contínuo dos seus cooperados. Muitos atendimentos são encaminhados diretamente pela UniPsico, fortalecendo o vínculo com a comunidade e gerando novas oportunidades para os profissionais”, conta a diretora.
O cooperativismo, dessa maneira, amplia horizontes para os profissionais e fortalece a presença da psicologia no mercado de forma ética e colaborativa.
Evento da UniPsico Uberlândia com cooperados – Divulgação UniPsico Uberlândia
Serviços de saúde mental oferecidos por cooperativas
A Coopsi e a Unipsico são dois exemplos de como o cooperativismo pode auxiliar na propagação da saúde emocional. Na cooperativa de Uberlândia, inúmeros são os serviços oferecidos pelos associados.
Com 207 cooperados, a UniPsico trabalha não apenas com a psicoterapia, seu principal serviço, mas também com atendimentos especializados como aplicação do método de Análise do Comportamento Aplicada (ABA), avaliação neuropsicológica, orientação vocacional e atendimentos psicopedagógicos. Além disso, a cooperativa trabalha com palestras, cursos e oficinas voltadas à promoção da saúde mental.
A cooperativa do Espírito Santo também tem uma vasta gama de serviços que não se restringem ao atendimento em consultório. A Coopsi atua em todas as modalidades de avaliação psicológica, como as ocupacionais, pré-cirúrgicas, neuropsicológicas e avaliação para porte de arma.
“Agora também inauguramos nossa consultoria de RH. Nós temos psicólogos e consultores que estão ajudando empresas em três linhas principais: recrutamento e seleção, implantação de RH e construção do programa de saúde e bem-estar dentro das organizações”, conta Layon.
O presidente diz que, com a atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR1), a principal normativa de saúde do trabalho, a cooperativa já oferece um programa de saúde mental completo para as empresas, ajudando na parte de gestão dos riscos psicossociais.
Conclusão: cooperativas se comprometem a difundir saúde mental
A atuação da Coopsi e da UniPsico Uberlândia é exemplo de como o cooperativismo pode impulsionar os serviços de saúde mental na sociedade. “Essas ações reforçam nosso compromisso em ampliar o diálogo sobre o tema na sociedade”, reforça a diretora Kelly.
Com uma boa gestão cooperativa, a união de psicólogos pode gerar eficiência e eficácia nesse setor que busca transformar a sociedade. “Você tem um cuidado de muita qualidade em uma ponta, e uma gestão também de qualidade na outra. É um casamento perfeito”, conclui Layon.
Pensar na saúde mental da sociedade exige olhar para as pessoas com atenção e consciência, trabalhando de forma coletiva. E que modelo de negócios poderia fazer isso tão bem quanto o cooperativismo?