Cooptech Crédito 2024 discute presente e planeja futuro do cooperativismo financeiro

O Cooptech Crédito, evento dedicado à inovação e aos negócios do cooperativismo de crédito brasileiro, teve sua segunda edição. Organizado pela Coonecta, o Cooptech Crédito 2024 aconteceu nos dias 23 e 24 de maio na Amcham, em São Paulo.

O Cooptech Crédito 2024 apresentou diversos cases de sucesso de cooperativas, painéis que discutiram temas fundamentais para o desenvolvimento do setor e apresentações de especialistas de fora do cooperativismo que compartilharam perspectivas enriquecedoras sobre os negócios. 

Além disso, o Cooptech Crédito contou com uma estrutura diferente. No primeiro dia, as apresentações aconteceram em um palco único. No segundo, foram duas trilhas, uma focada nos desafios do presente e outra dedicada a discutir os caminhos para o futuro. 

Preparamos, então, um compilado com os principais destaques da programação do Cooptech Crédito 2024. Aproveite a leitura!

Plenária do Cooptech Crédito 2024: Inteligência artificial e ecossistema

A abertura oficial do Cooptech Crédito 2024 ficou a cargo de Gustavo Mendes, sócio e cofundador da Coonecta. Logo em seguida, o congresso já começou a abordar o assunto do momento: a inteligência artificial e seus impactos nos negócios do cooperativismo de crédito. 

Alessandro Faria, cofundador da Oiti Technologies (Crédito: Camila Menezes)

Alessandro Faria, cofundador da Oiti Technologies, mostrou que a inteligência artificial generativa não só é um futuro inevitável, mas já está moldando nosso presente. “A IA veio para ficar e atuará em todos os setores. Não interessa a função, todo mundo sofrerá a influência dela”, descreve Faria. 

Para ela, a IA é mais do que uma onda – é um tsunami que vai reconfigurar o mundo. Muitas profissões deixarão de existir enquanto tantas surgirão. Nesse cenário, quem entender como usar as novas ferramentas vai sair na frente. Para usar a IA, é necessário ter criatividade e extensão para calcular. A tecnologia não faz nada sozinha e precisa de um ser humano como piloto, afinal. 

Em seguida, a IA continuou no palco. Gesiel Gomes, gerente de tecnologia do Sicoob Credicitrus; Peterson Colares, superintendente de marketing da Central Ailos; e Rafael Souza, CEO da Ubots, discutiram as possibilidades de uso da inteligência artificial no cooperativismo de crédito. Daniel Guths, líder de IA do Sicredi Confederação, não pôde estar presente mas participou com uma mensagem gravada. 

Para os painelistas, a transformação digital é inevitável, porém o uso das inovações precisa ter propósito. Não adianta usar a tecnologia pela tecnologia, ela tem que agregar valor à cooperativa. “Além de tecnologia, é preciso entender mais de negócios. A IA não entende de negócios, as pessoas sim”, disse Gomes. 

Lidando com cooperados 

Sem deixar a febre do momento de lado, Rodrigo Tavares, que é vice-presidente sênior de Customer Experience da RecargaPay, falou sobre a experiência do cliente e o uso de inteligência artificial. 

“As pessoas têm o poder e a informação na mão. O consumidor tem uma barreira zero para experimentar serviços, mas também tem uma barreira zero para abandoná-los. O que vai fazer o cliente ficar? A experiência”, explica. 

Para ele, nem mesmo os líderes que lidam com a experiência do cliente ainda sabem como a IA vai impactar a área. Por enquanto, a expectativa é grande, mas os caminhos ainda não são claros. “É importante ter parcimônia e cuidado. Cada negócio tem que definir qual nível de automação é o certo. Se para o teu negócio não faz sentido usar AI, não use”, aconselha. 

Concorrência e gestão

Alberto Moeller, diretor executivo da Unicred Valor Capital; Walmir Segatto, CEO do Sicoob Credicitrus; Vilmar Saúgo, diretor executivo do Sicoob Credisul; e Mario Nei Paccagnan, especialista em transformação e aceleração de negócios; debateram formas de  evitar a concorrência predatória entre cooperativas de crédito. 

Para Moeller, “temos que nos fortalecer e ter um pensamento sistêmico. Creio que o próximo passo é a intercooperação”. Os painelistas acreditam que essa discussão precisa levar em conta a necessidade de expandir os negócios. “Não dá mais para ser pequeno no sistema financeiro”, crê Vilmar. 

