Como o cooperativismo fortalece a agricultura familiar

A Cooperativa Central dos Produtores Rurais e da Agricultura Familiar do Vale do Ribeira (Cooper Central VR) surgiu da união de 12 cooperativas e duas associações de agricultura familiar, distribuídas nos municípios paulistas de Eldorado, Iporanga, Juquiá, Miracatu, Registro, Sete Barras e Cajati. 

Com o crescimento dos conglomerados de mercados e o desenvolvimento do agronegócio, muitas famílias de agricultores ficaram para trás. Na obra “Donos do Mercado”, livro-reportagem de João Peres e Victor Matioli que descreve as práticas dos supermercados com trabalhadores, fornecedores e a sociedade, a cooperativa relata como o cooperativismo pode ser uma solução para fortalecer negócios rurais mantidos por famílias. 

“A Cooper Central VR atua como um guarda-chuva na representação das organizações que a compõem e na busca por políticas públicas de fortalecimento da agricultura familiar. A expressão ‘juntos somos mais fortes’ foi utilizada na prática”, explica Aline Juvêncio Gonçalves, diretora financeira da Cooper Central VR.  

Agricultura familiar para fazer bons negócios

Segundo Aline, as cooperativas da Cooper Central VR se juntam para fazer vendas mais robustas e ajudar uns aos outros. “Desde o ano de 2015, o cenário da agricultura familiar vem se modificando positivamente, podendo gerar emprego e renda. O cenário anterior às cooperativas era de dificuldade de acesso ao mercado pelo produtor”, completa.

Ela relata que a produção e a comercialização por agricultores familiares eram inviáveis, pois muitos dependiam da atuação de atravessadores. Esses intermediários conectam produtores a consumidores finais, como lojas e mercados, mas fazem essa ponte pagando um valor muito abaixo para os agricultores.

Nesse sentido, a Cooper Central VR surge para fortalecer os agricultores a fazerem uma venda direta ao consumidor, mercados, pregões, licitações e outras formas de comercialização. Proporcionando maior integração e inserção no mercado, aprimorando e aperfeiçoando processos de produção e distribuição, foi na união que essas famílias encontraram forças para se consolidarem no mercado.

Assim sendo, a Cooper Central VR é um exemplo de como a agricultura familiar e o cooperativismo se conectam para gerar negócios e promover desenvolvimento. 

A agricultura familiar: o que é e quem inclui

A agricultura familiar é baseada no trabalho de pequenos empreendedores e famílias rurais. Esse modelo de produção tem um grande papel no desenvolvimento econômico e social da economia brasileira e encontra um grande aliado no modelo de negócios cooperativista. 

Apesar de sua importância, a agricultura familiar ainda enfrenta desafios para se consolidar no mercado graças à menor escala de produção, o que reduz o poder de negociação para comprar insumos e vender a produção.

Uma forma de fortalecer esses negócios é a cooperação, afinal. Unidos pelo cooperativismo, produtores de agricultura familiar têm muito mais potencial para crescer e se consolidar. As cooperativas de agricultura familiar permitem que os produtores se unam para acessar estruturas e ferramentas, ganhando mais competitividade no mercado interno e até mesmo para a exportação.

Para entender melhor o que de fato significa a agricultura familiar, podemos nos basear na Lei nº 11.326. Criada em 24 de julho de 2006, a Lei da Agricultura Familiar define como agricultor familiar rural aquele que pratica atividades no meio rural e segue, segundo o Art. 3º, os seguintes requisitos:

  1. As famílias possuem, no máximo, quatro módulos fiscais de terra. O módulo fiscal é uma unidade de medida em hectares, que varia para cada município. Em geral, uma área entre 1 e 4 módulos fiscais é considerada pequena propriedade.
  2. Os produtores usam predominantemente mão-de-obra da própria família na produção do seu empreendimento. 
  3. A família deve seguir o percentual mínimo da renda familiar originada de atividades econômicas vinculadas ao próprio estabelecimento ou empreendimento, na forma definida pelo Poder Executivo.
  4. Os agricultores devem dirigir seu estabelecimento ou empreendimento com sua família.

Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), seguindo essa definição, podem ser considerados agricultores familiares os pequenos produtores rurais, povos e comunidades tradicionais, famílias que receberam terras por meio do Programa Nacional de Reforma Agrária (PNRA), silvicultores, aquicultores, extrativistas e pescadores.

Importância da agricultura familiar no Brasil

Mesmo com as diversas dificuldades para se manter competitiva no mercado, a agricultura familiar carrega uma grande importância no ramo do agronegócio. Segundo o Censo Agropecuário de 2017, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 77% dos estabelecimentos do agronegócio brasileiros são de agricultura familiar. 

Desse modo, o setor é responsável por 23% do valor da produção total do agro brasileiro. Esse valor representa uma fatia significativa para o mercado e garantindo boa parte da produção de alimentos no país.

Além de ter um grande impacto na produção agrícola brasileira, a agricultura de pequenos produtores rurais também ajuda a gerar empregos, especialmente em regiões rurais e mais afastadas das grandes metrópoles, movimentando o comércio local e contribuindo para o desenvolvimento de pequenas comunidades.

Cooperativismo e produção agropecuária familiar

Uma solução para enfrentar as dificuldades que acarretam a agricultura familiar é unir forças por meio do cooperativismo. Tanto a agricultura familiar quanto o cooperativismo buscam uma produção sustentável, capaz de fortalecer as comunidades locais e as famílias. 

A produção agropecuária já é uma área que se destaca dentro do cooperativismo. Segundo o Anuário do Cooperativismo de 2024, são 1.179 cooperativas, mais de um milhão de cooperados e 257 mil colaboradores atuando nesse setor.

Esses números mostram o poder do cooperativismo no agronegócio, e dentro dele existem diversas organizações de agricultura familiar. Nessas organizações, os agricultores familiares são os cooperados e se beneficiam das inúmeras vantagens que o cooperativismo oferece.

Por meio do modelo cooperativo, os agricultores familiares têm mais trocas de experiências e uma grande rede de comunicação, ganham poder para realizar maiores negociações e facilidade no acesso a diversos recursos. Além disso, também conseguem comprar insumos e aparelhos por menor custo, diminuindo consequentemente os preços e se tornando mais acessíveis ao mercado. A união dessas famílias pode construir negócios de sucesso.

Conclusão

Com o apoio do cooperativismo, a agricultura familiar, já tão importante para a economia brasileira, consegue se desenvolver ainda mais.

“A força do cooperativismo driblou as barreiras da competição e fortaleceu a agricultura familiar do Vale do Ribeira. Os produtores rurais do Vale do Ribeira, na região sul do Estado de São Paulo, descobriram uma oportunidade de união, conectando produtores que individualmente são pequenos para, em conjunto, torná-los fortes”, declarou Aline.

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