Segundo dia de WCM 2024 discute IA, transformações e empreendedorismo

O segundo e último dia de apresentações do WCM 2024 ocorreu nesta terça-feira (15), no Minascentro. Assim como na abertura, o congresso contou com palestras sobre liderança e estratégia no cooperativismo.

Mais de 20 apresentações diferentes foram distribuídas pelos quatro palcos (Mundo, 360, Cooptech e HR Coop). Além de profissionais com experiência no ramo dos negócios e do cooperativismo, personalidades como o filósofo Clóvis de Barros e o músico Carlinhos Brown colaboraram para o evento. Confira os destaques do dia de encerramento do WCM 2024.

Palco Mundo: empreendedorismo e conexões

O dia começou no Palco Mundo com a apresentação “Liderança e tomada de decisões estratégicas em um mundo incerto”, por Michael Flynn, Diretor de Educação Executiva na Trinity Business School, localizada em Dublin, capital da Irlanda.

Flynn indica que o Mundo VUCA (sigla em inglês para volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade) em que vivemos é um espaço com muitas oportunidades e ameaças. Em sua visão, as constantes mudanças não devem ser evitadas, e sim procuradas.

Para o diretor da Trinity Business School, a análise PESTEL se tornou uma forma antiga de pensar as estratégias empresariais. A nova abordagem é focada no ecossistema, na inovação e na mudança constante. Nesse cenário, o líder engloba competências e caráter, e é capaz de conduzir com propósito.

Construção de lideranças

Outro papel do líder é contribuir para a formação de novos profissionais que podem assumir posições de comando dentro da cooperativa. José Filipe trouxe mais detalhes sobre o tema em “Preparar Lideranças Para a Sucessão”.

Segundo o palestrante, um plano de sucessão necessariamente se relaciona com talentos internos. Os executivos devem planejar esse desenvolvimento, e ter ciência dos perigos inerentes a contratações externas para cargos de liderança.

Para José Filipe, um planejamento ideal de sucessão inclui avaliação de áreas e posições-chave, competências-chave, identificação de colaboradores que se adequem aos requisitos, aplicação do plano de desenvolvimento e análise de sua eficácia. Ele ainda atribui 70% da formação de líderes ao trabalho prático, 20% à interação com o time e 10% aos procedimentos institucionais convencionais.

Cooperativismo e conexões

A palestra “O caminho da conectividade: um horizonte para o movimento cooperativo na era digital”, com o professor de Estudos de Mídia na Universidade do Colorado Nathan Schneider, deu continuidade às atrações no Palco Mundo.

Schneider defende que a abordagem cooperativista precisa de transformações. Para ele, é necessário “virar o financiamento cooperativo de pernas para o ar”, com estratégias de capital para o topo do mercado. O professor também prega o desenvolvimento de políticas não limitadas por classe ou setor de cooperativas e a união em prol dos interesses do movimento. A apresentação seguinte foi de Clóvis de Barros, com “A vida que vale a pena ser vivida”. 

Empreendedorismo em pauta

O que é ser empreendedor? Muitos podem associar essa palavra a abrir uma empresa, mas seu significado vai além. Foi esse o assunto abordado pelos palestrantes Afonso Rocha (Superintendente do Sebrae), César Saut (Vice Presidente da Icatu-Seguros) e Xiomara Nuñez de Céspedes (Presidente do Comitê de Equidade de Gênero da Aliança Cooperativa Internacional) na penúltima apresentação do Palco Mundo.

Os especialistas consideram o cooperativismo extremamente conectado à atitude empreendedora, tendo em vista seu foco no desenvolvimento dos profissionais e da comunidade. A centralidade e o cuidado com as pessoas são trunfos do modelo.

O empreendimento cooperativo é uma alternativa real e de alto impacto, capaz de empoderar as comunidades e contribuir para um mundo melhor. As cooperativas podem funcionar como rede de apoio – especialmente para as mulheres, que enfrentam problemas específicos no mundo corporativo –, ter planos de capacitação e projetos de crédito justos. Outra possibilidade é que as associações acolham empreendedores em formação.

Após o encerramento do “Painel Somos Coop Empreendedorismo”, o músico Carlinhos Brown foi o responsável pela última apresentação do WCM. O cantor e compositor falou sobre “Música em Comunidade”.