Depois disso, foi a hora de André Rezek e Richard Oliveira, da Faciltech, conversarem com Douglas Cirilo, superintendente da Federação Nacional das Cooperativas de Crédito (FNCC) sobre os desafios e estratégias da gestão das cooperativas independentes. 

Miriam Cechin da Silva, diretora superintendente do Banricoop, deixou uma mensagem gravada sobre como a cooperativa aprimorou sua gestão com apoio da Faciltech. 

Inovação em foco

Chegando à reta final da plenária, Rodrigoh Henriques, diretor de inovação e estratégia da Fenasbac, apresentou um panorama sobre as iniciativas de inovação e competitividade do Bacen. Rodrigo questionou qual é o papel do regulador no mundo de hoje, em um contexto de inteligência artificial, risco ambiental e ciberespaço. 

“O regulador precisa trabalhar de perto com agentes do mercado e arquiteturas tecnológicas novas. O que aparece de tecnológico precisa interessar ao regulador. A tecnologia se torna um ator não humano de regulação”, ele argumenta. Para ele, o Pix, por exemplo, é regulação, pois só é possível fazer o que o sistema do BC aprova. 

Ele discorreu sobre o papel do Banco Central nesse período de digitalização da economia. “O regulador precisa ser inovador? A inovação é inevitável, não é uma escolha individualizada.  O regulador também não pode ser barreira à inovação. Não posso parar a sociedade. Posso ser um agente catalisador da inovação porque posso promover ganho de rede”, complementou. 

Para encerrar o dia, Guilherme Souza Costa, gerente do Núcleo de Inteligência e Inovação do Sistema OCB, apresentou os resultados da segunda pesquisa de inovação no cooperativismo brasileiro com um recorte das cooperativas de crédito. 

Guilherme Souza Costa no Cooptech Crédito 2024 (Créditos: Camila Menezes)

Cooptech Crédito 2024: cuidar do presente

No segundo dia de Cooptech Crédito, o público foi dividido em duas trilhas. Em uma delas, a azul, o tema foi “Cuidar do Presente”. Quem abriu os trabalhos neste palco foi Rogério Machado, diretor executivo da Sicredi Dexis, que contou como a cooperativa executou sua estratégia de expansão com direito a mudança de marca. 

“Investimos muito forte em formação e desenvolvimento. A gente precisava se organizar em atendimento e qualidade. Tirando o foco do produto e colocando no associado, ele já se sentiu mais valioso”, explicou ao contar o processo de transformação da cooperativa. 

Ainda falando em crescimento, Luís Carlos Krupp, CEO da Zixbe, palestrou sobre o growth em cooperativas. Para ele, a receita está na tríade formada por pessoas, processos e tecnologia. Nesse processo, não se deve “confundir growth de verdade com growth de vaidade”, aponta. 

Thiago Silva, da Nextios, mostrou que a tecnologia pode ser uma grande aliada da sustentabilidade e explicou como a nuvem pode impulsionar a agenda ESG. “A transparência é um fator muito importante para a governança. A nuvem ajuda ainda a reduzir carbono, contribui para a circularidade de recursos eletrônicos”, argumenta. 

O digital já é agora

Peterson Colares, da Central Ailos, se juntou com Jorge Iglesias, CEO da Topaz, e Marco Cester, diretor de desenvolvimento de negócios da Topaz, para contar como foi a jornada de transformação digital da Ailos. “Transformação vai muito além de mexer em tecnologia”, explica Colares.

Não adianta ter super tecnologia se a gente pensar de maneira ultrapassada. Temos que estar no passo do mercado, senão não conseguimos atender o que está em nosso planejamento”, ele acrescenta. A Ailos está em processo de implementação de um novo core, mas moderno, rápido e integrado. 

“O core tem que ser o grande habilitador para o futuro. São mudanças estruturantes. É importante que isso esteja muito vinculado à transformação digital”, complementa Iglesias. 

Dando sequência ao Cooptech Crédito 2024, Bruno Businaro, analista de governança do Sicoob Credicitrus, contou como a cooperativa envolveu mais de 56 mil cooperados em sua assembleia digital. A digitalização assemblear da cooperativa começou como uma resposta à pandemia e virou case de sucesso em participação democrática.

