Cooptech 2022 destaca plataformas, criptoeconomia e gestão da inovação

O segundo dia do Cooptech 2022 seguiu apresentando e debatendo temas, ideias e cases em prol de incentivar um cooperativismo mais inovador. Neste ano, os dois eventos fizeram parte do WCM Expo e aconteceram simultaneamente, no Minascentro, em Belo Horizonte, nos dias 17 e 18 de outubro. 

Dentre os principais destaques das palestras e painéis, estiveram as plataformas, a adesão à economia digital e a convergência entre dois tipos de inovação. Por isso, separamos algumas tendências do segundo dia do Cooptech 2022. Confira agora!

Ascensão das plataformas democráticas

No Cooptech, Éder Lemke apresentou a cooperativa de plataforma Ciclos, criada com apoio da Sicoob Central ES. Lemke é CEO da Ciclos e e vice-presidente do Sicoob Coopermais. 

A plataforma foi criada em 2018, a partir de questionamentos acerca de como a cooperativa poderia estar mais presente na vida de seus associados. “A gente começa a colocar o associado no centro, olhando para ele. O que mais posso oferecer que faça parte da vida dele, da rotina dele? Aí que nasce a Ciclos”, explicou Lemke.

Éder Lemke, da Ciclos, no Cooptech 2022
Éder Lemke, CEO da Ciclos. Imagem: Camila Menezes

Inicialmente focada somente em cooperados do Sicoob, a Ciclos abriu o atendimento para o Brasil todo. Ela atua em três verticais, duas delas já disponíveis e uma em fase de desenvolvimento. São elas:

  • Telecomunicações: principal eixo de atuação da Ciclos, já contando com mais de vinte mil linhas – mais do que o total de 16 mil cooperados. A cooperativa iniciou, recentemente, uma parceria com o Sicoob Credisul, de Rondônia, para ampliar a oferta de serviços. 
  • Energia solar: por meio de duas usinas, a cooperativa atua no mercado de produção de energia e diminui a conta dos cooperados.
  • Saúde: ainda está em fase de análise, estudo e desenvolvimento.

“A Ciclos não nasceu como uma cooperativa de plataforma, mas como uma coop de infraestrutura e serviço, mas quando a gente começou a entender esse tema, a gente entendeu que éramos, sim, uma cooperativa de plataforma”, contou Lemke. A história da Ciclos já foi assunto no Radar da Inovação, confira!

AppJusto: negócio de impacto com ideias cooperativistas

O AppJusto foi outra plataforma que marcou presença entre as tendências do Cooptech 2022. Rogério Nogueira, fundador do AppJusto, falou sobre os desafios de escalar uma plataforma com propósito.

O AppJusto é um aplicativo de entregas que dá autonomia aos entregadores e restaurantes, enfrentando a precarização do trabalho ao mesmo tempo em que oferta melhores preços ao consumidor. Os valores mínimos para investir na startup por meio de um equity crowdfunding foram definidos para permitir que os trabalhadores possam ter, também, propriedade sobre o negócio. 

Rogério Nogueira, fundador do AppJusto, no Cooptech 2022
Rogério Nogueira, fundador do AppJusto. Imagem: Camila Menezes

Apesar de integrar o RadarCoop, o AppJusto é um negócio de impacto que não se constituiu como cooperativa. Contudo, o crescimento da plataforma “tem muito a ver com os princípios cooperativistas”, explicou Nogueira. “É mais do que app de entrega, mas também um movimento que une partes interessadas”. 

Um dos pontos para a disseminação do AppJusto está no efeito de rede por meio do engajamento de restaurantes, entregadores e consumidores. “O AppJusto é o maior caso real de comunidade”, argumentou o palestrante. 

Criptoeconomia e fintechs: cooperativismo no mercado financeiro digital

As criptomoedas representam um importante momento de disrupção nos mercados financeiros, apresentando novas lógicas e tecnologias rumo à descentralização. O Coffee Coin, da Minasul, mostra que as cooperativas também podem ser protagonistas da web 3.0.

O Coffee Coin é uma stablecoin – ou seja, um criptomoeda que, diferentemente do bitcoin e do ethereum, possui lastro em um bem tangível; no caso, o café. Como sua variação de preço é correlacionada ao preço da saca de café, a moeda é mais estável e segura.

“Nós tokenizamos o café. A Minasul o criou para fazer um novo mercado. Qualquer pessoa pode ser um fazendeiro virtual”, explicou o palestrante Luis Henrique Albinatti, diretor de Novos Negócios da cooperativa. 

“Juntamos o mundo do café, com todas regras, com o mundo das criptomoedas. Imagine uma rede de cooperativas trabalhando dessa forma?”, instigou Albinatti sobre o potencial da iniciativa.

Uma fintech cooperativa

Inovações financeiras também marcaram uma presença forte entre as tendências do Cooptech 2022. Outro exemplo foi o Woop, fintech desenvolvida pela cooperativa de crédito Sicredi. A história da iniciativa foi contada por Eduardo Corso, head de Digital Banking.