Cooptech: crescimento, IA e blockchain

A transformação digital não é mais novidade, segue em curso e atinge cada vez mais pessoas. Entretanto, é possível acelerá-la ainda mais dentro do Brasil. Foi sobre isso a primeira palestra do dia no Cooptech, ministrada por Luis Felipe Monteiro, ex-Secretário de Governo Digital do Brasil e Idealizador do gov.br

Segundo a pesquisa TIC Domicílios 2023, 84% da população brasileira acessa a internet (156 milhões de pessoas, quarto maior número do planeta). Monteiro defende políticas públicas para integrar os outros 16%, e identifica os países do bloco OCDE como um bom referencial para comparação.

O palestrante sugeriu um diagnóstico digital que, em sua avaliação, pode ajudar as cooperativas. Para Monteiro, crescer no mundo virtual demanda visão clara com metas, equipe focada na entrega e apaixonada por problemas, plataformas compartilhadas e entrega constante.

Necessidade de crescimento

“Ou um negócio está crescendo ou está morrendo. Não existe estabilidade”. Esta ideia definiu a segunda apresentação do palco: “Growth em cooperativas: crescimento por meio de pessoas, processos e tecnologia”, por Luís Carlos Krupp, CEO da Zixbe.

O executivo ressaltou que o cooperativismo está conectado ao crescimento, e que este não necessariamente precisa corresponder à ideia de capitalismo agressivo. Inovações incrementais podem ser mais importantes para a sustentação de um negócio que as disruptivas, levando a um growth real e não de vaidade.

Como proporcionar boas experiências ao cooperado

O cooperativismo é um modelo que se diferencia das empresas tradicionais pela participação do cooperado em assembleias e tomada de decisões. Entretanto, como proporcionar uma experiência que se adeque a todos os associados? Foi sobre isso que Walmir Segatto, CEO do Sicoob Credicitrus, e Frederico Peret, Diretor-presidente da Unimed BH, falaram no Palco Mundo, com mediação de Ismael Paiva dos Santos, Coordenador de Inovação da Coopersystem.

Pela experiência de Peret, os modelos híbridos de assembleia surgiram como necessidade, mas se tornaram prática permanente. Os custos diminuíram e a participação aumentou após as mudanças forçadas pela pandemia. Já Segatto ressaltou a importância de levar a cooperativa para diferentes públicos, onde quer que eles estejam. O associado mais jovem da Sicoob Credicitrus opta por serviços simples, diretos e sem encontros, enquanto outra parcela prefere assembleias presenciais.

Segatto enfatiza a necessidade de as cooperativas melhorarem sua comunicação para alcançar participação efetiva, deixando assim de “pregar para convertido”. A Unimed BH, de Peret, aposta em fóruns de ideias 100% virtuais antes de assembleias, e mecanismos de divulgação e encontro com grupos de cooperados.

Outra palestra com foco na relação entre cooperativa e cooperado foi ministrada logo na sequência por Alan Constâncio, CEO da Betta Global Partner. O executivo diferenciou a jornada do cliente, focada na transação, e a jornada do associado, pensada a longo prazo.

Segundo Constâncio, existem quatro etapas na jornada do cooperado: descoberta, engajamento, uso do serviço e feedback e melhoria. Com uma aplicação eficiente desses passos, alcança-se o engajamento e a fidelização.

IA no cooperativismo

Inteligência artificial é um tema amplamente discutido no meio corporativo atualmente. Entretanto, o assunto não é novidade para algumas cooperativas, e isso foi mostrado ao público em apresentação com Marcela Pieri (Coordenadora de Novas Estratégias da Unimed BH), Nelmo Aquino (Gerente de Soluções Corporativas na Credicom) e Daniel Guths (Gerente de Cognição e IA do Sicredi Confederação), mediada por Rafael Souza (CEO da Ubots).

Pieri contou que a IA é abordada estrategicamente na Unimed há anos, e que a cooperativa tem diretrizes claras de onde aplicá-la. O foco está em processos regulatórios. As tecnologias passaram a ser integradas à jornada do cliente, facilitando seu atendimento.

A Sicredi também utiliza IA no atendimento. Guths coloca a plataforma “Theo”, assistente virtual lançado pela cooperativa em 2018, como fundamental para os processos. A tecnologia foi sendo aprimorada ao longo dos anos e, até agosto de 2024, fez 6,4 milhões de atendimentos sem necessidade de ajuda humana. Isso gera economia de recursos – 1.500 novos colaboradores seriam necessários para lidar com tal demanda.