Após abolir a votação por delegados e utilizar o aplicativo Sicoob Moob, a Credicitrus chegou, em 2024, a quase 68 mil cooperados votantes. Esse número equivale a mais de 40% do quadro social.  

A receita do sucesso tem três ingredientes: relacionamento com o cooperado, engajamento dos colaboradores e tecnologia. “A nossa meta principal é atingir 100% dos cooperados. É audacioso? Sim. Mas não é impossível”, conclui Businaro.

Foco no impacto 

O outsider Augusto Massena contou a história da Dobra, que mostra como os produtos são ferramentas para chegar a um propósito. O negócio nasceu em 2016, a partir da insatisfação com o atendimento online. Ao apostar em uma forma humanizada de atender, produzir e trabalhar, a Dobra se tornou uma referência nos ambientes digitais com seu catálogo de carteiras e capas de eletrônicos, dentre outros produtos. 

A Dobra não tem estoque e produz todos os seus produtos sob demanda com apoio de costureiras locais e levando o conceito de ciclo fechado, em que tudo, até mesmo a embalagem, tem alguma utilidade. Após passar por dificuldades na pandemia, a Dobra repensou sua marca com foco em seus princípios. “O lucro é como oxigênio, precisamos dele para sobreviver, mas não vivemos só para lucrar. Os produtos são ferramentas para fazer as coisas legais que a gente acredita”, diz Massena. 

Em seguida, o palco azul do Cooptech Crédito 2024 contou com a participação de João Carlos Leite, presidente do Sicoob Sarom. Leite narrou como a cooperativa surgiu como uma resposta à falta de serviços bancários em São Roque de Minas. O impacto do Sicoob Sarom para a comunidade, no entanto, foi muito maior do que somente a bancarização.  

O apoio da cooperativa revitalizou a região com impactos positivos para a economia, o trabalho, a educação e a cultura. “São Roque de Minas saiu de agricultura de subsistência para empresarial. Hoje a cidade é portadora de diversos produtos, como leite e queijo. Antes não tinha trabalho, hoje falta gente pra trabalhar na cidade. Agora a nossa cafeicultura nossa é de excelência”.

Finanças abertas

Para encerrar a trilha sobre cuidar do presente no Cooptech Crédito 2024, Rodrigoh Henriques, da Fenasbac; Everaldo Oliveira, diretor de tecnologia da CrediSIS; Mateus Casanova Pereira, head de open finance e drex Unicred do Brasil; e Wagner Martin, vice presidente de desenvolvimento de negócios da Veritran discorreram sobre o papel do Open Finance na gestão das cooperativas. 

“O Banco Central olha para o futuro e diz qual é o papel dele na sociedade. O open finance faz parte disso. As instituições financeiras devem ser mais competitivas, dando opção para o cidadão”, diz Henriques.

Para Martin, “o Open Finance impacta fintechs, cooperativas regionais e bancos gigantes. Todos estão com o jogo empatado”. Nesse cenário, as cooperativas podem aproveitar a relação mais estreita que têm com seus cooperados. Por fim, Oliveira aponta que o grande desafio para fazer com que os cooperados compartilhem seus dados com a cooperativa é a comunicação.

Cooptech Crédito 2024: construir o futuro

Ainda no segundo dia, o Cooptech Crédito 2024 contou com a Sala Verde, ambiente focado em construir o futuro do cooperativismo. E é claro que os assuntos mais comentados durante as palestras giram em torno da inteligência artificial, inovação e cases de sucesso. É por isso que Mateus Casanova, da Unicred do Brasil, inaugurou a trilha falando sobre Open Finance. 

O palestrante detalhou a jornada da Unicred no Open Finance e revelou que a cooperativa dividiu o processo em nove fases. “Desde aquela época já tínhamos clareza dos benefícios que trariam adentrar em todas as fases, então desde o começo já nos preparamos para isso”, explicou.

Mateus ainda contou que, além dos desafios regulatórios e tecnológicos, a Unicred também enfrenta a dificuldade de explicar ao cooperado sobre as vantagens de compartilhar seus dados: “A partir do momento que o cooperado compartilha os dados, outras instituições têm acesso a ele também. Então precisamos ter um diferencial”, comentou.

