ESG no cooperativismo de crédito: cenário é positivo, mas precisa evoluir

A onda ESG, a essa altura, já se tornou um tsunami. Impulsionada ainda mais pela pandemia, a agenda de preocupação ambiental, social e de governança vem se tornando protagonista no planejamento estratégico de diversos setores da economia. E o cooperativismo de crédito não está alheio a essa tendência.

O conceito de ESG não é algo novo para o cooperativismo, desde muito antes de o termo sequer existir. Em seus princípios, o modelo cooperativista já é praticado implementando ideias de sustentabilidade.

O ESG no cooperativismo é exercido por meio da economia solidária, livre participação econômica dos membros, preocupação com o desenvolvimento das comunidades e colaboração entre associados. 

A formulação do ESG

O termo ESG como o conhecemos hoje foi formulado em 2004, pela organização Pacto Global e o Banco Mundial. A sigla significa:

  • Environment: sustentabilidade ambiental
  • Social: responsabilidade social
  • Governance: governança corporativa

Cada vez mais esses temas são alvo de preocupação das organizações. Há uma demanda crescente por práticas sustentáveis vinda tanto de investidores, colaboradores, consumidores e, como não poderia deixar de ser, cooperados.

ESG no cooperativismo de crédito

Diante do recrudescimento da agenda ESG, o mercado de crédito cumpre um papel de destaque na busca pela sustentabilidade. O Banco Central, que regulamenta todo o setor, incluindo as cooperativas de crédito, incluiu os princípios de responsabilidade ambiental, social e governança em seu planejamento estratégico.

O ESG também está se tornando um fator cada vez mais relevante durante a análise de crédito. Práticas sustentáveis contam pontos positivos para a concessão de recursos, pois representam uma vantagem competitiva nos negócios e, assim, o risco é menor. 

A partir desse cenário, a consultoria PwC elaborou um relatório que analisa o panorama ESG no cooperativismo de crédito. A pesquisa revela que a maioria dos dirigentes das cooperativas enxerga a importância de iniciativas sustentáveis para a perenização de suas instituições. Ao mesmo tempo, contudo, mais da metade das coops ainda não tem metas específicas de ESG.

  • 51%: pouco mais da metade das lideranças das cooperativas de crédito avaliam que o ESG é muito relevante para que sua instituição consiga atrair e reter cooperados.
  • 52%: Na maior parte dos casos, entretanto, os dirigentes afirmam que a coop em que atuam não definiram metas específicas para suas iniciativas ESG.

Ou seja: as cooperativas de crédito estão atentas à crescente demanda por práticas sustentáveis, mas ainda há um longo caminho para dar consistência institucional ao ESG. Confira outras descobertas do estudo!

Compromissos que partem dos cooperados

Elisa Simão, especialista no segmento de cooperativas de crédito da PwC e uma das autoras do estudo, argumenta que a consciência sobre os riscos climáticos foi potencializada durante o período de pandemia. 

“As cooperativas de crédito têm sido cada vez mais demandadas pelos seus cooperados e demais partes interessadas a se posicionar de forma concreta, rápida e transparente quanto a sua atuação em relação aos pilares ESG”, explica. 

E esse comportamento é corroborado pelos dados. Mais de 70% dos entrevistados notaram um aumento no interesse dos cooperados pela contratação de produtos e serviços relacionados ao ESG.

Embora, como vimos, menos da metade das coops estudadas tenham metas específicas para ESG, a maioria (76%) se manifesta publicamente alegando que têm compromissos sustentáveis. 

Aplicação do ESG no cooperativismo de crédito

Quase todas as cooperativas de crédito avaliadas pela consultoria (98%) levam em conta os riscos socioambientais na análise de crédito. Procedimentos dessa natureza são uma exigência do Banco Central, que aumentou ainda mais as regulações sobre o tema nos últimos anos. 

Em contrapartida, somente 72% das cooperativas de crédito analisadas têm mecanismos formais para monitorar as práticas socioambientais próprias e de seus cooperados. Essa proporção revela uma boa margem para melhorias nesse quesito. 

Produtos de incentivo

Ao todo, 78% dos dirigentes entrevistados alegam que suas cooperativas oferecem produtos financeiros que visam fomentar projetos socioambientais. 

Contudo, essa taxa tende a aumentar. Isso acontece porque dentre as cooperativas que ainda não ofertam esse tipo de linha de crédito, 100% avaliam incorporar novos produtos que se relacionam ao ESG. 

Educação financeira: a face social do ESG no cooperativismo de crédito

Levando em consideração o caráter social das medidas ESG, as cooperativas de crédito se destacam em relação às iniciativas de educação financeira para a comunidade. 

Dessa forma, as ações sociais mais praticadas pelas cooperativas de crédito, segundo seus dirigentes, são:

  • Educação financeira para a comunidade local (85%)
  • Inclusão financeira para pequenos negócios (61%)
  • Programa de diversidade e inclusão nos processos de contratação de funcionários (50%)
  • Inclusão digital para a comunidade local (26%)

Governança focada no risco

Já em relação à última letra do ESG, o estudo deixa evidente que a principal prática de governança das coops de crédito diz respeito ao gerenciamento de riscos. Ao todo, quatro em cada cinco cooperativas de crédito dispõem de medidas desse tipo.

Em contrapartida, políticas de integridade e anticorrupção ainda são tímidas – estão presentes em somente 37% das instituições. Ainda menor é a quantidade de cooperativas que possuem comitês de supervisão, apenas 35%.

Plano de ação

Então, o relatório da PwC ainda propõe um roteiro de três passos para integrar o ESG no cooperativismo de crédito. A consultoria recomenda que as coops:

  1. Incorporem os aspectos ESG a sua estratégia: as iniciativas devem envolver toda a cooperativa, incluindo aspectos como a escolha de fornecedores, recrutamento de colaboradores e seleção de cooperados. Tudo isso tem de estar alinhado ao propósito da coop, de forma que essas medidas melhorem sua reputação. 
  2. Usem dados para melhorar a transparência e a prestação de contas: é fundamental que as cooperativas consigam quantificar suas realizações ESG, de maneira a assegurar que estejam impactando positivamente a sociedade. Dados e métricas ajudam, ainda, a comunicar e divulgar as práticas.
  3. Tenha um plano de ações: as cooperativas não devem subestimar a importância de elaborar um planejamento com ações práticas vinculadas a metas e a um cronograma.

Conclusão

O ESG reflete não só os princípios que estão na raiz do cooperativismo, mas também atende as demandas de novas gerações, mais preocupadas com valores éticos e sustentáveis. 

Por causa disso, práticas ambientalmente responsáveis e socialmente engajadas proporcionam vantagem competitiva nos negócios. Afinal, o ESG no cooperativismo de crédito não é só uma onda passageira. 

Marcelo Colombari, líder de ESG da PwC e coautor do estudo, argumenta que as ações das cooperativas de crédito em prol do ambiente e da sociedade geram resultados positivos para todos.

“Adotar os pilares ESG na estratégia de negócio pode parecer ser um risco financeiro no curto prazo, mas não adotá-lo é um risco concreto de sobrevivência no médio e longo prazos. Quanto mais cedo as empresas se prepararem para enfrentar esse desafio, maiores as chances de sucesso”, alerta Colombari.

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