Outras aplicações da IA no setor vêm da Credicom. A cooperativa de crédito utiliza chatbots para auxiliar no atendimento, automatiza processos e recorre à IA generativa Copilot, da Microsoft.

Contudo, ideias modernas e ligadas à inteligência artificial não são garantia de sucesso. “Nem toda hipótese se comprova, é necessário testar”, pondera Pieri. Os palestrantes ainda destacaram tópicos a se monitorar no futuro, como cibersegurança, personalização e regulamentação de IA.

Identificando tendências e febres passageiras no meio digital

Tecnologias avançadas, IA, revolução digital… Termos e conceitos populares e claramente importantes para qualquer empresa ou cooperativa na atualidade. Entretanto, o que é apenas “hype” e o que é de fato tendência? Wagner Martin, VP of Corporate Affairs da Veritran Brasil, e Adriano Alberto Silva, Superintendente de Negócios da Unimed Federação Minas, explicaram. Tiago Sartori, Superintendente de estratégia e inovação da Sicoob Credisul, mediou a apresentação.

Para Martin, as tecnologias mais úteis são aquelas centradas no usuário, que facilitam sua vida. “Esse é o momento de as cooperativas aderirem” às formas simples de operação usadas por bancos e fintechs, segundo o executivo. Em sua análise, as inovações financeiras terão velocidade de adoção superior a automação, robotização e afins.

Silva salienta que não há uma data marcada para a revolução digital ocorrer, e que, portanto, a cooperativa precisa estar atenta aos sinais do mercado. Para ele, é necessário que a digitalização venha acompanhada de uma transformação cultural, de forma a acostumar o beneficiário com as novidades.

“As jornadas não são mais físicas”, detalha Martin. É necessário estar atento às tendências de seu público. O executivo da Veritran Brasil exemplifica: enquanto os mais jovens buscam soluções à palma da mão e preferem tela escura, letras menores e jornada mais fluída, a população acima de 50 anos se dá melhor com tela branca, mais iluminação e letras maiores.

Blockchain no cooperativismo 

Outra tecnologia em voga na atualidade foi abordada no WCM: o blockchain. Fernando Lucindo, fundador do escritório Fernando Lucindo Advogados, foi o responsável pela última apresentação do palco Cooptech.

Blockchain é uma tecnologia que funciona como um livro razão digital que armazena dados e registros criptografados e protegidos contra alterações. Com ele, é possível gerar contratos inteligentes programados, transformando as transações – passam a deixar de contar com um intermediário e se tornam p2p.

O avanço do blockchain implica na popularização dos tokens, que são representações digitais de ativos ou valores – como fichas digitais. Cooperativas de crédito estão inseridas no movimento de tokenização ao participarem de testes do Drex, o Real Digital. Os tokens também podem ser utilizados para rastrear a cadeia de um produto agropecuário, por exemplo.

HR Coop: formação e transformação

A primeira palestra do palco focado em gestão de pessoas e liderança abordou relações colaborativas e explicou como construí-las de maneira efetiva. Paulo Vinícius Souza, CEO da Team Building Brasil, foi o responsável pela apresentação.

Para Souza, há três pilares na convivência com o colaborador: conversar, conviver e construir. Conversar tem a ver com abertura e empatia. Conviver é aceitar as diferenças e formar um senso de pertencimento. E construir é sobre colocar-se à disposição, elaborar planos e focar no bem comum.

O palestrante ainda forneceu dicas sobre como constituir uma relação colaborativa com segurança psicológica. Segundo Souza, clareza, cultura e norteadores, bons rituais, eventos, valorização da aprendizagem e celebração ajudam a fortalecer a conexão.

Dificuldades de implementação de práticas ESG

Sabe-se que o movimento ESG tem ganhado força no mundo corporativo. Entretanto, mudar hábitos e processos gera resistência. E foi justamente esse o tema da segunda palestra no palco, apresentada por Natalia Fernandes Carr (Gerente ESG da Cooxupé), Rogério Machado (Diretor executivo da Sicredi Dexis) e Joberson Silva (Gerente Departamento de Recursos Humanos na C.Vale). Rodrigo Casagrande, Conselheiro de Administração e Professor autor da disciplina ESG do MBA da FGV, foi o mediador.