Mateus Casanova, da Unicred do Brasil (Crédito: Camila Menezes)

IA e digitalização financeira

João Paulo Ross, da Premiersoft, e Luciano André Ribeiro, do Itaú Unibanco, focaram em mostrar a construção do futuro com a ajuda da Inteligência Artificial. João Paulo evidenciou a urgência de oferecer softwares ágeis, intuitivos e seguros. Segundo ele, a chave está na IAG, Inteligência Artificial Geral. Luciano, por sua vez, apresentou a iniciativa do Itaú na concessão de crédito. O palestrante explicou que o banco precisou contar com a ajuda da IA para processar inúmeros dados de forma ágil.

Luciano ainda refletiu sobre as vantagens que as IAs, em especial a generativa, podem trazer para o dia a dia de todos: “Não somos contra a IA, temos que estar juntos dela. Porque tudo que puder ser automatizado, será. Mas podemos ter super poderes com a ajuda dela”.

Inovar não é só utilizar a inteligência artificial, e Carlos Alberto Bianchi, do Sicoob Crediguaçu, Rodrigo Moraes, do Sicoob Central São Paulo, e Renato Rossi, da Lecom Tecnologia, provaram isso ao falarem sobre a digitalização de processos.

A conversa, mediada por Rodrigo Junqueira, da Nexum Tecnologia, focou na experiência de ambas as cooperativas, com a ajuda da tecnologia da Lecom, ao digitalizarem seus processos. Ao se depararem com inúmeros problemas, como a demora na concessão de crédito, as organizações buscaram alternativas tecnológicas.

No entanto, esses não foram os únicos obstáculos enfrentados, Carlos Alberto evidenciou a dificuldade de convencer a alta administração: “Você não consegue mensurar em um primeiro momento. Então, você precisa fazer com que eles acreditem em você”. Foi assim, e com reuniões semanais com gestores, que o Sicoob Crediguaçu e o Central São Paulo conseguiram implementar a digitalização de processos.

Cases de sucesso

A construção do futuro já começou e a Transpocred e a CooperJohnson fazem parte dessa mudança! Daniela Joao Montanari e Roberta Caldas, da Transpocred, apresentaram o case de sucesso da cooperativa: a expansão através da mudança de relação com o cooperado e do uso da tecnologia para atendê-los da melhor maneira. 

Com a inauguração da Unidade Móvel, que percorre os estados onde os cooperados estão, e da CrediCorreios, a Transpocred segue construindo uma relação humanizada com os associados. Além disso, a cooperativa oferece atendimentos sob rodas, em postos presenciais e digitais.

Assim como a Transpocred, a CooperJohnson está focada em trazer o melhor da tecnologia aos cooperados. Para isso, Ivo Lara e Paulo Lavezo contaram que a cooperativa independente focou em fazer uma grande transformação digital, enquanto buscava entender as tecnologias atuais e a gestão da inovação.

Segurança, inovação e parceria

Muito se fala da urgência da inovação, mas sem segurança digital inovar se torna uma prática arriscada. Glauco Sampaio, da Cielo, chamou a atenção dos presentes para a necessidade de se atentar à segurança das propostas inovadoras, visto que o Brasil é um dos países mais suscetíveis a ataques de hackers e tentativas de fraude.

O palestrante explicou que a mudança deve surgir de dentro para fora, com o entendimento das ameaças e problemas, a capacitação de desenvolvedores, e a dedicação de recursos. Glauco ainda deu algumas dicas para as cooperativas se manterem alertas para possíveis ameaças:

  • Treinamento de funcionários;
  • Técnicas de engenharia social;
  • Proteção em camadas;
  • Plano de resposta a incidentes.

“Mecanismos antifraude e de segurança deixaram de ser apenas uma obrigação e se tornaram um diferencial competitivo”, reflete Glauco.

Para finalizar o conteúdo da Sala Verde, Paula Thaís Cardozo, da Central Ailos, Anna Carlone, da Sicredi Dexis, Paulo Roberto Mondaini, do Sicoob Ouro Verde MT conversaram sobre a necessidade de incentivar a inovação aberta.Com a mediação de Bruno Rondani, da Open Startups, o trio evidenciou, por meio de cases de sucesso, os benefícios de parcerias entre cooperativas e startups. 

Além disso, Paula, Anna e Paulo chamaram a atenção para a urgência de fomentar a inovação dentro da cooperativa. “Como as pessoas vão pensar em uma solução inovadora se elas não tiverem um repertório disruptivo, não exercitem a criatividade. É preciso criar uma base para que as pessoas inovem”, explica Paula.

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