Cooperativas de moda promovem sustentabilidade e trabalho digno

Ela está em todos os lugares: na roupa que vestimos, na bolsa que carregamos, no tênis favorito que não tiramos do pé. A indústria da moda tem um papel relevante no mercado e faz parte do nosso cotidiano. Afinal, é por meio de roupas, sapatos, acessórios e outros vestuários que nos expressamos. As cooperativas de moda também fazem parte desse universo fashion. 

Desde a escolha da cor até a marca da roupa que usamos, a moda é um carimbo de identidade e cultura. Por conta disso, é uma das maiores e mais influentes economias do mundo.

As cooperativas não poderiam ficar de fora das diversas possibilidades que esse mercado oferece. O cooperativismo está na moda – no sentido literal da expressão. O modelo cooperativista já atua nesse ramo, trazendo mais sustentabilidade e melhores condições de trabalho para essa indústria que, apesar de importante, tem muitas controvérsias.

Desafios da indústria da moda

Por ser tão presente no nosso dia a dia, a indústria da moda é uma das maiores e mais consolidadas do mercado. Mas, apesar da relevância, essa indústria é conhecida pelos danos ao meio ambiente e pela falta de respeito aos direitos trabalhistas.

Segundo GFA Monitor Update 2024, um levantamento da Global Fashion Agenda (GFA) que atua para promover a sustentabilidade na moda, a indústria é responsável por 1,8% a 4% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE). Vale ressaltar que os GEE estão entre as principais causas do aquecimento global. 

Além disso, o relatório aponta que apenas 2% das marcas entrevistadas comprovam pagar um salário digno a todos os seus funcionários diretos. E quando o assunto é salário digno, somente 25% das empresas compartilham os parâmetros ou metodologias que utilizam para essa definição.

Ou seja, a maior parte da indústria não tem uma definição clara do que seria um pagamento justo aos seus colaboradores, tampouco informa se esses salários dignos estão sendo efetivamente pagos.

Mas é possível construir uma indústria da moda mais justa e sustentável. É com esse objetivo, portanto, que as cooperativas de moda têm criado um modelo alternativo para a confecção de vestuários, valorizando os cooperados, colaboradores e o meio ambiente.

Cooperativas de moda oferecem mais sustentabilidade

Diversas cooperativas de moda já se destacam por colocarem em prática uma forma mais sustentável de produção. Tanto no Brasil, quanto no exterior, essas cooperativas representam uma possibilidade de mercado que respeita os colaboradores, a natureza e a cultura local. 

Manos del Uruguay: colaborando com gigantes

Divulgação: Manos Del Uruguay

Fundada em 1968, a Manos del Uruguay surgiu com a missão de gerar oportunidades de trabalho e renda para mulheres artesãs em regiões rurais, utilizando a lã local de alta qualidade como principal matéria-prima. Até então, a economia local dependia somente da agricultura de subsistência.

Hoje, a Manos del Uruguay se organiza em uma estrutura de 12 cooperativas. Cada uma delas é uma oficina de costura localizada em algum pequeno vilarejo no interior do Uruguai. Desse modo, as artesãs são as donas do negócio. A Manos del Uruguay é membro da World Fair Trade Organization (WFTO) desde 2009. 

A produção da cooperativa de moda é toda tingida à mão, utilizando chaleiras de madeira. Graças a esse processo artesanal, cada peça é única. “Manter vivas as habilidades tradicionais de fiação manual é muito importante para nós e nos permite criar fios exclusivos e bonitos”, descreve a cooperativa em seu site. 

Graças ao alto padrão de qualidade, a Manos del Uriguay fornece serviços para marcas reconhecidas globalmente, como Polo Ralph Lauren, Marc Jacobs, Ulla Johnson, Gabriela Hearst, Coach, Dries Van Notten e Stella McCartney, por exemplo.

Justa Trama: moda agroecológica

Reprodução: Justa Trama

A Justa Trama mostra que é possível ter um negócio sustentável, que protege o meio ambiente e gera renda sem exploração do trabalho. A marca surgiu da união entre a Cooperativa de Costureiras Unidas Venceremos (Univens), que reúne mulheres costureiras de Porto Alegre (RS), com produtores de algodão, tecelões e produtores de adereços. 

Reunindo cerca de 700 cooperados de diferentes estados do Brasil, a cooperativa de moda desenvolve peças únicas em algodão agroecológico – um tipo de algodão que é cultivado visando a sustentabilidade e qualidade do solo. Assim sendo, agricultores, fiadores, tecedores, costureiras e outros profissionais se unem para a construção de um comércio de moda justo.

Por meio da união de cooperativas, e da criação de uma economia solidária, os trabalhadores têm a garantia de um salário e trabalho digno, fazendo parte da indústria da moda com maior autonomia.

Bordana: inclusão é fashion

Divulgação: Bordana

Fundada para promover a inclusão social e econômica de trabalhadores artesãos, além de compartilhar a cultura do Cerrado com o mundo, a Bordana é uma cooperativa de bordadeiras que atua na produção artesanal do Cerrado Goiano.

“Em cada gesto coletivo, contribuímos para o fortalecimento e crescimento do cooperativismo, cultivando um futuro mais justo e próspero para todos”, afirma o site oficial da cooperativa de moda.

A Bordana produz peças exclusivas com bordados que contêm símbolos do Bioma Cerrado, como ipês e araras-azuis, fomentando a economia e valorizando a cultura local.

Graças ao trabalho de qualidade, a cooperativa de moda já foi amplamente reconhecida. A Bordana levou para casa em 2016 e 2022 o prêmio Top 100 de Artesanato do SEBRAE. A cooperativa também foi convidada, em 2018, a participar do São Paulo Fashion Week, maior evento de moda do Brasil, em uma parceria com o Movimento Sou de Algodão e o estilista João Pimenta.

Fundada em 6 de agosto de 2011, a Bordana não apenas produz arte, mas ressignifica o trabalho da moda ao agregar valor às criações dos artesãos, aumentando a autoestima dos cooperados e construindo uma indústria mais digna. 

Cooperárvore: economia circular

Instagram: @cooperarvore

Liderada por mulheres de Betim, Minas Gerais, a Cooperárvore une o cooperativismo e a sustentabilidade para uma produção de moda à base de reciclagem e reutilização. 

Fundada em 2006 por 12 cooperadas, a marca produz seu catálogo usando resíduos industriais automotivos. São mais de 150 produtos ecológicos oferecidos em sua loja, como sacolas, nécessaires e camisetas customizadas.

O objetivo é aumentar a sustentabilidade e reduzir os impactos ambientais na indústria têxtil. Em quase 20 anos de existência, a cooperativa já reaproveitou mais de 37 toneladas de materiais recicláveis.

Além dos benefícios ao meio ambiente, a Cooperárvore impulsiona a economia local, gerando renda e liberdade financeira para seus cooperados. Atualmente, são mais de 50 associados que produzem cerca de 10 mil peças ao ano. O projeto representa um case de sucesso de inovação e empreendedorismo.

Cooperativas de moda e a arte de cooperar

Esses casos mostram como as cooperativas de moda trazem condições de trabalho mais justas para o mercado, abrindo espaço para maior criatividade e originalidade dos trabalhadores. É dentro de instituições que valorizam os colaboradores que a arte tem espaço para crescimento.

As cooperativas de moda também geram menos impacto ambiental, pois priorizam a sustentabilidade como um dos pilares na produção. Outro benefício é a garantia de uma maior diversidade cultural na moda, com a inclusão de produtores, materiais e símbolos locais.

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