Fernandes e Machado relataram dificuldades para implementar novas práticas. No caso da Cooxupé, foi necessário realizar planejamento estratégico, envolver todos os setores da cooperativa e comunicar-se com o agricultor, que em parte entendeu o movimento de sustentabilidade como uma decisão política. Já a Sicredi Dexis optou por avançar na direção ESG sem dar esse nome às medidas, de forma a reduzir a resistência.

Em relação ao incentivo do quinto princípio cooperativista (educação, formação e informação) sob o prisma das práticas sustentáveis, Silva destaca a importância da transparência com o cooperado, e que ele deve ser o fio condutor para falar de ESG. Fernandes conta que a Cooxupé possui um Núcleo de Educação Ambiental para crianças e adolescentes, mas que há dificuldade em encontrar associados interessados no tema.

Transformações profissionais e culturais

As competências digitais tornam-se cada vez mais preponderantes em um mundo conectado, e isso exige requalificação por parte dos trabalhadores. Quem apresentou mais detalhes sobre esse assunto foi Matteo Rizzi, cofundador do FTSGroup.eu, com mediação de Sérgio Itamar, professor da UniCuritiba.

Rizzi defende que a universidade não é capaz de suprir todas as necessidades do mundo capitalista, e que os alunos deveriam aprender além do conteúdo teórico. “Talvez o cooperativismo seja o melhor modelo para o desenvolvimento de talentos”, acrescentou.

Educar possui papel fundamental no estabelecimento da cultura de uma cooperativa. “Acredito que nada no mundo vai substituir a educação”, disse Fágner Capobiango, Diretor Administrativo da Coopertran LTDA, na palestra seguinte do palco HR Coop. Participou junto com ele Márcia Mello, Consultora de Gestão de Pessoas do Sicredi Confederação.

Mello e Capobiango deram dicas sobre como espalhar a cultura do cooperativismo. A consultora do Sicredi Confederação defende que é necessário entender sua essência e praticar o que é falado. Já o diretor da Coopertran reforça a necessidade de ter como missão fazer o bem ao cooperado e à comunidade em que ele está inserido.

Avaliação de desempenho sustentável

Práticas ESG são pauta recorrente. Conhecer os ideais, no entanto, é bem diferente de colocá-los em prática. Avaliar como sua cooperativa está desempenhando de forma sustentável é fundamental, e foi esse o recorte da apresentação de Vinícius Santana, sócio e CSO da AURICA.

O trabalho sustentável da AURICA cumpre quatro passos: diagnóstico, prioridade, monitoramento e produção de relatório. A plataforma ESG da startup é online, apresenta um histórico de dados consolidados e conta com um relatório automático.

Vantagens competitivas diante de força de trabalho mais experiente

O envelhecimento da população brasileira gera mudanças no mercado de trabalho. A população com 65 ou mais anos de idade aumentou 57,4% entre 2010 e 2022, segundo o Censo. Com parte considerável desse público precisando de renda extra, como atraí-lo e mantê-lo como colaborador? Foi sobre isso que Deise Bianca Fiorelli, Especialista de Negócios Corporativos do Cooprev, falou no HR Coop.

Segundo Fiorelli, esse movimento na sociedade deve inspirar ações voltadas à retenção de talentos maduros, mentoria, saúde e bem-estar. O cenário impõe desafios às cooperativas, como adaptações das culturas organizacionais e aumento do apoio de saúde, mas também oportunidades, como diversidade e crescimento em produtividade e inovação.

Neste mercado, empresas que oferecem bem-estar financeiro aos colaboradores têm vantagem competitiva. As organizações mais desejadas para se trabalhar são aquelas que proporcionam previdência privada, previdência corporativa e outras vantagens financeiras.

Equilíbrio para formar novos líderes

A última atração do palco HR Coop retomou alguns temas citados ao longo do WCM 2024. Quem trouxe novas perspectivas foi Mirlannie Henrique, instrutora e palestrante, e Helena Bruziguessi, Coordenadora de Gestão de Pessoas da Sicoob Central Crediminas. Fernanda Chidem, Diretora e Educadora da Cooperativa Coletiva, mediou a conversa.

Mirlannie Henrique abordou a necessidade de equilíbrio no ambiente corporativo, tanto no aspecto de gênero – com mulheres encontrando dificuldades para chegar a posições de liderança – quanto no etário. Sobre esse ponto, Bruziguessi valorizou a presença de colaboradores mais velhos, que podem “apadrinhar” e ensinar os mais novos.

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