Como a Coreia do Sul criou mais de 15 mil cooperativas em 7 anos

Nos últimos anos a Coreia do Sul tem testemunhado o surgimento de diversas cooperativas de cientistas e desenvolvedores de softwares. Da mesma maneira, o cooperativismo de plataforma também tem vivido uma fase efervescente naquele país. São cooperativas de motoristas, profissionais de limpeza e outros trabalhadores autônomos.

No total, segundo a Coop Exchange, 15.585 cooperativas foram criadas entre os anos de 2012 e 2019.

Isso significa que, em média, 2 mil cooperativas foram criadas todos os anos na Coreia do Sul. O número, que é relevante sob qualquer ponto de vista, é ainda mais expressivo ao considerar que países com o dobro da população coreana, como é o caso da Alemanha e do Reino Unido, viram 187 e 150 cooperativas serem criadas, respectivamente, em 2019. 

O poder da legislação

Este fenômeno está relacionado, em grande parte, à lei que alterou a regulamentação das cooperativas coreanas. Até 2012, as cooperativas criadas na Coreia do Sul estavam limitadas a atuar em poucos segmentos industriais com legislações específicas bastante restritivas.

A partir do chamado Cooperative Framework Act, que alterou as regras para a criação desse tipo de organização, as cooperativas podem se estabelecer em praticamente qualquer setor, além de contar com uma drástica redução na complexidade das regras a serem seguidas.

Antes da entrada em vigor desta lei, para fundar uma cooperativa para atuar no ramo agropecuário era necessário contar com 1 mil membros fundadores. Para cooperativas de consumo a exigência era de pelo menos 300 membros fundadores. E 100 era a quantidade mínima de membros fundadores exigida para a criação de cooperativas de crédito.

Agora, a quantidade mínima de pessoas necessária para fundar uma cooperativa é cinco fundadores. Além disso, as cooperativas são agora reconhecidas como entidades legais, o que as torna aptas a receber empréstimos bancários convencionais.

A entrada em vigor desta lei se deve ao ganho de apoio ao movimento cooperativista entre as lideranças políticas. Além de a maior parte dos partidos políticos terem passado a incluir as cooperativas em seus programas nas últimas duas eleições, o prefeito de Seul afirmou que sua meta era ver cada um dos moradores da metrópole se tornar membro de pelo menos uma cooperativa.

Agricultura como carro-chefe

Um dos pontos de apoio da forte expansão cooperativista na Coreia do Sul é a agricultura. Isso porque o player dominante neste setor é a The National Agricultural Cooperative Federation (Federação Nacional de Cooperativa Agrícola), criada em 1960 e que cresceu a ponto de praticamente incluir todos os produtores rurais familiares no seu quadro de membros.

Em paralelo às atividades relacionadas à produção agrícola, a entidade também administra uma rede bancária que é o segundo maior grupo financeiro de toda a Coreia do Sul em relação ao valor total dos ativos.

E a National Agricultural Cooperative Federation está longe de estar sozinha no ramos do cooperativismo de crédito. Há aproximadamente 900 cooperativas de crédito no país, que, em 2012, contabilizavam cerca de 5,9 milhões de membros.

A Coreia do Sul é farta em iniciativas de outros ramos do cooperativismo, como é o caso do ramo de cooperativas de consumo. Um dos exemplos é a iCoop, criada em 1997 e que, em 2002, contava 11.645 membros. Dez anos depois, em 2012, a quantidade de associados já havia sido multiplicada em 13 vezes, tendo atingido 156 mil pessoas. Em 2019, este número já havia quase dobrado, chegando a 294 mil cooperados.

Conversão ao cooperativismo

A ascensão do cooperativisimo na Coreia do Sul não se deve unicamente à criação de novas organizações. Houve, também, um considerável crescimento na quantidade de empresas que se converteram do modelo tradicional ao modelo cooperativista após a aprovação da lei de 2012.

Dentre os exemplos de companhias que fizeram este movimento está a Happy Bridge, que deixou de ser uma empresa mercantilista convencional para se transformar numa cooperativa de trabalho. E a conversão se deu pouco tempo depois da aprovação da lei.

Com 94 membros fundadores, a Happy Bridge dá suporte a pessoas que querem empreender. A cooperativa criou um modelo de franquia de restaurantes e fornece aos associados treinamentos para administrar o negócio, assim como as receitas. Como contrapartida, os restaurantes compram as matérias primas necessárias à operação da cooperativa.

A conversão para o modelo cooperativista foi liderada pelos próprios fundadores originais da Happy Bridge. E todo o movimento foi bastante natural, pois os administradores do negócio perceberam que, sob o modelo cooperativista, poderiam escalar ainda mais o já bem sucedido modelo de negócios então vigente.

E a percepção estava correta, pois apenas cinco anos após a conversa as vendas dobraram, chegando a US$ 53 milhões.

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Gustavo Mendes
Gustavo Mendes
Cofundador da Coonecta, especialista em curadoria de conteúdo para educação corporativa e marketing de conteúdo, palestrante e mentor em: inovação, cooperativismo de plataforma, cooptechs e empreendedorismo cooperativo