Eduardo Corso, head de Digital Banking do Sicredi, no Cooptech 2022
Eduardo Corso, head de Digital Banking do Sicredi. Imagem: Camila Menezes

A transformação digital da cooperativa passava por entender e antecipar as tendências do atendimento financeiro. “Juntamos pessoas com um único propósito, que era lançar um banco digital, com zero papel”, conta Corso.

Com o novo produto, a Sicredi conseguiu atingir um novo público. Para se ter uma ideia, 87% dos usuários do Woop não estavam previamente associados à Sicredi. Dessa forma, a coop conseguiu, ainda, evitar a migração de seus cooperados para outras soluções digitais que começaram a ganhar espaço no mercado.

Contudo, Corso reflete: “uma solução digital não é pra todo mundo”. Por isso, a transformação digital não pode se basear somente na troca da tecnologia.

Gestão da inovação: ambidestria, investimentos e parcerias

Gustavo Farias, analista de Inovação do Sistema OCB Nacional, apresentou o conceito de ambidestria organizacional. A ideia é que haja equilíbrio entre o investimento em inovações que dão sustentação aos negócios existentes e inovações disruptivas que exploram novas possibilidades.

Muitas organizações encaram o seguinte dilema: sustentar ou explorar? A resposta está no equilíbrio. 

Durante o processo de sustentação, a incerteza é baixa. No de exploração, por outro lado, há alta incerteza – e assim, há a chance do erro. Só que errar não é algo necessariamente ruim:

“Errar é necessário – o que eu preciso é errar melhor. Ou seja: testar, corrigir o rumo e melhorar o processo”, explicou. 

Farias deixou um recado importante sobre o tema: “a ambidestria é de difícil aplicação, demanda muito exercício e há um conceito fundamental: o futuro não se faz com tecnologia, mas com pessoas”. 

Alocação de recursos para inovação

O Painel “Alocação de recursos em projetos e programas de inovação: processos e estratégias” contou com a presença de representantes das cooperativas Minasul, Castrolanda Unicred Valor Capital e Sicoob Credicom.

Luis Felipe Saldanha, diretor administrativo financeiro da Unicred, reforçou que a inovação é mais humana do que tecnológica. “Se você não muda as cabeças das pessoas, a cultura, não adianta ter tecnologia de ponta. Inovação nem sempre está ligada à tecnologia”, explicou. “Uma readequação de processos já é algo inovador”.

Para Daniel Magalhães, representante da Sicoob Credicom, o cooperado deve estar no centro das decisões dos investimentos em inovação. “Nós nunca seremos um banco digital, mas seremos uma cooperativa na era digital”, argumenta. 

Uma solução encontrada pela Minasul foi a realização de pesquisas de satisfação periódicas, a fim de otimizar e redirecionar os investimentos, explicou José Marcos Rafael Magalhães, presidente da Minasul.

Inovação aberta

O último painel do Cooptech 2022 seguiu trazendo tendências. Em uma conversa sobre conexão com startups, os participantes falaram sobre os desafios e resultados da inovação aberta por meio da conexão com startups.

Painel de debate mediado por Dagoberto Trento (Innoscience) e as participações de Alexandra Rodrigues (Sicredi), Tiago Sartori (Sicoob Credicitrus) e Davi Pereira de Sotti (Cocamar). Imagem: Camila Menezes

Para Alexandra Rodrigues, especialista de Inovação no Sicredi, “inovação aberta é um legítimo ganha-ganha” para os envolvidos. Ela ainda dá uma dica para cooperativas que querem praticar o modelo: “sempre que forem fazer conexões com startups, mantenham registro das lições aprendidas”.

Já o Sicoob Credicitrus, representado pelo gerente de Inovação Tiago Sartori, se uniu ao Onovolab para implantar hubs de inovação em Ribeirão Preto e Bebedouro, no interior de São Paulo. Com essa parceria, a ideia é transformar culturalmente a Credicitrus. “A ideia do hub de inovação é democratizar a inovação”, disse Sartori.

Davi Pereira de Sotti, head de Inovação no Cocamar Labs, apontou a importância de construir um ecossistema de inovação. Para isso, a Cocamar faz hackathons e incentiva projetos de pesquisa acadêmica. 

Mais tendências do Cooptech 2022

O Cooptech 2022 foi palco para o lançamento do RadarCoop, um mapeamento inédito do ecossistema de inovação cooperativista.

Levando em conta que as cooperativas inovam com uma dinâmica diferente das empresas mercantis, o RadarCoop busca entender as dinâmicas do ecossistema cooperativista. Assim, é possível conhecer melhor esse ambiente e seus atores, gerar novas conexões e promover o adensamento do ecossistema.

Além disso, veja também as tendências do primeiro dia do Cooptech e do CooperaRH! Ecossistemas, transformação cultural e oportunidades nas plataformas foram alguns dos assuntos discutidos.

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